quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Tropa de Elite

Ontem à noite, aproveitando a véspera do feriado para descansar um pouco, eu estava assistindo o filme Tropa de Elite pela segunda vez e, novamente, fiquei chocado com o grau de corrupção e violência em nosso país. Apesar de alguns exageros, imagino que o filme retrata bem a realidade de algumas regiões brasileiras. l Depois disso, deitei na cama do meu filho (que já estava dormindo) e fiquei pensando como é a realidade de cada uma dessas crianças que vive em uma família desestruturada, sem condições de saúde e educação adequadas (na escola e em casa), onde o exemplo é o traficante que "protege" os moradores do morro e o custo de oportunidade para entrar no tráfico é muito baixo. l Essas crianças já estão atrás das demais ao receberem menos cuidados em relação à nutrição e saúde (em casa e por dependerem do sistema público de saúde de baixa qualidade), pois os efeitos sobre o desenvolvimento físico, psicológico e intelectual são relevantes. Os pais, quando elas têm os dois, dão menos importância à escola e ao aprendizado, acompanham menos o desempenho escolar do filho e a escola é de pior qualidade tanto no ensino quanto no ambiente. l Desse modo, é evidente que o desempenho escolar e aprendizado serão muito baixos, levando ao abandono escolar, até mesmo porque sem aprendizado não há efeitos na produtividade e, consequentemente, nos salários. Os valores também são distorcidos, pois o traficante é um exemplo, a pessoa que protege a comunidade e que consegue progredir na vida. Assim, o caminho para o tráfico é natural, ou seja, é difícil culpar essa molecada por entrar “nesse negócio”. l O filme enfatiza a culpa das pessoas que usam drogas, pois estão financiando o tráfico de drogas e armas, além do sistema corrupto que favorece ainda mais essa situação. De fato, os consumidores financiam o tráfico e a corrupção no Brasil é generalizada. Então, o que fazer para mudar essa situação que piora cada vez mais? Que mundo nós estamos deixando para nossos filhos? De fato, fiquei pensando nessas coisas depois do filme quando estava deitando com meu filho. l Temos que investir em educação para melhorar a qualidade do sistema público, mas isso não resolve o problema da estrutura familiar e do ambiente social no médio prazo (e também tenho minhas dúvidas sobre os efeitos de longo prazo nessas comunidades). Talvez, uma população mais educada ajude a reduzir a corrupção ao longo do tempo, mas acho que os efeitos demoram a aparecer. l Também não acho que os usuários de drogas terão mais consciência em relação à parte que eles têm em todo esse sistema. Assim, juntamente com a melhora no sistema educacional, não consigo visualizar outra saída que não seja a legalização da venda e uso das drogas. É o meio de tirar esse dinheiro do tráfico de armas e dos policiais e políticos corruptos. Provavelmente, o consumo de drogas irá aumentar, mas teremos uma redução da violência, da corrupção e os filhos dessas famílias de baixa renda terão melhoras reais nas oportunidades econômicas (considerando que ocorra uma melhora concomitante no sistema educacional). l O governo teria que colocar um imposto elevado, mas não a ponto de estimular o tráfico, e usar esse dinheiro para tratar os usuários, em propagandas para desestimular o uso de entorpecentes, em cursos nas escolas para conscientizar as crianças e adolescentes, estipular leis (e fazer com que sejam cumpridas) que limitem o seu uso em local público, entre outras medidas para desestimular o seu uso. Um bom exemplo é a campanha para reduzir o uso de outra droga que já é legalizada: o cigarro.

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