quarta-feira, 25 de junho de 2014

Transparência e desempenho econômico de longo prazo

Gazeta do Povo - 25/06/2014

Olhando para o índice de confiança do empresário industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de maio de 2014, percebe-se uma queda do mesmo desde o início de 2012. Nos últimos dois meses, o índice ficou abaixo de 50, o que indica uma falta de confiança do empresariado industrial em relação às perspectivas futuras. Esse pessimismo é generalizado, pois, em maio do ano corrente, ficou abaixo de 50 para as empresas industriais de todos os portes e segmentos analisados.

É claro que a crise econômica internacional e a elevação dos custos do setor têm afetado o seu desempenho, mas, como os piores efeitos da crise parecem ter passado, por se tratar de expectativas (os empresários estão olhando para o futuro) e pelo fato de a elevação dos custos estar relacionada muito mais a fatores internos, a explicação para a sua deterioração provavelmente está associada mais aos problemas da economia brasileira. Dentre eles, podemos citar a piora nas contas públicas e na geração de superávit, além da inflação que vem dando sinais de pequeno descontrole. No entanto, o problema parece ser decorrente, sobretudo, da falta de clareza sobre o futuro da economia brasileira.

A economia capitalista possui, de forma inerente, um potencial de instabilidade que vem à tona de tempos em tempos na forma de recessões, período em que os ajustes necessários são realizados e em que são criadas as condições para a retomada do crescimento. Um dos papéis do governo é justamente atuar de forma a criar regulações que reduzam a instabilidade do sistema econômico, criando certas amarras que reduzam as situações de desajuste.

Para a redução da instabilidade e, desse modo, da incerteza no ambiente econômico, é fundamental a criação de regras claras e estáveis, ou seja, que elas permaneçam independentemente do partido político no poder e das vontades do presidente, governador, prefeito etc. É desejável que exista também flexibilidade, pois o ambiente econômico se altera e regras que eram boas em uma determinada época passam a ser inadequadas. No entanto, se o conjunto de regras ou arcabouço institucional é de qualidade, mudanças marginais ao longo do tempo são suficientes e desejáveis, pois reduzem a incerteza e estimulam os investimentos e crescimento econômico.

A política de maquiar a real situação do superávit primário, das contas públicas e da inflação, as intervenções constantes do governo no mercado, ajudando alguns segmentos e empresas e prejudicando outras, as alterações das regras de acordo com a mudança de ventos e com visão míope, além da falta de planejamento de longo prazo, só têm ajudado a elevar a incerteza dos empresários, prejudicando as expectativas e investimentos produtivos.

O mercado possui falhas; por isso, o papel do governo é fundamental e melhora a eficiência econômica, quando as intervenções são bem feitas e necessárias. No entanto, o mercado funciona muito bem em outros aspectos e, nesses casos, o melhor que o governo tem a fazer é estabelecer as regras e deixar os empresários, trabalhadores e outros agentes econômicos jogarem o jogo do mercado.

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