Déficit brasileiro nas contas externas tende a piorar
Especialista: crise de 2007/2008 deixa resquícios até hoje
Os números do balanço de pagamento
do primeiro trimestre no Brasil deflagraram um déficit de US$ 24,9
bilhões nas contas externas. O principal motivo para essa situação foi o
fraco desempenho da balança comercial brasileira, que registrou déficit
de US$ 5,2 bilhões no mesmo período. Para especialista e para o próprio
Banco Central (BC) a tendência é piorar.
Desde a crise da economia
mundial entre 2007 e 2008, a balança comercial brasileira não conseguiu
se recuperar. Um dos principais motivos foi a redução de crescimento
das principais potências do mundo, que diminuíram seus níveis de
importação. Com menos demanda, as vendas de produtos brasileiros para o
exterior foram afetadas.
Outro fator que contribui para os
números negativos é a sobra de produtos manufaturados. A alta da oferta
desses produtos desvalorizou seus preços, piorando as exportações. Nas
previsões do Banco Central, o déficit das contas externas deve ser
de US$ 67 bilhões no ano, contudo, o BC avalia que a situação não
preocupa e alega questões sazonais para os problemas na balança.
Já
o professor da Faculdade de Economia da USP/Ribeirão Preto, Luciano
Nakabashi, adverte que a questão não é tão confortável. Além dos
problemas de remessa de lucros
por empresas que tentam compensar os maus resultados e gastos de
turistas brasileiros no exterior, há uma questão estrutural que ajuda a
dificultar:
"Esse déficit 2,9% do PIB na conta corrente já
é elevado. Está acontecendo um fluxo de capitais muito grande, os
países procuram um local pra investir e isso aprecia o câmbio no Brasil.
Analisando os números dos últimos anos, desde a crise, esse rombo nas
contas externas deve se manter", explica.
Para Nakabashi, a alta dos juros é outro fator de risco que pode representar uma piora no futuro. Os juros reais brasileiros ainda são considerados baixos, mas não tanto quanto os da Europa ou dos EUA:
"O
dinheiro procura algum lugar para render e hoje existe um excesso de
capital e de bens no mercado. Com os juros na Europa e nos EUA em níveis
extremamente baixos, é possível apontar que a alta dos juros
brasileiros atraia a entrada de moeda estrangeira, pressionando o câmbio
no Brasil. Assim, com a valorização do real, é provável que a balança
comercial fique ainda mais afetada", pondera o economista.
Por
outro lado, Nakabashi não enxerga outra solução diferente para o governo
tentar controlar os preços internos - "O Governo disse que iria
controlar os gastos, mas não o fez. Agora precisa aumentar os juros. Não
que a inflação esteja em níveis tão alarmantes, mas o BC precisava
recuperar sua credibilidade", finaliza.
O mês de abril, que estava
superavitário, registrou déficit de US$ 2,27 bilhões, em sua terceira
semana. Com isso, o acumulado do ano registra um déficit de US$ 6,489
bilhões.
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