Estimativas e declarações de economistas e membros do governo levam a
crer que: 1) o crescimento econômico deve continuar abaixo de 3%; 2) a
inflação tende a ficar novamente mais perto do teto que do centro da
meta; 3) o desemprego pode até subir um pouco, mas sem assustar; 4) a
retirada gradual de estímulos à economia norte-americana deve elevar a
cotação do dólar, ajudando as exportações mas afetando os preços no
Brasil; e 5) embora prometa mais cuidado com suas contas, o governo de
Dilma Rousseff não vai mudar a rota da política fiscal justamente no ano
em que busca a reeleição.
Se essas hipóteses se confirmarem, não haverá um desastre econômico
ou social, mas tampouco será interrompida a lenta – porém contínua –
deterioração dos fundamentos da economia, observada de 2010 para cá. Em
algum momento o rumo terá de ser corrigido, independentemente de quem se
eleger em 2014. E, quanto mais tardia, mais traumática tende a ser essa
correção.
“A dívida pública está crescendo, o país depende cada vez mais de
poupança externa, a inflação está sempre próxima do teto da meta, e tudo
isso em meio a um fraco desempenho econômico. Uma vez que os
fundamentos estão ruins mas não catastróficos, dá para segurar mais um
tempo. É o que o governo provavelmente fará neste ano”, diz Luciano
Nakabashi, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada
da USP de Ribeirão Preto.
Para muitos economistas, inclusive antigos aliados do Planalto, essa
conjunção de fatores negativos decorre principalmente de erros do
governo – que, entusiasmado com o sucesso das medidas de combate à crise
internacional, se habituou a promover o consumo, com desonerações e
quedas nas taxas de juros. “Deveria ter parado com essa política lá
atrás e se concentrado no estímulo à oferta, ao investimento, ao aumento
da produtividade, sem o que não há crescimento sustentável”, diz
Nakabashi.
O suposto descontrole da política fiscal é o principal alvo dos
críticos do governo, mas há quem veja exagero na avaliação. “É desejável
que o governo cumpra sua meta de superávit primário [economia para
pagar os juros da dívida]”, diz. “Mas é preciso lembrar que, se não
fossem os pouco mais de R$ 70 bilhões em desonerações de impostos para
estimular a economia, o superávit de 2013 teria sido bem maior”, diz
João Ildebrando Bocchi, professor da PUC-SP e coautor do livro Economia
Brasileira.
Embora descarte a hipótese de um forte crescimento do PIB, Bocchi vê
razões para otimismo. “Teremos em 2014 o início dos investimentos nas
concessões leiloadas em 2013. Poderemos ter um crescimento econômico um
pouco melhor, a inflação um pouco mais baixa e um resultado fiscal não
surpreendente, mas ao menos mais confiável que o de 2013.”
Temor
“Tempestade perfeita” faria o dólar disparar
Alguns investidores e economistas temem em 2014 o que apelidaram de
“tempestade perfeita” – a combinação de um rebaixamento da classificação
de risco do país, provocada pela piora nas contas públicas, com o fim
do programa de estímulos do banco central norte-americano, o Fed.
Isoladamente, cada um desses eventos já seria capaz de empurrar o dólar
para cima, pressionando a inflação e forçando o Banco Central brasileiro
a elevar a taxa de juros; juntos, fariam estrago maior.
Mas, para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a
hipótese de uma tormenta dessas é frágil. “A política fiscal ficou mais
frouxa porque o governo estava buscando incentivar a economia. Acho que
ele estará mais atento, o que deve evitar um rebaixamento”, diz. “E o
Fed deve retirar seus estímulos de forma gradual, evitando uma disparada
do dólar.”
A ação do Fed parece mesmo caminhar nessa direção. Por outro lado,
uma das agências de risco (a S&P) avisou recentemente que pode
cortar a nota do Brasil antes mesmo das eleições.
Farol desregulado
Previsões econômicas (tanto as do ministro da Fazenda quanto as
feitas por gente do mercado, da academia ou do setor produtivo) não são
conhecidas por sua precisão. Não é raro que a comparação entre projeções
e resultados efetivos renda algum constrangimento – o mercado
financeiro, por exemplo, superestimou o resultado do PIB nos últimos
três anos. Ainda assim, as expectativas acabam servindo de farol para as
decisões dos “agentes econômicos” (trabalhadores, empresários,
investidores, governantes).