quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pleno Emprego?


Recentemente, alguns analistas econômicos têm argumentado que a economia brasileira vem apresentando uma situação estranha de baixo crescimento com pleno emprego. A conclusão é decorrente de uma redução continua da taxa de desemprego desde 2003, com exceção do ano em que a crise internacional afetou o país de forma mais acentuada: 2009. Peço desculpa ao leitor, mas para explicar o que vem ocorrendo, mostrarei uma série de dados que atrapalham um pouco a leitura.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostram que a taxa de desemprego caiu de 9,72%, em 2003, para 6,32%, em 2012, ou seja, consideráveis 3,4 pontos porcentuais, o que equivale a uma queda de 35%. De 2009 até 2012, a taxa de desemprego passou de 8,41% para 6,32% (os últimos dados da Pnad que são comparáveis com anos anteriores são de 2012).
Essas observações, juntamente com um fraco desempenho da economia brasileira, que cresceu a uma taxa média de 2,1% nos últimos três anos, e que provavelmente crescerá ainda menos em 2014, geram a incógnita mencionada acima.

Para explicar tal situação, alguns analistas argumentaram que as empresas não estavam demitindo à espera de uma melhora na economia, pois os custos de se demitir e contratar novamente, no período de recuperação, seriam elevados. No entanto, essa hipótese não se sustenta quando se analisa os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, de desligamentos e contratações de empregados. Eles mostram a existência de um processo de elevação contínua no número de processos de desligamentos: 15.192.529, em 2009; 17.067.900, em 2010; 18.996.577,00, em 2011; 19.563.798, em 2012; e 20.211.364, em 2013.

Desse modo, os processos de desligamentos vêm sendo cada vez maiores, indicando que as empresas não estão deixando de demitir, muito pelo contrário. Pode-se argumentar que os trabalhadores vêm pedindo demissão devido a novas oportunidades de trabalho; hipótese difícil de ser sustentada quando se olha para o saldo líquido de criação de empregos decrescente desde 2010 (também pelos dados do Caged) e para o fraco desempenho da economia após 2010.

Então, o que explica a redução da taxa de desemprego mesmo com o fraco desempenho da economia brasileira? Os dados da Pnad indicam que, após 2008, a taxa de desemprego só caiu por causa da redução na taxa de participação, ou seja, da relação entre as pessoas que estão no mercado de trabalho (empregados ou procurando emprego), também chamada de população economicamente ativa, sobre o total de pessoas em idade de trabalhar ou população em idade ativa.

Podemos fazer um exercício considerando a taxa de participação constante desde 2008, o ano pré-crise no Brasil, ou seja, considerar que a mesma proporção de pessoas se manteve no mercado de trabalho. Nesse caso, a taxa de desemprego teria passado de 7,24%, em 2008, para 8,46%, em 2012, o que corresponde a uma elevação de 16,80%. Isso não ocorreu porque os desempregados estão desistindo de procurar emprego.

A economia está fraca e a criação de empregos também. Com os desempregados desistindo de procurar emprego fica difícil sustentar a hipótese de que a economia brasileira se encontra em pleno emprego.

Nenhum comentário:

Postar um comentário