Futuro da Indústria no Brasil A crise econômica atual vem afetando duramente o mercado de trabalho desde o início de 2015, pois o cenário de elevação dos juros e impostos, corte de gastos por parte do governo, além das incertezas política e econômica, levou a uma forte retração na demanda agregada que ainda mantinha as vendas das empresas e o mercado de trabalho aquecidos.
Elas foram necessárias para consertar a rota insustentável em que o país se encontrava. A dificuldade em implementar o ajustes de forma rápida e na magnitude necessária vem piorando consideravelmente o cenário ao afetar negativamente às expectativas de empresários e famílias. Adicionalmente, a elevação do desemprego e queda na renda das famílias vem deteriorando ainda mais o mercado de trabalho ao reduzir a demanda do comércio e serviços, setores que vinham mantendo o mercado de trabalho aquecido e que são grandes geradores de emprego.
Apesar de a crise afetar os setores de serviços e comércio de maneira mais evidente desde o início de 2015, o cenário é ruim para a indústria desde a crise internacional que se espalhou para diversos países em 2008/2009. Em 2009, a indústria criou apenas 18 mil empregos formais em todo o país, mas com uma grande recuperação em 2010: geração de 520 mil empregos. A partir de então, a criação foi cada vez menor, mas positiva até 2013. Em 2014, a destruição de postos de trabalho foi de 185 mil e, nos últimos doze meses (ago/14 a jul/15), ocorreu uma impressionante redução de 450 mil vagas no setor!
A crise econômica mundial gerou um excesso de oferta de produtos industrializados em escala mundial, com consequente queda em seus preços. Esse cenário aliado a um câmbio apreciado, à elevação salarial decorrente de um mercado de trabalho aquecido, sobretudo no setor de serviços, e à brusca queda da demanda a partir de 2015 ajuda a entender a rápida deterioração do setor industrial brasileiro em um curto intervalo de tempo.
Comparando os segundos semestres de 2014 e 2015, o recuo da produção industrial foi de 5,2%, com a indústria de transformação representando apenas 10,9% do PIB em 2014. A indústria é um setor de maior dinamismo e de potencial de inovação e, por isso, a sua retração preocupa. A recente depreciação do real alivia o setor, assim como o processo de redução dos salários pelo qual o país vem passando. No entanto, como o setor é voltado, principalmente, para o mercado interno, ele ainda passará por dificuldades ao longo de 2015 antes de esboçar uma recuperação.
Cabe salientar ainda que, para entender os problemas atuais da indústria, não basta olhar somente para os elementos conjunturais apontados acima. É preciso ir além para perceber que a perda de participação da indústria faz parte de um processo estrutural onde ocorreu um excesso de crescimento do setor até os anos 1980, com tentativa de abastecimento de quase todo o mercado nacional com bens produzidos no país, o que gerou uma ineficiência e falta de competitividade. Para que esse processo de perda de participação da indústria não se reverta, no longo prazo, é crucial que ocorra uma integração de seus segmentos mais competitivos com as cadeias produtivas globais, que sejam atacados os problemas de excesso de burocracia e de impostos, além de realização de esforços no sentido de melhoria na infraestrutura e na qualidade da força de trabalho.
Luciano Nakabashi, doutor em economia, professor da FEA-RP/USP, pesquisador do CEPER/Fundace e do CNPQ.