segunda-feira, 14 de outubro de 2013
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Em busca da felicidade
Nós, economistas, somos obcecados por desvendar os fatores
fundamentais na determinação do crescimento e desenvolvimento econômico.
A razão para isso é que esse campo de pesquisa analisa o comportamento
do ser humano enquanto indivíduo que se relaciona no mercado, ou seja,
considerando todas as outras variáveis constantes, maior renda gera mais
consumo, que, por sua vez, reflete-se em níveis mais elevados de
satisfação e felicidade.
Essa relação entre renda, consumo e satisfação apontada pelos
economistas não é tão restrita quanto possa parecer à primeira vista. As
pessoas, em grande parte do mundo, inclusive no Brasil, têm uma grande
demanda reprimida por moradia, vestimentas e alimentação, entre outros
elementos básicos necessários à sobrevivência. Nessas regiões, uma
pequena elevação da renda e do consumo tem um grande potencial em
aliviar suas vidas sofridas.
Adicionalmente, a definição da palavra “consumo” é bem ampla. Por
exemplo, a demanda por serviços de saúde que melhoram a vida da
população de diversas maneiras é uma das que mais aumentam atualmente,
sendo possível graças à elevação da renda per capita, pois o preço dessa
categoria de serviços é bem elevado. Que cidadão não gostaria de chegar
à terceira idade com saúde para aproveitar bem a aposentadoria?
O consumo também vem na forma de mais segurança, não apenas de forma
privada, ao contratar seguranças, instalar portões eletrônicos e cercas
elétricas, mas sobretudo sob a forma de gastos em melhorias dos
sistemas judiciário e de segurança pública. Em países onde esses
sistemas têm um bom funcionamento, não é necessária a realização de
gastos privados substanciais em segurança como na instalação de portões,
grades e, muito menos, cercas elétricas e vigias.
Podemos pensar também na educação. Mesmo sendo um tipo de
investimento (assim como gastos em saúde), pois eleva a produtividade do trabalho, a educação também é
uma forma de consumo. Não colocamos nossos filhos na escola pensando
somente em seus retornos salariais futuros. Uma boa formação traz uma
satisfação pessoal que vai muito além dos rendimentos, inclusive com
potencial de redução da criminalidade quando existe um bom sistema
educacional em nível nacional.
Poderíamos nos estender nos tipos de consumo que são decorrentes da
elevação da renda e que levam a melhorias no nível de bem-estar social.
No entanto, os exemplos citados são suficientes para entender o excesso
de foco sobre os determinantes da renda (que gera consumo) por parte dos
economistas.
O problema é que existem outros fatores tão importantes quanto a
renda na determinação do nível de bem-estar social, mas que são
praticamente desconsiderados nas análises econômicas, como aqueles
ressaltados no relatório de felicidade global divulgado pela Organização
das Nações Unidas (ONU). Alguns elementos considerados no relatório,
além da renda per capita e saúde, são índices que tentam mensurar
companheirismo (ter alguém em quem confiar), liberdade de escolhas,
corrupção e generosidade. Poderíamos pensar também em fé em Deus e em
vida após a morte, aceitação em relação às diferenças individuais e
sociais, círculos de amizade, sustentabilidade ambiental, nível de
estresse no trabalho, família e lazer, para citar alguns elementos
importantes.
Portanto, os economistas, em suas análises voltadas para o nível de
bem-estar social, precisam se concentrar mais em outros elementos
importantes na sua determinação, visto que um dos nossos principais
objetivos é justamente entender as determinantes do nível de bem-estar
social, do qual a renda (que gera consumo) é somente um deles.
domingo, 29 de setembro de 2013
Esse cara flutua
Gosto de olhar as pessoas e ver o potencial que elas têm em realizar as coisas. Esse vídeo parece não ter nada a ver com o tema economia e desenvolvimento, mas, em última instância, tudo parte das pessoas, sejam as decisões de investimento, da formação das instituições, do esforço no trabalho, etc. Quando o indivíduo possui uma meta, faz o planejamento, coloca energia em sua realização, as coisas acontecem, como pode ser visto no vídeo. Quando uma nação traça uma meta voltada para o desenvolvimento econômico e social, faz um planejamento adequado, cuidadoso e diligente e coloca energia nesse projeto, o resultado é que as coisas acontecem.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Entrevista com Edmund Phelps
O prêmio Nobel em economia Edmund Phelps deu um entrevista para a Revista Exame (clique aqui) falando sobre a importância da inovação sobre o crescimento de longo prazo, o que não é nenhuma novidade.
No entanto, ele coloca algumas coisas bem interessantes que não são convencionais no pensamento dominante em economia. Um exemplo é como a lei de patentes foi longe demais, em alguns casos. Para ele, para dinamizar a economia americana, todas as patentes deveriam ser extintas, recomeçando tudo do zero, ou seja, novas patentes seriam concedidas somente para inovações feitas a partir do período atual.
Outro ponto relevante que ele coloca, e que em muitos modelos econômicos o mecanismo é mais restrito, é que as inovações dependem não somente das pessoas engajadas em processos de P&D, mas também das pessoas que estão ligadas diretamente ao processo produtivo. Paul Romer também enfatiza esse ponto em um artigo de 1993. Vale a pena ler a entrevista!
terça-feira, 2 de julho de 2013
Manifestações e governo no Brasil
(Gazeta do Povo - 02/07/2013)
As recentes manifestações que ocorreram no país mostram certa
insatisfação da população brasileira com nossos governantes. Pela
primeira vez desde a eleição do governo Dilma, a oposição sente que tem
chances de vencer o governo atual nas eleições de 2014, mesmo
considerando que as manifestações vão muito além de uma disputa entre
situação e oposição.
O povo brasileiro está cansado de tanta corrupção, desigualdade de
renda, serviços públicos precários, sensação de insegurança nas ruas,
elevada carga tributária, ineficiência nos gastos públicos e elevação da
inflação, além do estilo autoritário e inflexível da presidente. O
estranho é pensar sobre as razões que levaram a população às ruas no
momento atual, em que a economia apresentou uma significativa evolução
em relação aos anos 80 e 90, além de presenciar sensível melhora na
renda média e na sua distribuição, nos anos 2000.
A minha impressão é de que, depois de sentir a possibilidade de que o
país entraria em uma rota segura de crescimento da renda e de
desenvolvimento econômico (semelhante à sensação que a população
brasileira presenciou nos anos 70), o enfraquecimento econômico e os
sinais cada vez mais claros de que ele é resultante de problemas
internos deixaram a população transtornada. Mais uma vez, somos apenas o
país do futuro.
A contradição nas manifestações é que sempre existe uma demanda que
pressiona os gastos públicos como, por exemplo, redução das tarifas e
melhora dos sistemas de educação e saúde, além da segurança. No entanto,
quase todas as sugestões de especialistas para que se possa colocar a
economia novamente em uma rota de crescimento passam por reduções dos
gastos do governo.
O governo precisa reduzir os seus gastos como proporção do PIB para:
conter a inflação e reverter o novo ciclo de elevação dos juros, o que é
essencial para estimular os investimentos; reduzir a dívida pública, o
que também favorece os investimentos ao fortalecer os fundamentos
econômicos; reduzir a carga tributária, favorecendo a poupança e
investimento privados; elevar a poupança do governo, reativando a
capacidade de investimentos em infraestrutura, educação e saúde; fazer
frente às demandas futuras de elevação dos gastos previdenciários.
Desse modo, é preciso entender que o governo no Brasil já é muito
grande e maiores demandas irão redundar em instabilidade econômica e
redução do crescimento devido à elevação da dívida pública e da carga
tributária futura, além de estimular a inflação pelo aumento da demanda e
da pressão em se emitir moeda para fechar as contas públicas. Uma carga
tributária mais elevada, com o excesso de burocracia existente, irá
sufocar ainda mais o setor privado, gerar novas oportunidades de
corrupção e reduzir a capacidade de crescimento no futuro.
Os jovens que estão saindo às ruas precisam se perguntar o que eles
podem fazer por essa nação e não somente o que o país pode fazer por
eles. Um dos pontos mais importantes para se focar é na educação,
trabalho com determinação, além da busca de informações sobre as medidas
necessárias para que o país possa encontrar uma rota de crescimento
sustentável, com distribuição de renda e respeito aos menos favorecidos e
ao meio ambiente.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Automóveis e instituições
(Diário da Manhã - 12/06/2013)
Um dos fatores cruciais na determinação do desenvolvimento de uma
economia é qualidade de suas instituições. O arcabouço institucional
fornece os mecanismos de incentivos aos agentes econômicos como, por
exemplo, a garantia do direito de propriedade que estimula os
investimentos produtivos ao propiciar ao indivíduo o retorno de seus
investimentos e trabalho.
Um bom exemplo do papel das instituições pode ser encontrado
no setor automobilístico. Em uma recente reportagem da agência
Associated Press, republicada por vários veículos de comunicação como o
The New York Times e Washington Post, pode-se notar que o diferencial de
segurança é extraordinário em modelos similares vendidos no Brasil,
Estados Unidos e Europa. A menor segurança dos modelos similares
vendidos no Brasil também pode ser verificada pelos testes realizados
pela Latin NCAP e Euro NCAP, institutos independentes que realizam
testes de segurança dos veículos vendidos na América Latina e Europa,
respectivamente. Nos testes, por exemplo, a versão do Nissan March produzido no mesmo
país, México, e vendido para o Brasil obteve duas estrelas, enquanto
que aquela destinada à Europa obteve quatro estrelas, em um máximo de
cinco.
Considerando que são as mesmas empresas que produzem e vendem
os veículos nas diferentes regiões, é razoável supor que a tecnologia
disponível para o processo produtivo é a mesma, ou seja, a qualidade do
produto poderia ser a idêntica independentemente onde o veículo é
produzido. Então porque a qualidade - em termos de segurança, pelo menos
- não é a mesma? A resposta é clara: a qualidade institucional varia
nas regiões, sendo que ela é pior no caso brasileiro.
Na reportagem, um engenheiro da indústria automotiva, que não
quis se identificar, menciona que em uma versão existe um reforço na
estrutura do veículo, enquanto que na outra não. De qualquer forma, os
carros que são produzidos e vendidos em nosso mercado estão de acordo
com as normas brasileiras de segurança. Desse modo, as empresas do setor
do setor automobilístico só estão respondendo aos mecanismos de
incentivos diferentes.
Se as leis fossem mais rígidas no quesito segurança, os carros
vendidos no mercado brasileiro seriam mais seguros com pouco efeito
sobre os custos e preço de venda. Essa é uma questão que o mercado não
consegue resolver muito bem, pois as empresas usam os itens de segurança
para discriminar preço, ou seja, cobrar mais caro das pessoas que estão
dispostas a pagar por um produto com pequenas alterações. Um bom
exemplo é que o custo do airbag duplo instalado fica em torno R$ 140,00
para o fabricante, enquanto que o preço cobrado ao consumidor ficava
entre R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00, poucos anos atrás. Outro ponto
importante é que as pessoas não avaliam muito bem os riscos de um
acidente de carro, ou seja, acham que a probabilidade de ocorrência é menor do que realmente é.
Com carros menos seguros, os custos sociais e mesmo
estritamente econômicos acabam sendo mais altos. Acidentes deixam
pessoas incapacitadas, pressionando a previdência, aumentam os custos
nos hospitais pelo maior número de feridos e com maior gravidade nos
acidentes, além de retirar a vida de muitas pessoas, com um custo que é
difícil de ser mensurado. Ponderando pelo preço que se paga por um
automóvel no Brasil, o mínimo que se poderia esperar é um produto de
qualidade. Como uma boa parcela do preço é decorrente dos impostos, o
governo deveria dar um retorno mais adequado no sentido de fornecer uma
legislação mais rígida.
O que esse exemplo ressalta é que a baixa qualidade das
instituições faz com que todos percam, pois os custos adicionais para
melhorar a segurança são consideravelmente menores do que os custos
associados a veículos com reduzida segurança. Analisando que a qualidade
das instituições afetam todos os setores produtivos da economia, dá para imaginar que seus
efeitos sobre o nível de desenvolvimento de um país são consideráveis.
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