Estudar as causas das diferenças no nível de desenvolvimento das
economias está sempre entre os objetivos dos economistas. Embora o
conceito de desenvolvimento venha sendo ampliado, ao longo dos anos, a
fim de captar de forma mais abrangente o bem-estar das sociedades, é
consenso na literatura econômica que o elevado nível de produto per
capita possibilita aos países, regiões ou municípios atingir um padrão
de vida mais elevado e, de certa forma, promover o bem-estar social.
Entender quais são as variáveis relevantes na determinação da renda
de uma economia e de que forma essas variáveis se relacionam é
fundamental, sobretudo como forma de embasar políticas econômicas
futuras. A literatura que aborda o crescimento e desenvolvimento
econômico ressalta que o investimento em capital físico, capital humano
e tecnologia são essenciais para atingir níveis elevados de
desenvolvimento. Tem-se ressaltado, também, a importância das
instituições políticas e econômicas sólidas nesse processo.
Qualidade das instituições vigentes em cada município afeta o nível de produto per capita
Douglass North, ganhador do prêmio Nobel em economia e professor da
Universidade de Washington, em um artigo seminal publicado em 1991,
define as instituições como regras do jogo em uma sociedade, por
assegurarem os direitos de propriedade, fornecendo incentivos aos
investimentos, propiciando melhor ou pior distribuição de riqueza,
poder político, capital humano e promovendo a inovação. Portanto, a
evolução do arcabouço institucional dos países ao longo da história, na
medida em que influenciou o montante de investimentos produtivos e as
atividades a que estes investimentos foram direcionados, pode ser vista
como determinante para suas diferentes trajetórias de crescimento.
Um bom exemplo é quando se compara a evolução econômica das
ex-colônias europeias na América - o Novo Mundo - onde a formação das
instituições originais é ponto fundamental para se compreender a grande
disparidade de renda e de nível de desenvolvimento existe entre elas.
Algumas colônias, como Caribe e Brasil, desfrutavam de condições de
clima e solo extremamente favoráveis à produção de culturas altamente
valorizadas no mercado internacional e mais eficientemente produzidas
em grandes plantações com trabalho escravo (como açúcar, café e
tabaco). Houve, portanto, grande fluxo de escravos africanos para essas
regiões, possibilitando economias de escala na produção de
commodities. A ampla escravidão contribuiu para a distribuição desigual
de riqueza, capital humano e poder político nessas regiões e,
consequentemente, para a formação de instituições extrativas que não
foram favoráveis ao crescimento e desenvolvimento subsequentes ao
limitarem as oportunidades econômicas a uma parcela mais ampla da
população.
Para capturar esses efeitos empiricamente, realizamos uma análise
considerando os municípios brasileiros com dados para o ano 2000.
Também utilizamos procedimentos estatísticos que controlam para o
problema da endogeneidade, ou seja, de que um maior nível de renda
também pode melhorar as instituições (regiões mais ricas tendem a
investir mais em policiamento, em educação para a população como um
todo, etc.)
Para mensurar a qualidade das instituições, foi empregado o Índice de Qualidade Institucional Municipal (IQIM) elaborado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão em 2005, com base na Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 1999 do IBGE.
Os resultados indicam que a qualidade das instituições vigentes em
cada município afeta o nível de produto per capita. Após decompor o
nível de produto entre os fatores de produção (capital físico, capital
humano e tecnologia), observou-se que este efeito ocorre devido ao
impacto positivo da qualidade institucional sobre a produtividade total
de fatores e sobre o estoque de capital humano. Os efeitos positivos
da qualidade institucional sobre produtividade, capital humano e nível
de produto per capita permanecem mesmo quando se leva em consideração
outras variáveis, como distribuição de renda, grau de urbanização e
distância à capital do Estado. Em outras palavras, uma melhora no nível
das instituições municipais incentiva as pessoas a elevarem o
investimento em sua formação acadêmica e profissional, assim como
estimula a elevação na produtividade por parte das firmas, pois uma
maior parte do retorno será retida por elas.
Adicionalmente, pode-se notar que há uma diferença no impacto da
qualidade institucional sobre o produto e sobre o estoque de capital
humano entre municípios com tamanhos de população diversos. Nos grandes
municípios, o efeito das instituições é significativamente maior sobre
essas variáveis. Em especial, nos resultados para a amostra de 224
maiores municípios do país (com mais de 100 mil habitantes), o
indicador de qualidade institucional municipal foi a única variável
importante na determinação do nível de produto, produtividade e capital
humano per capita. Esses resultados indicam que municípios maiores
possuem mais problemas de coordenação, mais dificuldade em resolver
seus problemas coletivos com base apenas na confiança, e, por isso, as
instituições devam ser mais relevantes no processo de desenvolvimento.
Em suma, os resultados do estudo indicam que melhores instituições
são de extrema relevância para que ocorra um melhora na acumulação de
capital humano e na aceleração da produtividade dos municípios
brasileiros e, consequentemente, na determinação da renda per capita.
Os investimentos na melhora institucional geram mudanças ao longo do
tempo e quase não são perceptíveis no curto prazo, mas são essenciais
para que os municípios brasileiros possam experimentar crescimento
econômico de forma sustentável, além de propiciarem maior igualdade,
liberdade e oportunidades para uma parcela mais ampla da população.
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