domingo, 20 de janeiro de 2013

Muita gambiarra por nada


Dilma Rousseff inicia a segunda metade de seu mandato acossada por críticas, aqui e no exterior, às manobras que tem feito para cumprir metas e pôr a economia no rumo que considera adequado. A rocambolesca operação que ajudou o governo a “cumprir” sua meta fiscal de 2012 foi apenas o truque mais ousado; faz tempo que a equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, lança mão de expedientes pouco convencionais para levantar o PIB, controlar a inflação, influenciar o câmbio, fechar as próprias contas etc. 

À parte o intenso debate entre os economistas que defendem o uso de ferramentas heterodoxas e aqueles que as atacam, resta uma constatação: apesar de todos os coe-lhos que Mantega tirou da cartola, o desempenho da economia nos dois primeiros anos de governo não teve nada de fantástico. Ou seja, o efeito de tanto “jeitinho” foi praticamente nulo.

“Essa nova matriz econômica dos últimos dois anos é um cobertor bem curto, em que cada medida produz um efeito colateral que exige outra medida. Na prática, o que colhemos? Inflação alta e crescimento muito baixo. O resultado até agora foi esse”, avalia a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.

Como não admite uma alta dos juros, o governo recorre a artifícios para segurar os preços, obrigando a Petrobras a vender gasolina abaixo do custo e reduzindo impostos aqui e ali. Agora Mantega tenta manejar a inflação na base da conversa, pedindo a prefeitos que adiem o reajuste das tarifas de ônibus e metrô.

“Empurrar a inflação meses à frente é inócuo, porque em algum momento ela virá. Para resolver de verdade, o governo teria de fazer reformas microeconômicas, desindexar um pouco a economia”, avalia João Basílio Pereima, chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná. “Ainda há muitos contratos com correção automática, o que retroalimenta a inflação.”
Credibilidade

A maioria dos economistas crê que estamos longe de uma “argentinização” da economia. Ao contrário do que ocorreu do lado de lá da fronteira, o IBGE não sofreu uma intervenção para calcular a inflação de modo mais conveniente, e ninguém é multado por divulgar estimativas diferentes das oficiais. Mas é fato que o Planalto perde credibilidade a cada “operação de alquimia”, como escreveu dias atrás o economista Delfim Netto, antes defensor quase incondicional da equipe econômica.

“Quanto menor a credibilidade do governo, mais difícil é convencer o setor privado a investir. Os empresários não têm mais a convicção de que as promessas de inflação na meta e crescimento forte serão cumpridas”, diz Luciano Nakabashi, professor de Economia da USP Ribeirão Preto. “Como o governo não tem recursos suficientes para investir, será mais difícil desamarrar os nós que dificultam o crescimento.”

Críticas
 
Ministro da Fazenda vai de “elfo vidente” a “expert em jeitinho”
Autor – ou pelo menos mensageiro – de grande parte das medidas econômicas do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem sido alvo preferencial de dois dos mais importantes veículos especializados em economia.

Em dezembro, a revista The Economist afirmou que os investidores estão perdendo a confiança no Brasil e sugeriu que a presidente Dilma Rousseff demitisse o ministro.

No fim daquele mês, o blog beyondbrics, do jornal Financial Times, colocou Mantega no papel de “elfo vidente”, por causa de suas previsões não confirmadas. Na semana passada, o mesmo blog o definiu como “especialista em jeitinho”.

Consequências
 
Medidas provocam distorções que exigem mais malabarismo
O problema das “gambiarras” da política econômica é que cada uma provoca distorções que exigem mais e mais criatividade do governo.

Ao agir para desvalorizar o real e ajudar os exportadores, por exemplo, o Planalto encareceu as importações. Isso agravou o prejuízo da Petrobras, que tem importado muito combustível para atender à demanda por gasolina – que cresceu porque, para conter a inflação, a estatal subsidia o produto.
 
“Os truques são totalmente inadequados, em todos os segmentos em que o governo tem insistido em se meter. Apenas aumentam as distorções e tiram o foco do que precisa ser feito”, avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

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