terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tragédia em Santa Maria



O incêndio que ocorreu na boate Kiss, em Santa Maria/RS, em 26/01/13, é uma tragédia que choca os brasileiros e trás um enorme sofrimento aos familiares, amigos, professores e conhecidos das vítimas. Quantas histórias de vida foram interrompidas, quantos talentos foram desperdiçados, quanto sofrimento foi gerado? Imagino a consternação dos professores e colegas de turma ao votarem às aulas sem a presença de alguns dos alunos que deveriam estar lá. Qual é a dor de perder um filho que está apenas começando a vida adulta de uma forma tão trágica e inesperada? O pior é saber que tudo isso poderia ser evitado.

Advogados dos donos da boate classificaram o evento como uma fatalidade. É claro que alguns elementos se juntaram para que essa tragédia ocorresse, mas se as normas de segurança tivessem sido cumpridas, a madrugada de domingo seria apenas mais uma noite de festa para alguns e de sono tranquilo para outros, na cidade de Santa Maria.

De acordo com Ivan Ricardo Fernandes, engenheiro civil e capitão do Corpo de Bombeiros do Paraná, normas técnicas básicas de segurança contra incêndio deixaram de ser cumpridas como capacidade de lotação e número mínimo de saídas de emergência. Em uma tragédia nessas proporções, não é preciso ser especialista para saber que várias normas de segurança não foram cumpridas.

De fato, é trágico pensar que existe tanta burocracia no país, especialmente para abertura de um negócio, e tantas normas técnicas básicas não são seguidas nos mais diferentes segmentos e setores da nossa economia. Nos Estado Unidos, por exemplo, a quantidade de procedimentos burocráticos para abrir um negócio é consideravelmente menor e as normas são mais respeitadas.

O que essa tragédia traz a tona é que apesar da burocracia dificultar a abertura de negócios, aumentar os custos e reduzir o nível de investimentos, ela não funciona! Quantos potenciais empresários deixam de exercer suas habilidades pelo simples fato de existir uma burocracia excessiva? Quantos acabam exercendo suas atividades na informalidade, em condições mais precárias, pelo mesmo motivo? No final, todos os brasileiros perdem com isso.

O que funciona é reduzir a burocracia, tornar as regras e leis mais simples e fortalecer as instituições brasileiras para que a fiscalização seja mais eficiente e para que as empresas que não seguem as normas sejam penalizadas antes que fatalidades aconteçam. Além de aumentar a segurança de todos, instituições mais fortes estimulam o funcionamento dos mercados, incentivam os investimentos produtivos e promovem o desenvolvimento econômico.

Enquanto nossos gestores e formuladores de política econômica não perceberem isso, podemos apenas lamentar tragédias como essa e as pequenas tragédias que ocorrem todos os dias quando talentos são desperdiçados pelo excesso de burocracia e pelas fracas instituições. Particularmente, nesse momento só posso enviar meus sentimentos e desejar que as famílias, professores, colegas de turma e conhecidos das vítimas recebam muitas vibrações positivas para passarem por essa tragédia da melhor forma possível.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Parabéns São Paulo!

  Parabéns pelos 459 anos! Vale a pena ver a comparação do PIB da cidade feita pela Revista Exame caso fosse um país. O PIB do município está a frente de países como Malásia, Finlândia, Cingapura, Hong Kong, Portugal e Chile.

  Quando se compara com a Finlândia, o município tem mais do que o dobro de sua população, mas quando se compara com o Chile e Malásia, ele tem cerca de 65% e 38% da população desses países, respectivamente.

 É claro que muito da indústria paulista e brasileira, além de serviços importantes, concentram-se no município. No entanto, essa comparação mostra como é diferente a realidade brasileira quando se compara com esses países. Em economia, dimensão faz diferença e a minha impressão é que nunca se soube aproveitar essa vantagem no Brasil.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Muita gambiarra por nada


Dilma Rousseff inicia a segunda metade de seu mandato acossada por críticas, aqui e no exterior, às manobras que tem feito para cumprir metas e pôr a economia no rumo que considera adequado. A rocambolesca operação que ajudou o governo a “cumprir” sua meta fiscal de 2012 foi apenas o truque mais ousado; faz tempo que a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, lança mão de expedientes pouco convencionais para levantar o PIB, controlar a inflação, influenciar o câmbio, fechar as próprias contas etc. 

À parte o intenso debate entre os economistas que defendem o uso de ferramentas heterodoxas e aqueles que as atacam, resta uma constatação: apesar de todos os coe-lhos que Mantega tirou da cartola, o desempenho da economia nos dois primeiros anos de governo não teve nada de fantástico. Ou seja, o efeito de tanto “jeitinho” foi praticamente nulo.

“Essa nova matriz econômica dos últimos dois anos é um cobertor bem curto, em que cada medida produz um efeito colateral que exige outra medida. Na prática, o que colhemos? Inflação alta e crescimento muito baixo. O resultado até agora foi esse”, avalia a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.

Como não admite uma alta dos juros, o governo recorre a artifícios para segurar os preços, obrigando a Petrobras a vender gasolina abaixo do custo e reduzindo impostos aqui e ali. Agora Mantega tenta manejar a inflação na base da conversa, pedindo a prefeitos que adiem o reajuste das tarifas de ônibus e metrô.

“Empurrar a inflação meses à frente é inócuo, porque em algum momento ela virá. Para resolver de verdade, o governo teria de fazer reformas microeconômicas, desindexar um pouco a economia”, avalia João Basílio Pereima, chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná. “Ainda há muitos contratos com correção automática, o que retroalimenta a inflação.”
Credibilidade

A maioria dos economistas crê que estamos longe de uma “argentinização” da economia. Ao contrário do que ocorreu do lado de lá da fronteira, o IBGE não sofreu uma intervenção para calcular a inflação de modo mais conveniente, e ninguém é multado por divulgar estimativas diferentes das oficiais. Mas é fato que o Planalto perde credibilidade a cada “operação de alquimia”, como escreveu dias atrás o economista Delfim Netto, antes defensor quase incondicional da equipe econômica.

“Quanto menor a credibilidade do governo, mais difícil é convencer o setor privado a investir. Os empresários não têm mais a convicção de que as promessas de inflação na meta e crescimento forte serão cumpridas”, diz Luciano Nakabashi, professor de Economia da USP Ribeirão Preto. “Como o governo não tem recursos suficientes para investir, será mais difícil desamarrar os nós que dificultam o crescimento.”

Críticas
 
Ministro da Fazenda vai de “elfo vidente” a “expert em jeitinho”
Autor – ou pelo menos mensageiro – de grande parte das medidas econômicas do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem sido alvo preferencial de dois dos mais importantes veículos especializados em economia.

Em dezembro, a revista The Economist afirmou que os investidores estão perdendo a confiança no Brasil e sugeriu que a presidente Dilma Rousseff demitisse o ministro.

No fim daquele mês, o blog beyondbrics, do jornal Financial Times, colocou Mantega no papel de “elfo vidente”, por causa de suas previsões não confirmadas. Na semana passada, o mesmo blog o definiu como “especialista em jeitinho”.

Consequências
 
Medidas provocam distorções que exigem mais malabarismo
O problema das “gambiarras” da política econômica é que cada uma provoca distorções que exigem mais e mais criatividade do governo.

Ao agir para desvalorizar o real e ajudar os exportadores, por exemplo, o Planalto encareceu as importações. Isso agravou o prejuízo da Petrobras, que tem importado muito combustível para atender à demanda por gasolina – que cresceu porque, para conter a inflação, a estatal subsidia o produto.
 
“Os truques são totalmente inadequados, em todos os segmentos em que o governo tem insistido em se meter. Apenas aumentam as distorções e tiram o foco do que precisa ser feito”, avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Escolhendo vencedores nacionais


Desde 2006, o governo brasileiro vem utilizando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como um dos seus principais instrumentos de política econômica através de uma estratégia agressiva de financiamentos destinados à realização de investimentos produtivos dentro e fora do país. Os desembolsos do BNDES estavam em R$ 52,3 bilhões, em 2006, passando para R$ 168,4 bilhões, em 2010. Nos dois últimos anos ocorreram reduções nesses valores devido aos problemas econômicos enfrentados pelo país.

No entanto, ainda é clara a adoção dessa estratégia para tentar estimular o investimento e alavancar o crescimento econômico brasileiro. A ideia do governo é – além de estimular o nível de investimentos – criar grandes grupos nacionais que mantenham operações econômicas em vários países, ou seja, criar empresas brasileiras transnacionais. O maior exemplo é o grupo JBS Friboi, que em apenas sete anos passou de uma pequena empresa no interior de Goiás para uma das maiores empresas do mundo a operar na cadeia de proteína animal.

Quando olhamos para o grupo de países desenvolvidos, é evidente a força global de suas empresas. Portanto, existe uma relação entre fortalecimento das empresas nacionais e desenvolvimento econômico. No entanto, receio que essa relação de causalidade ocorra de forma mais relevante na direção do desenvolvimento econômico de um país para o fortalecimento de suas empresas. Um país obtém avanço econômico quando investe na formação de suas pessoas, em sua infraestrutura, no estabelecimento e garantia de regras claras que garantam o retorno dos investimentos realizados pelo setor privado, e quando o governo não asfixia os investidores com cargas tributárias elevadas e com excesso de procedimentos burocráticos. Assim, ele gera maior competitividade de todas as empresas nacionais e estimula os investimentos produtivos em capital físico, humano e tecnologia, o que acaba fortalecendo suas empresas.

Quando se adota uma estratégia de vencedores nacionais, o governo favorece alguns grupos econômicos que nem sempre são os mais eficientes e produtivos economicamente. Quando os investidores percebem isso, destinam recursos que poderiam ser produtivos em atividades que aumentam suas probabilidades de conseguir os mesmos benefícios sem produzir nenhum bem ou serviço, o que chamamos de atividades rent-seeking. O país passa a produzir menos com a mesma quantidade de recursos produtivos disponíveis.

É comum, por exemplo, observar que empresas contratam pessoas, montam escritórios, gastam com viagens a capitais apenas para estabelecer ligação com representantes do governo, com o objetivo de fazer pressão e obter favores e benefícios políticos. Quanto maior a influência do governo em relação à eficiência das empresas na determinação de seu sucesso econômico, maior será a quantidade de recursos destinados às atividades rent-seeking.

Outro efeito negativo é que, ao escolher alguns vencedores, as demais empresas perdem mercado interno para a empresa favorecida e são desestimuladas a realizar novos investimentos, a não ser que todo o ganho de mercado da empresa favorecida ocorra em outros países, o que não parece muito provável. Por fim, sem alterar as condições citadas anteriormente, será difícil que as escolhidas mantenham a competitividade sem a mão do governo.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Mansueto vs Mantega

  Muito bom esse post do Mansueto! Ele mostra os vários "truques" contábeis que a equipe econômica do governo Dilma vem fazendo para mascarar o baixo superávit primário. O que a equipe econômica vem fazendo só mostra a sua falta de transparência, pois é mais do que evidente que as metas de superávit primário já foram abandonadas...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Concursos para economistas

  As seguintes instituições estão com inscrições abertas para economistas em concursos públicos (ordem crescente de salário):

  1) Até 31/01/13 (Telebrás).

  2) Até 27/01/13 (BNDES).

  3) Até 23/01/13 (ABDI).

  4) Até 28/01/13 (Secretaria do Tesouro Nacional)

domingo, 6 de janeiro de 2013

Crescimento no longo prazo e a questão da causalidade

(Revista Fator 04/01/2013)

Um dos campos mais ativos na economia é aquele que trata do crescimento econômico no longo prazo. Existem várias teorias que apontam as suas causas fundamentais, mas ainda não existe um consenso sobre seu principal determinante.

Um dos grandes problemas é a relação de causalidade entre desenvolvimento econômico e as variáveis supostamente explicativas. Por exemplo, podemos argumentar que o investimento em educação formal é importante para estimular o aumento da renda, mas conforme um país fica mais rico, existem mais recursos para serem investidos no sistema educacional. Podemos ainda argumentar que além do investimento em educação, uma melhora da cultura que valoriza a honestidade e o trabalho também é benéfica para estimular a renda, mas essas duas variáveis estão entrelaçadas (educação e cultura).

De qualquer forma, o conhecimento evoluiu de forma considerável e hoje temos uma noção melhor dos elementos que afetam o crescimento econômico. Um fator fundamental é o conjunto de regras que restringem as possíveis ações econômicas e sociais dos agentes e em que grau elas são, de fato, válidas (probabilidade dos infratores serem penalizados). Em outras palavras, as regras do jogo, denominadas instituições formais. Uma delas é o direito à propriedade privada, que afeta o retorno dos agentes e, portanto, o montante de investimentos privados em capital físico, capital humano e na adoção de novas tecnologias, além de estimular maior eficiência econômica.

Outro elemento destacado na literatura é o capital humano, que vai além da educação formal e é fundamental no processo do crescimento. Ele depende de ações governamentais e das próprias instituições. O governo tem um papel relevante nesse sentido com investimentos diretos e via melhora institucional. Alguns estudos indicam que o investimento governamental principalmente nos anos iniciais é crucial para determinar toda a trajetória de aprendizado dos alunos.

O investimento do governo também é essencial em áreas que aumentam a produtividade marginal do capital privado, como em infraestrutura. Mas para que se tenha um bom governo, boas instituições são necessárias para reduzir o nível de corrupção, a busca por rendas extraordinárias, entre outros. Esse é outro ponto em que podemos enfatizar o problema da causalidade, visto que boas instituições conduzem a um bom governo e restringem a corrupção, enquanto que um bom governo é um elemento importante para que boas instituições possam emergir.

A cultura também é de grande importância, sendo parte das instituições informais. Quando as pessoas de uma nação valorizam o trabalho e a honestidade, os efeitos são positivos sobre toda a economia, inclusive na formação de boas instituições. O governo também é importante aqui, pois é o exemplo para os cidadãos, além do principal ator que determina as normas de condutas e penalidades que ajudam na formação da cultura de uma nação.

Em suma, o governo é fundamental por afetar vários elementos que são cruciais na determinação do crescimento econômico de longo prazo. No Brasil, nós temos o privilégio de escolher nossos representantes e, pelo que foi argumentado, pode-se perceber a importância das eleições democráticas. O problema é que a cultura e o capital humano são importantes na determinação da qualidade do voto. Novamente o problema da causalidade...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Para acelerar o crescimento



O atual cenário econômico internacional ainda é preocupante e, no caso de choques imprevistos, pode ser ainda mais pernicioso sobre o desempenho da economia brasileira. No entanto, já percebemos alguns sinais de problemas internos que podem ser mais nocivos.
O país cresceu na primeira década do milênio a um bom passo. Uma taxa de crescimento do PIB em torno de 4% com reduzido crescimento populacional tem efeitos significativos ao longo de 10 ou 20 anos. Podemos perceber isso pela emergência da nova classe média e a redução da pobreza extrema. Se o país continuar nesse passo, no espaço de tempo de uma geração ou 25 anos ele apresentará um nível de desenvolvido muito maior e melhores condições para sanar os inúmeros problemas sociais existentes. Em duas gerações estará no grupo de países desenvolvidos.
Só que o crescimento recente explicitou alguns pontos fracos da economia brasileira. Ele só foi possível com redução da taxa de desemprego, ou seja, empregando recursos que estavam ociosos. Com o baixo nível de desemprego, novas pressões no mercado de trabalho se traduzirão, principalmente, em elevações salariais e de preços, ou seja, inflação.
Para continuar crescendo ao passo da primeira década do atual milênio, o país precisa tomar medidas que elevem, sobretudo, a produtividade. Mas isso não pode ser feito no curto prazo, ou seja, para isso será preciso planejamento e vontade política para que o país possa manter uma boa taxa de crescimento de forma sustentável.
Para elevar a produtividade o governo precisa focar na melhora da infraestrutura, do sistema educacional, sobretudo na educação básica, em respeitar e garantir que se respeitem a lei e contratos realizados de forma e estimular o investimento privado e integrar a economia brasileira à mundial através da intensificação do comércio internacional.