domingo, 6 de janeiro de 2013

Crescimento no longo prazo e a questão da causalidade

(Revista Fator 04/01/2013)

Um dos campos mais ativos na economia é aquele que trata do crescimento econômico no longo prazo. Existem várias teorias que apontam as suas causas fundamentais, mas ainda não existe um consenso sobre seu principal determinante.

Um dos grandes problemas é a relação de causalidade entre desenvolvimento econômico e as variáveis supostamente explicativas. Por exemplo, podemos argumentar que o investimento em educação formal é importante para estimular o aumento da renda, mas conforme um país fica mais rico, existem mais recursos para serem investidos no sistema educacional. Podemos ainda argumentar que além do investimento em educação, uma melhora da cultura que valoriza a honestidade e o trabalho também é benéfica para estimular a renda, mas essas duas variáveis estão entrelaçadas (educação e cultura).

De qualquer forma, o conhecimento evoluiu de forma considerável e hoje temos uma noção melhor dos elementos que afetam o crescimento econômico. Um fator fundamental é o conjunto de regras que restringem as possíveis ações econômicas e sociais dos agentes e em que grau elas são, de fato, válidas (probabilidade dos infratores serem penalizados). Em outras palavras, as regras do jogo, denominadas instituições formais. Uma delas é o direito à propriedade privada, que afeta o retorno dos agentes e, portanto, o montante de investimentos privados em capital físico, capital humano e na adoção de novas tecnologias, além de estimular maior eficiência econômica.

Outro elemento destacado na literatura é o capital humano, que vai além da educação formal e é fundamental no processo do crescimento. Ele depende de ações governamentais e das próprias instituições. O governo tem um papel relevante nesse sentido com investimentos diretos e via melhora institucional. Alguns estudos indicam que o investimento governamental principalmente nos anos iniciais é crucial para determinar toda a trajetória de aprendizado dos alunos.

O investimento do governo também é essencial em áreas que aumentam a produtividade marginal do capital privado, como em infraestrutura. Mas para que se tenha um bom governo, boas instituições são necessárias para reduzir o nível de corrupção, a busca por rendas extraordinárias, entre outros. Esse é outro ponto em que podemos enfatizar o problema da causalidade, visto que boas instituições conduzem a um bom governo e restringem a corrupção, enquanto que um bom governo é um elemento importante para que boas instituições possam emergir.

A cultura também é de grande importância, sendo parte das instituições informais. Quando as pessoas de uma nação valorizam o trabalho e a honestidade, os efeitos são positivos sobre toda a economia, inclusive na formação de boas instituições. O governo também é importante aqui, pois é o exemplo para os cidadãos, além do principal ator que determina as normas de condutas e penalidades que ajudam na formação da cultura de uma nação.

Em suma, o governo é fundamental por afetar vários elementos que são cruciais na determinação do crescimento econômico de longo prazo. No Brasil, nós temos o privilégio de escolher nossos representantes e, pelo que foi argumentado, pode-se perceber a importância das eleições democráticas. O problema é que a cultura e o capital humano são importantes na determinação da qualidade do voto. Novamente o problema da causalidade...

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