sexta-feira, 15 de junho de 2012

O debate sobre as estratégias de crescimento - escrito com Rudinei Toneto Júnior e Guilherme Byrro Lopes


Existe, atualmente, um grande debate sobre as estratégias de crescimento da economia brasileira e qual seria o melhor modelo a ser adotado. Existe certo consenso de que o modelo de crescimento baseado no consumo das famílias adotado na era Lula está se esgotado e que o foco deve mudar para a elevação dos investimentos produtivos.
No entanto, não existiu no governo Lula uma clara estratégia de crescimento econômico, mas medidas para estimular a economia. A ampliação do crédito às famílias, a maior atuação do BNDES para incentivar o investimento produtivo e consolidar grandes grupos, a transferência de renda para as famílias mais carentes, a ampliação do "mercado consumidor" que possibilitou ganhos de escala de produtividade e os aumentos significativos da formalização da economia que também se refletem na melhora da produtividade, nos remetem a um tipo de desenvolvimentismo pragmático.
Além das medidas listadas anteriormente, um dos grandes incentivos ao crescimento no período foi a forte demanda externa puxada principalmente pelo crescimento da economia chinesa e pela forte depreciação do real no primeiro mandato do governo Lula, sendo que esses dois efeitos não foram resultados de ações conscientes do governo para elevar o crescimento.
Uma evidência da falta de estratégia clara em bem estruturada para acelerar o crescimento da economia brasileira é que o seu desempenho foi semelhante ao do resto do mundo. De acordo com os dados do Banco Mundial, a participação do PIB da economia brasileira no PIB mundial permaneceu praticamente estável no período 2002-2010, em torno de 2,85%. Portanto, o nosso melhor desempenho coincidiu e foi causado parcialmente pelo bom momento em que se encontrava a economia mundial. Não é por acaso que o desempenho brasileiro piorou de forma considerável a partir de 2010 com o agravamento da crise econômica internacional.
A mudança de foco para os investimentos produtivos é positiva e necessária, mas apresenta somente parte da resolução do problema. De fato, é preciso elevar a taxa de investimento produtivo da economia brasileira para que se criem as condições necessárias para alavancar o crescimento sem gerar pressões inflacionárias. No entanto, somente essa mudança não é o suficiente. A história brasileira e de outros países mostra que o bom desempenho econômico sustentável só pode ser alcançado com a melhora da produtividade, ou seja, quando se produz mais com a mesma quantidade de capital e trabalho.
Focar somente em uma estratégia de elevação da taxa de investimento desvia a atenção desse ponto fundamental e que precisa ser levado em consideração para que a nosso país possa deixar de ser considerado como “o do futuro”. Para elevar a produtividade é preciso que boa parte dos investimentos produtivos seja destinada à melhora e ampliação da infraestrutura econômica (rodovias, ferrovias, energia, portos, etc.), que sejam realizados investimentos consideráveis para melhorar a qualidade do sistema educacional e na capacitação profissional dos trabalhadores e estimular o crescimento de setores econômicos que possuem maior produtividade, potencial de inovação e ligações com outros segmentos da economia, sendo que estes estão concentrados na indústria de transformação, em parte da agropecuária voltada para exportação e em alguns segmentos do setor de serviços que possuem maior conexão com a indústria. Por fim, o governo precisa assegurar que as regras econômicas sejam aperfeiçoadas e respeitadas para estimular o espírito empresarial na busca do lucro que acaba por gerar efeitos positivos sobre o investimento e a produtividade. 

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