Recentemente, alguns analistas econômicos têm argumentado que a
economia brasileira vem apresentando uma situação estranha de baixo
crescimento com pleno emprego. A conclusão é decorrente de uma redução
continua da taxa de desemprego desde 2003, com exceção do ano em que a
crise internacional afetou o país de forma mais acentuada: 2009. Peço
desculpa ao leitor, mas para explicar o que vem ocorrendo, mostrarei uma
série de dados que atrapalham um pouco a leitura.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
mostram que a taxa de desemprego caiu de 9,72%, em 2003, para 6,32%, em
2012, ou seja, consideráveis 3,4 pontos porcentuais, o que equivale a
uma queda de 35%. De 2009 até 2012, a taxa de desemprego passou de 8,41%
para 6,32% (os últimos dados da Pnad que são comparáveis com anos
anteriores são de 2012).
Essas observações, juntamente com um fraco desempenho da economia
brasileira, que cresceu a uma taxa média de 2,1% nos últimos três anos, e
que provavelmente crescerá ainda menos em 2014, geram a incógnita
mencionada acima.
Para explicar tal situação, alguns analistas argumentaram que as
empresas não estavam demitindo à espera de uma melhora na economia, pois
os custos de se demitir e contratar novamente, no período de
recuperação, seriam elevados. No entanto, essa hipótese não se sustenta
quando se analisa os dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, de
desligamentos e contratações de empregados. Eles mostram a existência de
um processo de elevação contínua no número de processos de
desligamentos: 15.192.529, em 2009; 17.067.900, em 2010; 18.996.577,00,
em 2011; 19.563.798, em 2012; e 20.211.364, em 2013.
Desse modo, os processos de desligamentos vêm sendo cada vez maiores,
indicando que as empresas não estão deixando de demitir, muito pelo
contrário. Pode-se argumentar que os trabalhadores vêm pedindo demissão
devido a novas oportunidades de trabalho; hipótese difícil de ser
sustentada quando se olha para o saldo líquido de criação de empregos
decrescente desde 2010 (também pelos dados do Caged) e para o fraco
desempenho da economia após 2010.
Então, o que explica a redução da taxa de desemprego mesmo com o
fraco desempenho da economia brasileira? Os dados da Pnad indicam que,
após 2008, a taxa de desemprego só caiu por causa da redução na taxa de
participação, ou seja, da relação entre as pessoas que estão no mercado
de trabalho (empregados ou procurando emprego), também chamada de
população economicamente ativa, sobre o total de pessoas em idade de
trabalhar ou população em idade ativa.
Podemos fazer um exercício considerando a taxa de participação
constante desde 2008, o ano pré-crise no Brasil, ou seja, considerar que
a mesma proporção de pessoas se manteve no mercado de trabalho. Nesse
caso, a taxa de desemprego teria passado de 7,24%, em 2008, para 8,46%,
em 2012, o que corresponde a uma elevação de 16,80%. Isso não ocorreu
porque os desempregados estão desistindo de procurar emprego.
A economia está fraca e a criação de empregos também. Com os
desempregados desistindo de procurar emprego fica difícil sustentar a
hipótese de que a economia brasileira se encontra em pleno emprego.
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