domingo, 26 de março de 2017

Os erros e acertos do passado: uma conversa sobre economia com Samuel Pessôa

  Muito boa a entrevista do Samuel Pessôa sobre o tamanho do Estado (carga tributária e gastos públicos) e de sua interferência na economia como sendo dimensões ortogonais. Enquanto que a primeira está relacionada ao Estado de bem-estar social que depende muito das demandas sociais, a segunda de escolhas de políticas econômicas e ideologia.

  Segundo o Samuel, o PT retorna às políticas econômicas adotadas pelo governo Geisel com maior intervenção do Estado na economia, sendo que os resultados são conhecidos.

  Vale a pena a meia hora de entrevista. Uma excelente aula! Didática, muito bem organizada e informativa.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Futuro da Indústria no Brasil


Futuro da Indústria no Brasil A crise econômica atual vem afetando duramente o mercado de trabalho desde o início de 2015, pois o cenário de elevação dos juros e impostos, corte de gastos por parte do governo, além das incertezas política e econômica, levou a uma forte retração na demanda agregada que ainda mantinha as vendas das empresas e o mercado de trabalho aquecidos.

Elas foram necessárias para consertar a rota insustentável em que o país se encontrava. A dificuldade em implementar o ajustes de forma rápida e na magnitude necessária vem piorando consideravelmente o cenário ao afetar negativamente às expectativas de empresários e famílias. Adicionalmente, a elevação do desemprego e queda na renda das famílias vem deteriorando ainda mais o mercado de trabalho ao reduzir a demanda do comércio e serviços, setores que vinham mantendo o mercado de trabalho aquecido e que são grandes geradores de emprego. 

Apesar de a crise afetar os setores de serviços e comércio de maneira mais evidente desde o início de 2015, o cenário é ruim para a indústria desde a crise internacional que se espalhou para diversos países em 2008/2009. Em 2009, a indústria criou apenas 18 mil empregos formais em todo o país, mas com uma grande recuperação em 2010: geração de 520 mil empregos. A partir de então, a criação foi cada vez menor, mas positiva até 2013. Em 2014, a destruição de postos de trabalho foi de 185 mil e, nos últimos doze meses (ago/14 a jul/15), ocorreu uma impressionante redução de 450 mil vagas no setor!

A crise econômica mundial gerou um excesso de oferta de produtos industrializados em escala mundial, com consequente queda em seus preços. Esse cenário aliado a um câmbio apreciado, à elevação salarial decorrente de um mercado de trabalho aquecido, sobretudo no setor de serviços, e à brusca queda da demanda a partir de 2015 ajuda a entender a rápida deterioração do setor industrial brasileiro em um curto intervalo de tempo. 

Comparando os segundos semestres de 2014 e 2015, o recuo da produção industrial foi de 5,2%, com a indústria de transformação representando apenas 10,9% do PIB em 2014. A indústria é um setor de maior dinamismo e de potencial de inovação e, por isso, a sua retração preocupa. A recente depreciação do real alivia o setor, assim como o processo de redução dos salários pelo qual o país vem passando. No entanto, como o setor é voltado, principalmente, para o mercado interno, ele ainda passará por dificuldades ao longo de 2015 antes de esboçar uma recuperação. 

Cabe salientar ainda que, para entender os problemas atuais da indústria, não basta olhar somente para os elementos conjunturais apontados acima. É preciso ir além para perceber que a perda de participação da indústria faz parte de um processo estrutural onde ocorreu um excesso de crescimento do setor até os anos 1980, com tentativa de abastecimento de quase todo o mercado nacional com bens produzidos no país, o que gerou uma ineficiência e falta de competitividade. Para que esse processo de perda de participação da indústria não se reverta, no longo prazo, é crucial que ocorra uma integração de seus segmentos mais competitivos com as cadeias produtivas globais, que sejam atacados os problemas de excesso de burocracia e de impostos, além de realização de esforços no sentido de melhoria na infraestrutura e na qualidade da força de trabalho. 

Luciano Nakabashi, doutor em economia, professor da FEA-RP/USP, pesquisador do CEPER/Fundace e do CNPQ. exercícios para emagrecer

domingo, 16 de agosto de 2015

Pensando o Brasil

 Série muito interessante de entrevistas elaboradas e patrocinadas pela Fecomercio SP sobre os problemas que precisamos enfrentar para entrar em um rota de crescimento sustentável.

  Vale a pena assistir os vídeos. O primeiro é sobre gastos públicos, mas acaba tocando em uma série de questões relevantes (clique aqui).

  Aproveite, pois são pessoas gabaritadas e, apesar de nunca haver consenso em temas econômicos, os entrevistados apontam para questões fundamentais que temos que pensar para alavancar o processo de crescimento e desenvolvimento econômico brasileiro.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Colhendo o que foi plantando

(Gazeta do Povo - 02/03/2015)

Gosto de um ditado que diz: “Colhemos o que plantamos”. Por mais que os resultados demorem a aparecer, em algum momento os efeitos de nossas ações passadas emergem em nossas vidas, queiramos ou não enxergar isso.

O cenário favorável da economia mundial, com efeitos positivos sobre o preço das commodities brasileiras, além das reformas realizadas nos governos dos presidentes Fernando Henrique e Lula, ajudam a explicar o bom desempenho da nossa economia na primeira década do milênio. No entanto, o momento favorável acomodou Lula e a sua equipe econômica de tal forma que eles apenas colheram os frutos, no segundo mandato, esquecendo-se de manter uma boa semeadura.

No primeiro mandato da presidente Dilma, as políticas econômicas adotadas para estimular a economia foram alteradas de maneira mais nítida e, juntamente com a deterioração do cenário internacional, resultaram em frutos colhidos não saborosos ou nutritivos.

No segundo mandato, a presidente parece ter se convencido de que é preciso mudar a semeadura. No entanto, ela disse que ia plantar um tipo de semente para os eleitores e para sua base de apoio político e está querendo plantar, pelo menos em parte, o tipo sugerido pelo seu principal oponente na última eleição.

Com essa estratégia, a presidente conseguiu garantir o quarto mandato consecutivo do Partido dos Trabalhadores, mas também acabou por se colocar em uma encruzilhada: ela parece saber da necessidade de reformas, mas tem uma base política e popular que é contra as mesmas, até mesmo por enfatizar na campanha que elas não seriam necessárias. No entanto, se nada for feito, os cenários econômico e político serão muito desfavoráveis no momento das próximas eleições federais e estaduais.

Embora eu esteja convencido da necessidade de reformas e ajustes – inclusive com redução dos direitos trabalhistas e mudanças tributárias, permitindo reduzir a burocracia e a carga tributária e, desse modo, melhorar o desempenho econômico brasileiro no longo prazo, o que seria positivo para todos os cidadãos –, percebo a resistência das pessoas quando se toca no assunto. O brasileiro médio está acostumado com um Estado paternalista e muitas vezes populista, sendo compatível com sua visão de curto prazo.

A presidente e sua equipe aproveitaram bem essa característica do brasileiro médio no momento eleitoral, mas também adotaram uma visão de curto prazo ao negligenciar os efeitos sobre o apoio político e popular para as reformas que se fazem necessárias, ainda mais quando se considera o momento delicado decorrente dos escândalos da Petrobras e da fratura política que ficou exposta a partir da estratégia do vale-tudo eleitoral. Infelizmente para a presidente e seu núcleo político, os frutos estão aparecendo rapidamente.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A tempestade perfeita

(Brasil Agro)

Os atuais cenários econômico e político que estão se formando no país podem ser funestos para a atual administração pública federal. Após enfrentar uma das eleições mais apertadas da história recente de nossa democracia, os problemas que foram “abafados” no período eleitoral começam a se tornar cada vez mais evidentes.


Apesar do fato de que, provavelmente, nunca saberemos as reais dimensões da corrupção envolvendo a Petrobras, várias das principais empreiteiras do país e parte de políticos da base governista, a população percebe que este é um dos maiores escândalos que o país já enfrentou tanto em relação ao número de envolvidos quanto aos valores astronômicos.

Na parte econômica, sem o cenário cor-de-rosa das propagandas eleitorais, a população também está percebendo que o futuro (próximo?) será sombrio, com estagnação econômica, elevada inflação, perda real de poder de compra e elevação do desemprego.

Aliando os dois cenários citados acima, a população está com a impressão de que estão pagando pelos erros de política econômica, enquanto os políticos estão saqueando nossas principais empresas estatais. Isso sem contar a relação custo-benefício do programa “bolsa empresário”, que foi financiado pelo BNDES e apresentou resultados medíocres tanto em termos de desenvolvimento e fortalecimento das empresas nacionais quanto no bem estar da sociedade brasileira.

Os resultados do último pleito indicam que quase a metade do eleitorado já estava insatisfeita com a atual administração pública federal. Com o anúncio de medidas recessivas e impopulares, mas necessárias, que foram demonizadas na disputa eleitoral, a atual administração vem desagradando parte da outra metade do eleitorado sem conquistar àqueles que votaram na oposição.

Temos ainda a possibilidade de racionamento de água em várias regiões do país, especialmente no estado de São Paulo, que atinge a popularidade das administrações públicas municipais e estaduais, mas também federal. Adicionalmente, a crise hídrica, que pode afetar a oferta de energia, também tem grande potencial de afetar negativamente a popularidade da administração pública federal e o desempenho da economia. Finalmente, a perda desastrada da presidência da Câmara dos Deputados e a redução da base governista que é confiável elevam o potencial de instabilidade política.

Boa parte dos problemas enfrentados atualmente é decorrente de erros de política econômica do PT que insistiu em uma série de medidas duvidosas que ficou conhecida como a “Nova Matriz Econômica”. Esta prometia uma revolução positiva nas condições econômicas e sociais brasileiras, mas entregou justamente o oposto.

Certamente os efeitos do cenário internacional não são insignificantes, mas é difícil argumentar que é a principal causa quando o pior já parece ter passado, enquanto o país está mergulhando, cada vez mais, em um período de recessão, que trará custos sociais importantes, sobretudo na parcela da população que elegeu a atual administração para mais quatro anos. 

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Dormindo no serviço


Em recente pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), constatou-se que a intenção de investimento dos empresários industriais, no ano corrente, é a menor desde 2010. Mesmo em relação a 2014, que foi um ano bem difícil para a indústria brasileira, ocorreu uma significativa queda nas intenções de investimento: de 78,1% dos empresários industriais em 2014 para 69,3% em 2015.

De acordo com os empresários entrevistados, o principal motivo para a baixa intenção de investimento é a incerteza econômica (77,4%), seguida por reavaliações da demanda (45%) e custo do crédito (34,2%). Podemos dizer que, atualmente, os erros de política econômica estão entre as principais causas dos três fatores mais relevantes para a baixa intenção de investimentos apontados pelos empresários industriais entrevistados.

As medidas de política econômica adotadas a partir do segundo mandato de Lula e intensificadas no primeiro mandato de Dilma, conhecidas como “Nova Matriz Econômica” – ou seja, estímulos fiscais setoriais, elevação do volume de crédito via bancos públicos, redução da taxa de juros de forma forçada e controle da taxa de câmbio para mantê-la competitiva –, resultaram em estagnação econômica, além da elevação da inflação, do déficit interno, que impacta a dívida do governo, e do déficit externo, com efeitos sobre a dívida externa.

Em outras palavras, a “Nova Matriz Econômica” e as tentativas de encobrir os problemas que começavam a aparecer, como o controle de preços administrados e a contabilidade criativa adotada pelo governo federal, são as principais responsáveis pela deterioração nos fundamentos da economia que levaram a um maior nível de instabilidade macroeconômica, com efeitos sobre a demanda agregada da economia e também do aumento do custo de crédito.

A nova equipe econômica denominada “liberal” foi composta para tentar arrumar a casa e colocar novamente a economia em uma rota de crescimento positivo de forma sustentável. O problema é que o trabalho é muito maior do que consertar as consequências de uma aventura irresponsável na condução da economia. Enquanto a equipe econômica anterior fazia suas experiências, o governo esqueceu que, para a manutenção do crescimento de longo prazo, reformas e investimentos são cruciais, e essa conta também está chegando para pagarmos.

Outra pesquisa da CNI sobre a competitividade internacional mostra que, entre os 14 principais concorrentes do Brasil, só não perdemos para a Argentina, sendo que o nosso país perdeu posições nos quesitos ambiente macroeconômico e infraestrutura/logística. Dessa forma, nesses últimos dois mandatos não foi comprometida somente a capacidade de crescimento no curto prazo, mas os efeitos também serão sentidos no médio e longo prazos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Petróleo em queda? Novamente a oferta e a demanda

(Gazeta do Povo - 28/12/2014)

A atual queda do preço do barril de petróleo, que ficou aquém da barreira dos US$ 60, sem corte da produção por parte dos países membros do cartel da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), parece uma contradição. Recentemente, o ministro de energia dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Suhail Al-Mazrouei, relatou à Bloomberg que a Opep não irá reduzir a oferta do produto mesmo que os preços fiquem abaixo de US$ 40 por barril

A referida organização fornece cerca de 40% do petróleo mundial e tem 85% das reservas, ou seja, possui grande poder na formação dos preços através do controle na quantidade ofertada, e poderia realizar cortes na produção para elevação dos preços se assim desejasse. Então, quais as causas que levaram às declarações do ministro árabe?

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que existem fontes alternativas de energia e, no conjunto, a sua oferta tem se elevado mais do que aquela do petróleo nas últimas décadas. Em segundo lugar, a crise internacional – que se iniciou em 2007 e ainda afeta duramente a Europa, além de começar a mostrar sinais mais claros no desempenho da economia chinesa – reduziu o crescimento previsto da demanda mundial por energia. Outro ponto importante é que a produção de petróleo e gás de xisto tem tornado os Estados Unidos cada vez menos dependentes das importações de petróleo. Finalmente, o preço do petróleo estava elevado, quando comparado com a média de décadas anteriores, mesmo descontando a inflação do período, estimulando o aumento da oferta de petróleo e de fontes alternativas de energia. Todos esses fatores levaram a um excesso de oferta, com consequente redução do preço do produto.

Um preço elevado do petróleo quase não tem efeitos sobre a demanda, no curto e médio prazo. No entanto, no longo prazo existe uma considerável substituição por fontes alternativas. Em economia, dizemos que a elasticidade-preço da demanda é pequena no curto prazo, mas elevada no longo prazo. Por exemplo, quem não se lembra do Proálcool, incentivado pelos choques do petróleo nos anos 70? O elevado preço do petróleo estimulou o governo militar brasileiro a procurar fontes alternativas que demandaram investimentos em pesquisa, inovações e investimentos na produção do etanol. Tudo isso leva um tempo considerável para ser realizado e, desse modo, o impacto sobre a demanda do petróleo, via substituição por fontes alternativas, acontece somente ao longo do tempo.

Atualmente, a Opep parece estar agindo de forma oposta para equilibrar a oferta e demanda, mas, sobretudo, com foco no longo prazo. Um preço mais baixo do petróleo irá desestimular novos investimentos na ampliação de sua produção futura e também em fontes alternativas, além de tirar do mercado os produtores com custos mais elevados, reduzindo a sua oferta futura e, portanto, elevando os preços ao longo do tempo. Em outras palavras, o que pode parecer um paradoxo do ponto de vista da decisão do cartel da Opep nada mais é do que uma decisão racional tomada na tentativa de maximizar o seu lucro intertemporalmente.