Entre a cruz e a espada, ou a inflação e o baixo crescimento. Foi
nesse cenário que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central decidiu, ontem à noite, elevar em 0,25 ponto porcentual a taxa
básica de juros. A elevação foi definida por seis votos a dois e
motivada, segundo analistas, pela resistência da alta dos preços, que
acumulou 6,59% nos últimos 12 meses findos em março, segundo o indicador
oficial, o IPCA.
Outros sinais, como a queda nas vendas do
varejo, ainda em fevereiro, também colaboraram para uma mudança de
postura da autoridade monetária.
Ainda em que pequena medida, a decisão pôs fim a um ciclo histórico
de baixas. De agosto de 2011 a outubro de 2012, a Selic caiu 5,25 pontos
porcentuais e era mantida desde então.
Para o economista e professor da USP de Ribeirão Preto, Luciano
Nakabashi, a alta da Selic era mesmo o jeito mais eficiente de frear a
inflação, visto que o governo não “faz a sua parte” cortando gastos. “Ao
elevar os juros, aumenta a atratividade para os bancos comerciais
comprarem títulos do governo ao invés de emprestar para o público
(pessoas físicas e jurídicas), reduzindo a oferta de crédito e elevando
os juros de outras linhas de financiamento”. Para ele, a pequena alta
não traz impacto em si, mas inicia um processo de elevação que sim, com o
tempo, terá efeito relevante.
Até mesmo um “militante dos juros baixos” como o vice-presidente da
Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro
de Oliveira, concorda com a elevação da Selic, principalmente como forma
de resgatar a credibilidade do Banco Central em relação ao comando da
política monetária do país e também de dar o recado certo ao mercado de
que, sim, o país vê o combate à inflação como algo prioritário. “No
geral, nós temos juros ainda altos, com um cenário futuro de
inadimplência em queda e de crescimento maior do país neste ano ante
2012. Mas, diante do IPCA acumulado em março, uma subida, desde que
pequena, era um mal necessário”, opina. Segundo as simulações da Anefac,
o impacto da elevação deve ser pequeno nas operações ao consumidor
(veja no gráfico).
Perspectivas
O economista e professor associado da Fucape Business School,
Cristiano M. Costa, acredita que um novo ciclo de alta, ainda que ameno,
agora permitirá juros ainda baixos para 2014. “Se este objetivo de
trazer a inflação para o centro da meta for atingido até o fim do ano, o
governo pode pensar em reverter o ciclo de alta já no início de 2014,
sem comprometer em demasia o crescimento da economia.” No geral, o
mercado vê 2013 e 2014 encerrando com taxa a 8,5%.
Poupança segue ganhando dos fundos
Mesmo com a Selic a 7,5%, os rendimentos das cadernetas de poupança
continuarão mais interessantes que a maioria dos fundos de renda fixa.
Os depósitos antigos – anteriores a maio de 2012, quando as novas regras
da poupança entraram em vigor – renderão 6,17% ao ano + TR, e os novos,
5,25% + TR. Na maioria das simulações da Anefac, a poupança sai na
frente por ter seu ganho garantido e não sofrer qualquer tributação
enquanto os fundos têm o desconto do imposto de renda (quando menor o
prazo de resgate, maior o valor do imposto), além da cobrança da taxa de
administração cobrada pelos bancos.
A situação só se inverte para fundos com prazo de resgate mais longos
(principalmente aqueles acima de 2 anos) e taxas de administração mais
baixas (entre 0,5% e 1,5%).
As novas regras da poupança (70% da Selic + TR) serão válidas sempre
que a taxa básica de juros for igual ou inferior a 8,5% ao ano.
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