Dilma Rousseff inicia a segunda metade de seu mandato acossada por
críticas, aqui e no exterior, às manobras que tem feito para cumprir
metas e pôr a economia no rumo que considera adequado. A rocambolesca
operação que ajudou o governo a “cumprir” sua meta fiscal de 2012 foi
apenas o truque mais ousado; faz tempo que a equipe econômica liderada
pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, lança mão de expedientes pouco
convencionais para levantar o PIB, controlar a inflação, influenciar o
câmbio, fechar as próprias contas etc.
À parte o intenso debate entre os economistas que defendem o uso de
ferramentas heterodoxas e aqueles que as atacam, resta uma constatação:
apesar de todos os coe-lhos que Mantega tirou da cartola, o desempenho
da economia nos dois primeiros anos de governo não teve nada de
fantástico. Ou seja, o efeito de tanto “jeitinho” foi praticamente nulo.
“Essa nova matriz econômica dos últimos dois anos é um cobertor bem
curto, em que cada medida produz um efeito colateral que exige outra
medida. Na prática, o que colhemos? Inflação alta e crescimento muito
baixo. O resultado até agora foi esse”, avalia a economista Alessandra
Ribeiro, da Tendências Consultoria.
Como não admite uma alta dos juros, o governo recorre a artifícios
para segurar os preços, obrigando a Petrobras a vender gasolina abaixo
do custo e reduzindo impostos aqui e ali. Agora Mantega tenta manejar a
inflação na base da conversa, pedindo a prefeitos que adiem o reajuste
das tarifas de ônibus e metrô.
“Empurrar a inflação meses à frente é inócuo, porque em algum momento
ela virá. Para resolver de verdade, o governo teria de fazer reformas
microeconômicas, desindexar um pouco a economia”, avalia João Basílio
Pereima, chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal do
Paraná. “Ainda há muitos contratos com correção automática, o que
retroalimenta a inflação.”
Credibilidade
A maioria dos economistas crê que estamos longe de uma
“argentinização” da economia. Ao contrário do que ocorreu do lado de lá
da fronteira, o IBGE não sofreu uma intervenção para calcular a inflação
de modo mais conveniente, e ninguém é multado por divulgar estimativas
diferentes das oficiais. Mas é fato que o Planalto perde credibilidade a
cada “operação de alquimia”, como escreveu dias atrás o economista
Delfim Netto, antes defensor quase incondicional da equipe econômica.
“Quanto menor a credibilidade do governo, mais difícil é convencer o
setor privado a investir. Os empresários não têm mais a convicção de que
as promessas de inflação na meta e crescimento forte serão cumpridas”,
diz Luciano Nakabashi, professor de Economia da USP Ribeirão Preto.
“Como o governo não tem recursos suficientes para investir, será mais
difícil desamarrar os nós que dificultam o crescimento.”
Críticas
Ministro da Fazenda vai de “elfo vidente” a “expert em jeitinho”
Autor – ou pelo menos mensageiro – de grande parte das medidas
econômicas do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem sido
alvo preferencial de dois dos mais importantes veículos especializados
em economia.
Em dezembro, a revista The Economist afirmou que os investidores
estão perdendo a confiança no Brasil e sugeriu que a presidente Dilma
Rousseff demitisse o ministro.
No fim daquele mês, o blog beyondbrics, do jornal Financial Times,
colocou Mantega no papel de “elfo vidente”, por causa de suas previsões
não confirmadas. Na semana passada, o mesmo blog o definiu como
“especialista em jeitinho”.
Consequências
Medidas provocam distorções que exigem mais malabarismo
O problema das “gambiarras” da política econômica é que cada uma
provoca distorções que exigem mais e mais criatividade do governo.
Ao agir para desvalorizar o real e ajudar os exportadores, por
exemplo, o Planalto encareceu as importações. Isso agravou o prejuízo da
Petrobras, que tem importado muito combustível para atender à demanda
por gasolina – que cresceu porque, para conter a inflação, a estatal
subsidia o produto.
“Os truques são totalmente inadequados, em todos os segmentos em que o
governo tem insistido em se meter. Apenas aumentam as distorções e
tiram o foco do que precisa ser feito”, avalia Sergio Vale,
economista-chefe da MB Associados.
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