quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Recuperando a Confiança?

(Gazeta do Povo - 27/11/2014)

A indicação de Joaquim Levy para a Fazenda é uma sinalização de que Dilma parece ter sido convencida pelo pragmatismo do ex-presidente Lula, pelas eleições apertadas, pela elevada rejeição que o PT sofre em quase todos os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, pelo fraco desempenho da economia, além das manifestações de 2013, de que é necessária uma grande mudança na economia para que o seu mandato chegue ao fim sem exacerbada instabilidade social, econômica e política.
Uma deterioração na economia – que, certamente, também afetaria as conquistas na área social – poderia ser fatal para o PT, ainda mais quando se leva em consideração todos os problemas que ainda terão de ser enfrentados no caso da Petrobras, Eletrobras, grandes empreiteiras etc. Além disso, o partido perdeu participação no Congresso Nacional e enfrenta problemas na própria base aliada, podendo ter um próximo presidente da Câmara dos Deputados que é visto mais como oposição que como aliado.

Joaquim Levy possui sólida formação em economia, vasta experiência pública e privada, competência já comprovada, além da confiança do mercado, o que é essencial para uma pessoa que irá liderar o processo de desatar os vários nós que foram criados na área econômica. Ele é reconhecido pela posição favorável à austeridade fiscal, peça-chave para que a economia possa entrar em uma rota econômica mais favorável, pois uma melhora fiscal propiciaria menor fragilidade das contas internas e externas, menor pressão inflacionária e cambial, redução das incertezas, além da redução da taxa de juros. Todos esses fatores são fundamentais para melhorar os ânimos dos empresários, os investimentos produtivos e a produtividade e, dessa forma, o crescimento econômico.
No entanto, pelo menos duas questões ainda precisam ser resolvidas: uma parte do próprio PT parece não estar convencida de que a economia necessita, com urgência, de mudanças significativas em sua atual trajetória, fazendo críticas ao nome que até já deveria ter sido confirmado pela presidente, o que gera incertezas e fragiliza logo de início o novo ministro caso ele venha a tomar posse; e não está claro se a própria presidente está convencida disso e se, portanto, dará autonomia necessária ao novo ministro.

O primeiro passo na direção correta pode ser dado pela nossa presidente ainda nesta quinta-feira. Vamos torcer para que essa decisão seja tomada e que a autonomia necessária seja dada ao novo ministro da Fazenda, pois, mesmo que isso seja feito, os próximos anos serão difíceis para o governo e a população brasileira. Não gostaria de ter de imaginar qual seria o cenário caso o governo retroceda nessa decisão e coloque um nome mais alinhado com a atual equipe econômica.

domingo, 13 de julho de 2014

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Transparência e desempenho econômico de longo prazo

Gazeta do Povo - 25/06/2014

Olhando para o índice de confiança do empresário industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de maio de 2014, percebe-se uma queda do mesmo desde o início de 2012. Nos últimos dois meses, o índice ficou abaixo de 50, o que indica uma falta de confiança do empresariado industrial em relação às perspectivas futuras. Esse pessimismo é generalizado, pois, em maio do ano corrente, ficou abaixo de 50 para as empresas industriais de todos os portes e segmentos analisados.

É claro que a crise econômica internacional e a elevação dos custos do setor têm afetado o seu desempenho, mas, como os piores efeitos da crise parecem ter passado, por se tratar de expectativas (os empresários estão olhando para o futuro) e pelo fato de a elevação dos custos estar relacionada muito mais a fatores internos, a explicação para a sua deterioração provavelmente está associada mais aos problemas da economia brasileira. Dentre eles, podemos citar a piora nas contas públicas e na geração de superávit, além da inflação que vem dando sinais de pequeno descontrole. No entanto, o problema parece ser decorrente, sobretudo, da falta de clareza sobre o futuro da economia brasileira.

A economia capitalista possui, de forma inerente, um potencial de instabilidade que vem à tona de tempos em tempos na forma de recessões, período em que os ajustes necessários são realizados e em que são criadas as condições para a retomada do crescimento. Um dos papéis do governo é justamente atuar de forma a criar regulações que reduzam a instabilidade do sistema econômico, criando certas amarras que reduzam as situações de desajuste.

Para a redução da instabilidade e, desse modo, da incerteza no ambiente econômico, é fundamental a criação de regras claras e estáveis, ou seja, que elas permaneçam independentemente do partido político no poder e das vontades do presidente, governador, prefeito etc. É desejável que exista também flexibilidade, pois o ambiente econômico se altera e regras que eram boas em uma determinada época passam a ser inadequadas. No entanto, se o conjunto de regras ou arcabouço institucional é de qualidade, mudanças marginais ao longo do tempo são suficientes e desejáveis, pois reduzem a incerteza e estimulam os investimentos e crescimento econômico.

A política de maquiar a real situação do superávit primário, das contas públicas e da inflação, as intervenções constantes do governo no mercado, ajudando alguns segmentos e empresas e prejudicando outras, as alterações das regras de acordo com a mudança de ventos e com visão míope, além da falta de planejamento de longo prazo, só têm ajudado a elevar a incerteza dos empresários, prejudicando as expectativas e investimentos produtivos.

O mercado possui falhas; por isso, o papel do governo é fundamental e melhora a eficiência econômica, quando as intervenções são bem feitas e necessárias. No entanto, o mercado funciona muito bem em outros aspectos e, nesses casos, o melhor que o governo tem a fazer é estabelecer as regras e deixar os empresários, trabalhadores e outros agentes econômicos jogarem o jogo do mercado.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Copa, falsos cadeirantes e Neymar

Estamos em um momento de festa no país com os jogos que estão ocorrendo. Por alguma razão, essa é uma das grandes paixões dos brasileiros, latinos e europeus e parece que vem se espalhando para outros países.

Nesse período, vemos várias imagens na internet, jornais, revistas e televisão associadas aos jogos da Copa. Hoje, navegando na internet, duas me chamaram a atenção. A primeira é:


A matéria mostra alguns indivíduos fazendo divulgação de ingressos para cadeirantes, e com pacote completo: cadeira de roda, atestado médico e passagens por apenas R$1.000,00!!! Na minha opinião, o sujeito precisa ser desonesto e "cara de pau" para anunciar isso para qualquer um... O pior é a justificativa para tal comportamento: se os políticos fazem... Por um lado, pela posição de liderança, representação e exposição na mídia, nossos políticos são e dão exemplos de comportamento e, na média, não são os melhores exemplos a serem seguidos. Por outro lado, qualquer cidadão que tenha um pouco de bom senso sabe que uma atitude errada por parte de alguém não o isenta de seus próprios atos equivocados.

A nação é construída por cada um e os políticos dão exemplos, mas também são reflexo de uma sociedade onde uma boa parte da população leva vantagem quando pode, mesmo que de forma indevida. Um bom exemplo é o caso do pênalti cavado por Fred, onde parte das pessoas ainda acha que ele agiu de forma correta.

A segunda é uma matéria no site da Uol que mostra que Neymar é quem mais vem treinando:


Ele é um garoto muito talentoso que já é uma estrela, considerado o melhor jogador em campo com a camisa brasileira e com salários astronômicos. Uma posição invejável considerando a pouca idade e que, de qualquer forma, posição que um número mínimo de pessoas no planeta irá alcançar mesmo em todo o período de vida, mesmo que vivam por 100 anos, seja em ganhos monetários, em fama e sucesso ou admiração. Nessa posição, poucos estariam se esforçando como ele, e os companheiros de equipe mostram que isso não acontece mesmo que ainda não alcançaram o nível de Neymar.

O que o nosso craque mostra é a importância da determinação e esforço para se alcançar boas posições na vida profissional e mesmo na pessoal. É claro que no caso de Neymar também há uma grande habilidade inata, mas talvez a mais importante seja a determinação que ele vem mostrando e que pode ser trabalhada por qualquer um.

Esse deveria ser o verdadeiro exemplo a ser seguido pelos jovens que estão assistindo aos jogos da Copa, pois fazendo isso, os ganhos serão muito grandes no longo prazo, seja para quem faz o esforço, seja para o país como um todo.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Desemprego, PIB e taxa de participação

ESTUDO RELACIONA DESEMPREGO E PIB BAIXOS AO RECUO NA TAXA DE PARTICIPAÇÃO
Ribeirão Preto (SP), 9/6/2014 - Estudo da Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia da Universidade de São Paulo (Fundace/USP) aponta que a taxa de desemprego no Brasil só chegou aos níveis mais baixos da história por conta da queda na taxa de participação - relação entre as pessoas que estão no mercado de trabalho sobre o total de pessoas em idade de trabalhar. O levantamento, obtido pelo Broadcast, aponta que, se taxa de participação permanecesse constante, haveria variações superiores a dois pontos porcentuais na taxa de desemprego no País. Isso explicaria, ainda, como a taxa de desemprego segue em queda mesmo com o baixo crescimento da economia brasileira.

O estudo cruzou dados das taxas de ocupação e de desemprego do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) com a taxa de participação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) entre 1995 e 2012. Os pesquisadores só não conseguiram comparar os dados de 2013 e 2014 por conta da mudança da metodologia da Pnad.

"Só poderemos comparar quando houver uma série maior da Pnad. Mas, como a criação de emprego perdeu força desde 2013, provavelmente os dados apontariam um cenário semelhante, com o desemprego maior que o medido", explicou Luciano Nakabashi, professor doutor da USP e coordenador da pesquisa pela Fundace.

Para fundamentar a tese, a pesquisa fez um recorte no tempo entre 2009, ano do início da crise internacional, quando o desemprego atingiu 8,41%, e 2012, quando a taxa foi 6,32%, ou seja, um recuo 2,09 pontos percentuais. Nos mesmos anos, a taxa de participação recuou de 62,07% para 59,83%. No entanto, se esse indicador permanecesse estável em 62,07% entre 2009 e 2012, a taxa de desemprego em 2012 seria de 8,56%, ou 2,24 pontos porcentuais superior à oficial.

"Considerando a taxa de participação e a taxa de desemprego de 2008, o ano pré-crise no Brasil, a taxa de desemprego teria passado de 7,24% para 8,46%, o que corresponde a uma elevação de 16,80%", informa o documento.

Os pesquisadores acreditam que o crescimento pequeno do País e a menor oferta de mão de obra levaram desempregados a simplesmente parar de procurar emprego. Esses trabalhadores deixaram de ser contabilizados na taxa de participação, o que puxou para baixo o indicador e, consequentemente, a taxa de desemprego. "Essa redução recente na taxa de desemprego é uma ilusão e não reflete o que acontece. Temos a intuição de que, pela piora do mercado, muita gente deixou de procurar trabalho", afirmou Nakabashi.

Estudos à parte, a taxa de desemprego segue em queda no País, assim como o Produto Interno Bruto (PIB). Em abril, a taxa de desemprego ficou em 4,9%, o menor nível para o mês desde o início da Pesquisa Mensal de Emprego, apurada desde 2002 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a Pnad Contínua, também do IBGE, a taxa do primeiro trimestre de 2014 ficou em 7,1%.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pleno Emprego?


Recentemente, alguns analistas econômicos têm argumentado que a economia brasileira vem apresentando uma situação estranha de baixo crescimento com pleno emprego. A conclusão é decorrente de uma redução continua da taxa de desemprego desde 2003, com exceção do ano em que a crise internacional afetou o país de forma mais acentuada: 2009. Peço desculpa ao leitor, mas para explicar o que vem ocorrendo, mostrarei uma série de dados que atrapalham um pouco a leitura.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostram que a taxa de desemprego caiu de 9,72%, em 2003, para 6,32%, em 2012, ou seja, consideráveis 3,4 pontos porcentuais, o que equivale a uma queda de 35%. De 2009 até 2012, a taxa de desemprego passou de 8,41% para 6,32% (os últimos dados da Pnad que são comparáveis com anos anteriores são de 2012).
Essas observações, juntamente com um fraco desempenho da economia brasileira, que cresceu a uma taxa média de 2,1% nos últimos três anos, e que provavelmente crescerá ainda menos em 2014, geram a incógnita mencionada acima.

Para explicar tal situação, alguns analistas argumentaram que as empresas não estavam demitindo à espera de uma melhora na economia, pois os custos de se demitir e contratar novamente, no período de recuperação, seriam elevados. No entanto, essa hipótese não se sustenta quando se analisa os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, de desligamentos e contratações de empregados. Eles mostram a existência de um processo de elevação contínua no número de processos de desligamentos: 15.192.529, em 2009; 17.067.900, em 2010; 18.996.577,00, em 2011; 19.563.798, em 2012; e 20.211.364, em 2013.

Desse modo, os processos de desligamentos vêm sendo cada vez maiores, indicando que as empresas não estão deixando de demitir, muito pelo contrário. Pode-se argumentar que os trabalhadores vêm pedindo demissão devido a novas oportunidades de trabalho; hipótese difícil de ser sustentada quando se olha para o saldo líquido de criação de empregos decrescente desde 2010 (também pelos dados do Caged) e para o fraco desempenho da economia após 2010.

Então, o que explica a redução da taxa de desemprego mesmo com o fraco desempenho da economia brasileira? Os dados da Pnad indicam que, após 2008, a taxa de desemprego só caiu por causa da redução na taxa de participação, ou seja, da relação entre as pessoas que estão no mercado de trabalho (empregados ou procurando emprego), também chamada de população economicamente ativa, sobre o total de pessoas em idade de trabalhar ou população em idade ativa.

Podemos fazer um exercício considerando a taxa de participação constante desde 2008, o ano pré-crise no Brasil, ou seja, considerar que a mesma proporção de pessoas se manteve no mercado de trabalho. Nesse caso, a taxa de desemprego teria passado de 7,24%, em 2008, para 8,46%, em 2012, o que corresponde a uma elevação de 16,80%. Isso não ocorreu porque os desempregados estão desistindo de procurar emprego.

A economia está fraca e a criação de empregos também. Com os desempregados desistindo de procurar emprego fica difícil sustentar a hipótese de que a economia brasileira se encontra em pleno emprego.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

A beleza da democracia

(Gazeta do Povo - 16/05/2014)

O sistema democrático é a melhor forma de participação da população no processo político de um país. Através do voto, cada cidadão pode se fazer representar em uma sociedade que possui diferentes demandas e necessidades.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu se eleger e reeleger pelo papel determinante que teve no controle inflacionário através do Plano Real, sendo que essa era uma das maiores demandas sociais do período. O ex-presidente avançou em várias outras áreas, como no saneamento financeiro de dívidas passadas, a institucionalização da responsabilidade fiscal de estados e municípios, a manutenção do processo de abertura da economia, além de avanços consideráveis na área previdenciária e do orçamento público. Também lançou programas sociais que serviram de base para o atual programa Bolsa Família e adotou medidas importantes na universalização do ensino público.
No entanto, o fraco desempenho econômico, a fragilidade externa do país pelos excessos cambiais e a crise energética, no final do segundo mandato, foram elementos essenciais no desgaste da imagem do ex-presidente e pelo desejo de mudança que ficou evidenciado nas urnas, em outubro de 2002. A eleição do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva representou esse desejo de mudança da população.
Com o benefício das reformas realizadas no governo anterior, do excelente cenário externo, da manutenção de pilares macroeconômicos essenciais como o sistema de metas de inflação e do superávit primário e também de reformas acertadas no primeiro mandato, como a continuidade do processo de reformas no sistema previdenciário, a reforma do Judiciário e as mudanças na lei do inquilinato, a era Lula experimentou um período de crescimento que não se presenciava desde os anos de 1970. Adicionalmente, o crescimento com o aprofundamento de políticas sociais acertadas, como o Bolsa Família, por exemplo, fez com que os anos 2000 fossem repletos de mudanças sociais positivas que justificaram a reeleição com folga do ex-presidente, a despeito do escândalo do mensalão às vésperas da eleição presidencial.
Entretanto, a falta de reformas necessárias para a manutenção do processo de crescimento e desenvolvimento a partir do segundo mandado do governo Lula e do governo de Dilma, da mudança do cenário internacional, da elevação da percepção da corrupção, do baixo crescimento econômico e piora significativa nas perspectivas futuras da economia, a população começou a demonstrar as insatisfações com o governo petista na esfera federal, como se pode verificar pelas manifestações que ocorreram no ano passado e pela queda na intenção de voto na presidente Dilma. Novamente, a população começa a expressar a vontade de mudança e me parece que uma mudança do candidato da situação não irá resolver, aos olhos do eleitor, os erros que foram cometidos e a vontade de mudança que uma parcela cada vez mais significativa da população vem apresentando. Muita água ainda irá rolar até a eleição presidencial, e o presidente eleito representará a vontade da população brasileira por mudança ou manutenção das políticas que vêm sendo adotadas. Essa é a beleza da democracia!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

O novo ciclo de alta da Selic


A taxa Selic serve de referência para o pagamento de juros dos títulos do governo federal e também como balizamento para as demais taxas de juros da economia brasileira, alterando decisões de consumo e de investimentos. Desse modo, ela é fundamental na determinação do nível de atividade econômica e também das contas públicas, pelo menos no curto e médio prazos.

O governo Dilma experimentou uma política econômica de redução de juros, atingindo o patamar de 7,25% ao ano, entre outubro de 2012 e abril de 2013, sendo o menor nível desde o início do Plano Real. Diante da deterioração do cenário externo à época do início do ciclo de redução da taxa de juros (setembro de 2011), a política se mostrou acertada, ainda mais considerando o fato de que não existe um consenso que justifique um patamar tão elevado para os juros da economia brasileira relativamente aos demais países e pelos seus efeitos positivos sobre as contas públicas. Aquele seria o momento ideal para testar se a economia brasileira consegue conviver com taxas de juros mais baixas do que os seus níveis históricos.

No entanto, o ciclo de redução dos juros deveria ter ocorrido concomitantemente a outras medidas de política econômica para que ela pudesse ser sustentável. Em uma economia com baixo desemprego, o que limita a elevação da produção, estímulos adicionais como desonerações de segmentos específicos, além da redução dos juros, estimularam a demanda de forma a elevar as importações, deteriorando as contas externas do país, além de pressionar a inflação, o que explica o novo ciclo de elevação dos juros que estamos presenciando atualmente. Portanto, no conjunto e considerando a conjuntura do mercado de trabalho, as medidas de política econômica adotadas foram equivocadas.

Os resultados de tais medidas de política geraram um cenário em que, além do baixo crescimento, a economia vem presenciando pioras nas contas externas, ou seja, maior dependência de poupança externa, e nas contas internas, o que gera maior instabilidade macroeconômica e prejudica investimentos, além de aceleração da inflação, que pressiona novamente os juros para cima. Em suma, o que se percebe como decorrente de tais medidas de política econômica é uma piora nos fundamentos da economia e, assim, maior fragilidade a choques externos e menor capacidade de crescimento econômico.

Se a preocupação da equipe econômica do governo federal era estimular o crescimento quando optou pelas medidas de política fiscal expansionista, ela deveria ter considerado que a economia já estava próxima do pleno emprego e que o baixo crescimento tem ocorrido, sobretudo, pela estagnação da produtividade econômica. Para retomar o crescimento seria preciso analisar, de forma cuidadosa, as causas dessa estagnação e adotar medidas que estimulassem a oferta em vez da demanda.

sábado, 22 de março de 2014

Endorcismo

  Precisamos contratar um cara como esse para viajar pelo Brasil. Tem muito trabalho pela frente...

  https://www.youtube.com/watch?v=v244fA0tnOc

terça-feira, 18 de março de 2014

Notas e salários

  (Folha de São Paulo - 18/03/2014)

  Muito interessante e relevante este estudo do Naércio (Insper) e Andréa Curi (FGV) que mostra uma associação entre notas na escola e salários (salário no início de carreira). Deve ser o primeiro estudo que quantifica essa relação no Brasil. É claro que deve estar pegando características não observáveis dos indivíduos como, por exemplo, disciplina e proatividade. De qualquer forma, é um estudo super importante e também ajuda a acabar com aquela ideia de que os alunos que estudam mais não se dão bem na vida profissional porque a escola "não ensina as lições de vida"... 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

10% do PIB para educação é uma boa estratégia?


A melhora do nível de escolaridade dos cidadãos está fortemente associada ao nível de desenvolvimento de um país ou região. É claro que países mais ricos possuem mais recursos para montar um bom sistema de ensino fundamental, médio e superior, mas existem argumentos e evidências suficientes que sugerem que investimentos em educação em uma parcela ampla da população é um aspecto importante em uma estratégia de crescimento sustentável, além de ser fundamental para melhorar a distribuição de renda.

No entanto, elevar esses gastos para 10 % do PIB significa estar acima da proporção de todos os países desenvolvidos, de acordo com dados da OCDE para o ano de 2009. Nossos vizinhos mais desenvolvidos como Chile (6,8%) e Argentina (6,9%) também não chegam perto dessa marca. Mesmo os Estados Unidos, que possuem uma das populações mais escolarizadas do mundo, gasta entre 7,0% e 7,5% do PIB em educação. A Coréia do Sul, exemplo de rápido crescimento baseado em melhora do sistema educacional, gasta em torno de 8% do PIB. O Brasil não está mal classificado nesse quesito, gastando cerca de 5,5 % do PIB, próximo à media dos países da OCDE: 6,2%.

O grande problema em aumentar os gastos no sistema educacional para 10% do PIB é que já somos um país com elevada carga tributária e essa medida de política econômica e social pressionaria ainda mais no sentido de elevá-la. Uma das fontes desses recursos seriam os royalties do petróleo, conforme lei sancionada em Setembro de 2013 onde 75% destes seria destinado à educação e 25% ao sistema de saúde. No entanto, boa parte dessas receitas está prevista apenas para o médio e longo prazo e sempre há incertezas em relação ao verdadeiro estoque de petróleo na camada pré-sal e em outros lugares de mundo, o que pode afetar o preço dependendo da oferta futura, além de outras fontes alternativas de energia que podem afetar a viabilidade da sua retirada pela redução da demanda, ou seja, não conte com os ovos antes da galinha botar!

Desse modo, os recursos para o aumento dos gastos em educação seriam provenientes, sobretudo, de uma elevação da carga tributária. A consequência seria um desestimulo aos investimentos produtivos e, dessa forma, na demanda por trabalho qualificado, com um efeito potencialmente contrário ao esperado sobre o desenvolvimento brasileiro. Em outras palavras, não adianta olhar apenas para um segmento da economia quando se formula políticas econômicas e sociais. É preciso olhar seus efeitos em outros segmentos e setores, além das fontes dos recursos necessários à sua implementação. Para melhorar a qualidade do nosso sistema educacional, a questão principal parece ser muito mais de como alocar os recursos de forma mais eficiente do que de como elevá-los.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Cafezinho do Senado

   Dá para entender porque o salário de um garçom no Senado é o mesmo de um professor universitário?


     Sim, esse tipo de distorção explica muita coisa da atual situação brasileira...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Investimento em educação não é o bastante


Nas últimas décadas, presenciamos um ganho de importância do investimento em educação como uma estratégia para promoção do crescimento e desenvolvimento econômico. Esse fenômeno é decorrente da difusão de teorias que enfatizam o capital humano como peça central nesse processo, além do maior grau de mudanças tecnológicas que elevou o retorno do investimento nesse tipo de capital. No entanto, apesar dessa estratégia ser fundamental para acelerar o crescimento econômico, ela não é suficiente.

Um bom exemplo é a estratégia de investimento em educação adotada por Cuba, onde a sua população ficou à frente, em termos educacionais, de seus pares latino-americanos, com a erradicação do analfabetismo já na década de 1960, mas sem apresentar progresso econômico. A pergunta natural seria: quais as razões para o fracasso econômico do citado país, mesmo com o grande esforço realizado em investimento no setor educacional?

O principal fator para o insucesso econômico de Cuba foi a estrutura de incentivos existentes no país, ou seja, o seu arcabouço institucional. Sendo socialista, os indivíduos não recebem de acordo com seus esforços e produtividades. Desse modo, apesar do maior nível de educação elevar a produtividade de seus cidadãos, o mesmo não ocorre com o seu retorno, como o salário, por exemplo. Adicionalmente, não há incentivos para investimentos produtivos que também elevam o retorno do investimento em educação.

Uma das premissas básicas da economia é que os indivíduos respondem a incentivos. Sendo assim, quando os incentivos não são adequados, as pessoas não se esforçam e, como consequência, a produtividade é muito baixa. Por isso a ênfase existente, por parte de alguns economistas e analistas econômicos, na elaboração de regras claras e estáveis para estimular os investimentos, com intervenção governamental somente onde existem falhas de mercado. Quando o ambiente é propício, ou seja, quando os indivíduos recebem pelos seus esforços, as regras são claras e os agentes que não obedecem às regras são punidos, os empresários investem em capital produtivo, aumentando a demanda por trabalho qualificado, e os trabalhadores se tornam mais propensos a investir em educação.

Em outras palavras, não adianta educar toda a população, mesmo que o sistema educacional seja de qualidade e gratuito, se não há estímulos para que os trabalhadores se esforcem e para que ocorram investimentos produtivos de modo a gerar demanda por trabalhadores qualificados. Nesse caso, o trabalho qualificado se tornaria ocioso em um mundo onde recursos produtivos são escassos e muito demandados em economias de mercado. Cuba, novamente, serve como um bom exemplo. Parte de seus médicos veio para o Brasil devido a certa ociosidade de uma mão de obra muito qualificada e com alta demanda em qualquer país onde o mercado funcione razoavelmente. Para o Brasil, esse é um fenômeno positivo ao atrair um investimento já realizado que é caro e leva tempo para se concluir, além de trazer imigrantes, o que costuma ser positivo no processo de evolução cultural, mas para Cuba...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Eleições, Copa e mais do mesmo na economia


Estimativas e declarações de economistas e membros do governo levam a crer que: 1) o crescimento econômico deve continuar abaixo de 3%; 2) a inflação tende a ficar novamente mais perto do teto que do centro da meta; 3) o desemprego pode até subir um pouco, mas sem assustar; 4) a retirada gradual de estímulos à economia norte-americana deve elevar a cotação do dólar, ajudando as exportações mas afetando os preços no Brasil; e 5) embora prometa mais cuidado com suas contas, o governo de Dilma Rousseff não vai mudar a rota da política fiscal justamente no ano em que busca a reeleição.
Se essas hipóteses se confirmarem, não haverá um desastre econômico ou social, mas tampouco será interrompida a lenta – porém contínua – deterioração dos fundamentos da economia, observada de 2010 para cá. Em algum momento o rumo terá de ser corrigido, independentemente de quem se eleger em 2014. E, quanto mais tardia, mais traumática tende a ser essa correção.

“A dívida pública está crescendo, o país depende cada vez mais de poupança externa, a inflação está sempre próxima do teto da meta, e tudo isso em meio a um fraco desempenho econômico. Uma vez que os fundamentos estão ruins mas não catastróficos, dá para segurar mais um tempo. É o que o governo provavelmente fará neste ano”, diz Luciano Nakabashi, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da USP de Ribeirão Preto.

Para muitos economistas, inclusive antigos aliados do Planalto, essa conjunção de fatores negativos decorre principalmente de erros do governo – que, entusiasmado com o sucesso das medidas de combate à crise internacional, se habituou a promover o consumo, com desonerações e quedas nas taxas de juros. “Deveria ter parado com essa política lá atrás e se concentrado no estímulo à oferta, ao investimento, ao aumento da produtividade, sem o que não há crescimento sustentável”, diz Nakabashi.

O suposto descontrole da política fiscal é o principal alvo dos críticos do governo, mas há quem veja exagero na avaliação. “É desejável que o governo cumpra sua meta de superávit primário [economia para pagar os juros da dívida]”, diz. “Mas é preciso lembrar que, se não fossem os pouco mais de R$ 70 bilhões em desonerações de impostos para estimular a economia, o superávit de 2013 teria sido bem maior”, diz João Ildebrando Bocchi, professor da PUC-SP e coautor do livro Economia Brasileira.

Embora descarte a hipótese de um forte crescimento do PIB, Bocchi vê razões para otimismo. “Teremos em 2014 o início dos investimentos nas concessões leiloadas em 2013. Poderemos ter um crescimento econômico um pouco melhor, a inflação um pouco mais baixa e um resultado fiscal não surpreendente, mas ao menos mais confiável que o de 2013.”

Temor
“Tempestade perfeita” faria o dólar disparar
Alguns investidores e economistas temem em 2014 o que apelidaram de “tempestade perfeita” – a combinação de um rebaixamento da classificação de risco do país, provocada pela piora nas contas públicas, com o fim do programa de estímulos do banco central norte-americano, o Fed. Isoladamente, cada um desses eventos já seria capaz de empurrar o dólar para cima, pressionando a inflação e forçando o Banco Central brasileiro a elevar a taxa de juros; juntos, fariam estrago maior.
Mas, para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a hipótese de uma tormenta dessas é frágil. “A política fiscal ficou mais frouxa porque o governo estava buscando incentivar a economia. Acho que ele estará mais atento, o que deve evitar um rebaixamento”, diz. “E o Fed deve retirar seus estímulos de forma gradual, evitando uma disparada do dólar.”

A ação do Fed parece mesmo caminhar nessa direção. Por outro lado, uma das agências de risco (a S&P) avisou recentemente que pode cortar a nota do Brasil antes mesmo das eleições.

Farol desregulado
Previsões econômicas (tanto as do ministro da Fazenda quanto as feitas por gente do mercado, da academia ou do setor produtivo) não são conhecidas por sua precisão. Não é raro que a comparação entre projeções e resultados efetivos renda algum constrangimento – o mercado financeiro, por exemplo, superestimou o resultado do PIB nos últimos três anos. Ainda assim, as expectativas acabam servindo de farol para as decisões dos “agentes econômicos” (trabalhadores, empresários, investidores, governantes).

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Perspectivas para 2014


No ano que terminou, os resultados econômicos não foram positivos: presenciamos uma elevação na dívida pública; considerável aumento nos déficits das contas externas; inflação próxima do teto da meta; retomada do ciclo de alta da taxa de juros; e, o pior, baixo crescimento econômico.

Este ano é eleitoral e, desse modo, é muito provável que o governo conserve a estratégia de estímulo aos gastos para, ao menos, manter baixa a taxa de desemprego. Esse é o último trunfo econômico que resta e seria um risco muito elevado para a estratégia de manutenção do Poder Executivo federal caso essa taxa começasse a subir.

Mesmo com os prováveis estímulos à demanda, a economia não apresentará um bom desempenho, pois os problemas que ela enfrenta são de oferta, como baixas taxas de produtividade e de investimento. Assim, teremos mais um ano de fraco desempenho econômico e com reduzido desemprego.

O problema é que estímulos à demanda irão se traduzir em maior dívida pública e manutenção dos juros elevados para manter a inflação dentro da meta, o que pressiona ainda mais as contas do governo, gerando instabilidade e reduzindo os investimentos. Cabe lembrar que, historicamente, a Previdência é um elemento adicional que vem pressionando o déficit orçamentário. Por outro lado, apesar da recente depreciação da taxa de câmbio, não há sinais de redução nos déficits nas contas externas brasileiras, o que também eleva a fragilidade macroeconômica pela dependência crescente de poupança externa.

Na ausência de reformas relevantes para controlar a dívida interna e aumentar a competitividade das empresas brasileiras, o que iremos presenciar é a piora nos fundamentos da economia ao longo de 2014, como já vem ocorrendo nos últimos anos, com impactos negativos nos próximos anos.

Já estamos pagando a conta da falta de uma agenda consistente e relevante de reformas desde o segundo mandato Lula até os dias atuais, sendo que o sinal mais claro é o baixo crescimento econômico dos últimos anos, que tem raízes muito mais em problemas internos que externos. Mesmo com uma possível melhora no cenário externo, a tendência de deterioração dos já fracos fundamentos da economia brasileira não permitirá uma retomada do crescimento nos próximos anos.

Seja quem for o presidente eleito em 2014 e qual a sua equipe econômica, em 2015 sentiremos com mais intensidade os efeitos dos erros cometidos. Adicionalmente, a necessidade de ajustes para colocar a economia novamente no rumo aumentará a tendência de desaceleração econômica. Assim, passaremos por momentos econômicos mais difíceis antes de uma possível melhora.

De qualquer forma, somos uma nação jovem que tem capacidade e talento para superar os obstáculos que estão surgindo. O principal fator para que isso ocorra é mudar o pensamento da sociedade para questões de longo prazo, como demanda por investimentos em educação de qualidade, por reformas não populares como a previdenciária e reforma tributária, além da redução do setor público para fomentar o investimento privado. Assim como no caso individual, a bonança vem após um período de grande esforço e frugalidade.