A história brasileira destaca que, no século passado, a grande
estratégia de crescimento foi baseada no crescimento do estoque de
capital físico via industrialização por substituição de importações. Em
alguns períodos, tal estratégia se mostrou bem-sucedida, sobretudo no
fim dos anos 60 e durante os 70, quando a economia alcançou taxas de
crescimento semelhantes às atuais chinesas.
No entanto, ocorreu uma grande negligência no investimento em capital
humano devido, parcialmente, a uma falta de conhecimento da importância
desse fator no crescimento e desenvolvimento econômico por parte dos
principais gestores de política econômica e dos políticos naquele
período. As teorias do capital humano começaram a ser desenvolvidas no
fim dos anos 50 e início dos 60 em universidades norte-americanas
proeminentes como, por exemplo, a Universidade de Chicago. No entanto,
grandes pensadores econômicos já tinham mencionado a importância desse
fator em períodos anteriores, como Adam Smith.
A noção de que uma estratégia de industrialização via substituição de
importações seria o suficiente para levar o Brasil ao nível dos países
desenvolvidos se mostrou incorreta. Em estágios anteriores, quando
ocorreu a industrialização de países que já eram desenvolvidos em 1950,
como Estados Unidos e Inglaterra, o papel do capital humano não era tão
relevante porque a maior parte das atividades laborais e gerenciais não
exigia grande nível de escolaridade formal. No entanto, quando o país
adotou sua estratégia de crescimento, o capital humano tinha um papel
mais relevante pela maior complexidade dos processos produtivos do
período, pelo maior grau de fluxos de informação existente e pelas
mudanças econômicas e tecnológicas que aconteciam de forma mais
acelerada.
O capital humano já era um fator mais importante e complementar ao
capital físico. Se tivessem ocorrido maiores investimentos no primeiro, a
consequência seria um maior retorno do investimento no segundo, levando
a um crescimento relevante no estoque de capital físico. Em outras
palavras, mesmo para elevar esse fator de produção, o mais importante
teria sido realizar investimentos em capital humano.
Atualmente, existe no Brasil uma maior consciência da importância
desse fator de produção no processo de crescimento e desenvolvimento
econômico por parte dos gestores de políticas econômicas, dos políticos e
da população em geral. No entanto, uma das falhas está em obter um
diagnóstico bem elaborado sobre os principais determinantes da qualidade
do sistema educacional. Existem vários analistas e pesquisadores
nacionais e estrangeiros que estão analisando esse tema e estudos
financiados por parte do governo ajudariam a entender melhor essa
questão em nossa realidade.
Isso vem sendo feito a passos muito lentos quando comparado a medidas
e discussões de elevação dos gastos do governo em educação como
proporção do PIB sem ter uma boa noção de onde e como esses recursos
podem ser aplicados. O que parece é que estamos colocando novamente o
carro na frente dos bois por um pensamento de curto prazo,
característico da sociedade brasileira, que se reflete em uma falta de
planejamento estratégico. Não adianta apenas elevar os gastos em
educação; é preciso, sobretudo, de planejamento e estratégias de longo
prazo para alavancar o crescimento econômico e gerar um maior grau de
desenvolvimento.