quinta-feira, 25 de abril de 2013

Déficit brasileiro nas contas externas tende a piorar

Déficit brasileiro nas contas externas tende a piorar

Especialista: crise de 2007/2008 deixa resquícios até hoje

Os números do balanço de pagamento do primeiro trimestre no Brasil deflagraram um déficit de US$ 24,9 bilhões nas contas externas. O principal motivo para essa situação foi o fraco desempenho da balança comercial brasileira, que registrou déficit de US$ 5,2 bilhões no mesmo período. Para especialista e para o próprio Banco Central (BC) a tendência é piorar.

Desde a crise da economia mundial entre 2007 e 2008, a balança comercial brasileira não conseguiu se recuperar. Um dos principais motivos foi a redução de crescimento das principais potências do mundo, que diminuíram seus níveis de importação. Com menos demanda, as vendas de produtos brasileiros para o exterior foram afetadas.

Outro fator que contribui para os números negativos é a sobra de produtos manufaturados. A alta da oferta desses produtos desvalorizou seus preços, piorando as exportações. Nas previsões do Banco Central, o déficit das contas externas deve ser de US$ 67 bilhões no ano, contudo, o BC avalia que a situação não preocupa e alega questões sazonais para os problemas na balança.

Já o professor da Faculdade de Economia da USP/Ribeirão Preto, Luciano Nakabashi, adverte que a questão não é tão confortável. Além dos problemas de remessa de lucros por empresas que tentam compensar os maus resultados e gastos de turistas brasileiros no exterior, há uma questão estrutural que ajuda a dificultar:

"Esse déficit 2,9% do PIB na conta corrente já é elevado. Está acontecendo um fluxo de capitais muito grande, os países procuram um local pra investir e isso aprecia o câmbio no Brasil. Analisando os números dos últimos anos, desde a crise, esse rombo nas contas externas deve se manter", explica.

Para Nakabashi, a alta dos juros é outro fator de risco que pode representar uma piora no futuro. Os juros reais brasileiros ainda são considerados baixos, mas não tanto quanto os da Europa ou dos EUA:

"O dinheiro procura algum lugar para render e hoje existe um excesso de capital e de bens no mercado. Com os juros na Europa e nos EUA em níveis extremamente baixos, é possível apontar que a alta dos juros brasileiros atraia a entrada de moeda estrangeira, pressionando o câmbio no Brasil. Assim, com a valorização do real, é provável que a balança comercial fique ainda mais afetada", pondera o economista. 

Por outro lado, Nakabashi não enxerga outra solução diferente para o governo tentar controlar os preços internos - "O Governo disse que iria controlar os gastos, mas não o fez. Agora precisa aumentar os juros. Não que a inflação esteja em níveis tão alarmantes, mas o BC precisava recuperar sua credibilidade", finaliza.

O mês de abril, que estava superavitário, registrou déficit de US$ 2,27 bilhões, em sua terceira semana. Com isso, o acumulado do ano registra um déficit de US$ 6,489 bilhões.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Mal necessário ou erro estratégico?


Entre a cruz e a espada, ou a inflação e o baixo crescimento. Foi nesse cenário que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, ontem à noite, elevar em 0,25 ponto porcentual a taxa básica de juros. A elevação foi definida por seis votos a dois e motivada, segundo analistas, pela resistência da alta dos preços, que acumulou 6,59% nos últimos 12 meses findos em março, segundo o indicador oficial, o IPCA. 

Outros sinais, como a que­da nas vendas do varejo, ainda em fevereiro, também colaboraram para uma mudança de postura da autoridade monetária.

Ainda em que pequena medida, a decisão pôs fim a um ciclo histórico de baixas. De agosto de 2011 a outubro de 2012, a Selic caiu 5,25 pontos porcentuais e era mantida desde então.
Para o economista e professor da USP de Ribeirão Pre­to, Luciano Nakabashi, a alta da Selic era mesmo o jeito mais eficiente de frear a inflação, visto que o governo não “faz a sua parte” cortando gastos. “Ao elevar os juros, aumenta a atratividade para os bancos comerciais comprarem títulos do governo ao invés de emprestar para o público (pessoas físicas e jurídicas), reduzindo a oferta de crédito e elevando os juros de outras linhas de financiamento”. Para ele, a pequena alta não traz impacto em si, mas inicia um processo de elevação que sim, com o tempo, terá efeito relevante.

Até mesmo um “militante dos juros baixos” como o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, concorda com a elevação da Selic, principalmente como forma de resgatar a credibilidade do Banco Central em relação ao comando da política monetária do país e também de dar o recado certo ao mercado de que, sim, o país vê o combate à inflação como algo prioritário. “No geral, nós temos juros ainda altos, com um cenário futuro de inadimplência em queda e de crescimento maior do país neste ano ante 2012. Mas, diante do IPCA acumulado em março, uma subida, desde que pequena, era um mal necessário”, opina. Segundo as simulações da Anefac, o impacto da elevação deve ser pequeno nas operações ao consumidor (veja no gráfico). 

Perspectivas
O economista e professor associado da Fucape Business School, Cristiano M. Costa, acredita que um novo ciclo de alta, ainda que ameno, agora permitirá juros ainda baixos para 2014. “Se este objetivo de trazer a inflação para o centro da meta for atingido até o fim do ano, o governo pode pensar em reverter o ciclo de alta já no início de 2014, sem comprometer em demasia o crescimento da economia.” No geral, o mercado vê 2013 e 2014 encerrando com taxa a 8,5%.

Poupança segue ganhando dos fundos
Mesmo com a Selic a 7,5%, os rendimentos das cadernetas de poupança continuarão mais interessantes que a maioria dos fundos de renda fixa. Os depósitos antigos – anteriores a maio de 2012, quando as novas regras da poupança entraram em vigor – renderão 6,17% ao ano + TR, e os novos, 5,25% + TR. Na maioria das simulações da Anefac, a poupança sai na frente por ter seu ganho garantido e não sofrer qualquer tributação enquanto os fundos têm o desconto do imposto de renda (quando menor o prazo de resgate, maior o valor do imposto), além da cobrança da taxa de administração cobrada pelos bancos.
A situação só se inverte para fundos com prazo de resgate mais longos (principalmente aqueles acima de 2 anos) e taxas de administração mais baixas (entre 0,5% e 1,5%).
As novas regras da poupança (70% da Selic + TR) serão válidas sempre que a taxa básica de juros for igual ou inferior a 8,5% ao ano.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Brasil erra ao não focar na indústria

Brasil erra ao não focar na indústria

Gazeta do Povo - 31/03/2103 

Desindustrialização não é consenso entre analistas. Mas a retomada do setor é ponto determinante para o crescimento da economia

Publicado em 31/03/2013 | Fabiane Ziolla Menezes A queda da participação da indústria da transformação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vem desde a década de 1980 – de uma média de 33% das riquezas para 16%, nos últimos dez anos. O fato, somado ao avanço do setor de serviços para quase 70% do PIB em 2012, evidenciaria o fenômeno da desindustrialização, um processo normal de transição de base econômica em um país, não fossem algumas particularidades brasileiras. Para analistas, o Brasil não está preparado para ser “desindustrializado”, e continuará a crescer a passos de tartaruga se não trocar o modelo de incentivo ao consumo interno pelo de investimento e desenvolvimento da indústria.
A principal particularidade que diferencia a desindustrialização brasileira do padrão descrito nos livros de Economia, segundo Gilmar Mendes Lourenço, economista e diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), está no fato de a indústria do país não ter completado o terceiro estágio de sua evolução – aquele em que a atividade fica baseada no uso de insumos petroquímicos e na manufatura e com alto nível de conhecimento tecnológico próprio.
Efeitos
Setor têxtil é o que mais sofre no Paraná
O cenário difícil de alta carga tributária e falta de infraestrutura, combinado à enxurrada de produtos asiáticos baratos que desembarcam por aqui, acertou em cheio a indústria têxtil brasileira e em especial a do Paraná, que tem o segundo maior polo do ramo no país.
Pelos dados da Fiep, a federação das indústrias, o gênero é o que sofreu a maior regressão nas vendas nos últimos dez anos. Elas caíram 73%, com a maior parte das empresas desistindo do comércio exterior. O número contrasta com nichos como o de veículos automotores e alimentos e bebidas, que avançaram bastante no mesmo período – 119% e 79%, respectivamente.
A indústria têxtil também tem um dos menores índices de uso da capacidade instalada do estado: 50%.
No início do mês, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, disse que a desoneração da folha de pagamento do setor – adotada em abril de 2012, dentro do programa Brasil Maior – não conseguiu reverter o cenário. Cerca de 7 mil pessoas teriam sido demitidas em 2012, ante 16 mil no ano anterior.
O setor busca mais desonerações e outras formas de valorizar sua produção. Um dos exemplos é o Paraná Bussiness Collection (PBC), que, em uma ação coordenada, realizou duas edições no ano passado para apresentar a moda produzida aqui.
Parte desse descompasso, conforme o economista e professor da USP de Ribeirão Preto Luciano Nakabashi, teria começado nas décadas de 1980 e 1990, com o colapso do modelo de substituição de importações – a tentativa de se produzir tudo no Brasil. Esse processo teria colaborado para “inchar” a indústria brasileira no período, tornando-a excessivamente grande em relação ao PIB e pouco competitiva externamente – o que também ajuda a explicar o seu retrocesso anos mais tarde.
A outra parte do descompasso vem de fatores que ajudaram a formar a nova classe média brasileira nos últimos anos e que tomam o sentido oposto ao adotado por outros emergentes de maior sucesso, especialmente os asiáticos: valorização cambial, infraestrutura precária, alta carga de impostos e uma renda sustentada no aumento do consumo e do salário mínimo, sem grande melhora na produtividade.

Valor agregado
O papel da indústria é importante porque ela ainda é o setor da economia com maior poder de encadeamento – de trazer o restante da economia consigo – e de gerar produtos e emprego de maior valor agregado a partir de uma base concreta: conhecimento e produção tecnológica. O crescente setor de serviços tem gerado, por enquanto, uma base de emprego pouco qualificada e de baixa remuneração.

Foco
Mais que a necessidade de se fazer as reformas estruturais necessárias, especialmente a tributária, e de se promover os investimentos públicos e privados, os analistas sugerem que é preciso focar. “Não podemos querer produzir todos os bens industriais no Brasil. Temos de focar em alguns segmentos mais dinâmicos para que sejamos competitivos internacionalmente nestes. Ou seja, a política de conteúdo nacional [adotada hoje] é uma estratégia que acaba tornando nossa indústria menos competitiva”, opina Nakabashi.

2013 será melhor, mas sem bonança
A maioria das expectativas indica que, após a retração de 2012, a indústria nacional terá um ano melhor em 2013. Analistas dizem que a maioria dos segmentos já ajustou estoques e os investimentos devem ser retomados.
Mas isso não quer dizer que o ano será de bonança. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a perspectiva é de crescimento modesto, em torno de 2,5%.
Isso porque os números recentes de produção e emprego industrial não animam. Os dois indicadores têm se mostrado descolados um do outro. De dezembro para janeiro, a apuração mensal do IBGE mostra que o número de ocupados na indústria ficou estável, ante uma expansão de 2,5% da produção.
“Se ele [o emprego] se mostrou mais resistente no passado, quando a produção recuava fortemente, agora que a atividade industrial dá sinais de alguma recuperação não se vê uma reação do emprego no mesmo sentido”, afirmou o Iedi em relatório recente. Para o instituto, esse movimento deve ser tomado como uma indicação de que a indústria está longe de ter entrado numa trajetória de franca recuperação.

Produtividade
O diretor-presidente do Ipardes, Gilmar Mendes Lourenço, é ainda mais incisivo. Para ele, como a maior parte dos postos de trabalho criados entre 2000 e 2010 foi absorvida pela faixa de remuneração de até dois salários mínimos, com larga presença do setor de serviços – que paga, em média, salários 30% inferiores aos da indústria –, “a nação está condenada a ver minguar a sua produtividade e o seu potencial de geração de renda”.