A
China deve retomar seus investimentos com mais força em 2013, garantindo
demanda por produtos básicos, como o minério de ferro brasileiro. São
as obras de infraestrutura e o investimento estatal que vêm sustentando
cerca de metade da alta do PIB chinês na última década. E é essa força
motriz chinesa que também ajudou a alavancar a economia de outros
emergentes, inclusive o Brasil, especialmente pela importação de
produtos básicos – além do minério de ferro, o principal produto da
pauta exportadora brasileira, petróleo e itens agropecuários também
tiveram grande participação na importação chinesa.
Essa
relação comercial da China com o resto do mundo é tão forte que
cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que a queda de
1% na taxa de investimentos da China equivale, em média, a um recuo de
0,8 ponto porcentual no preço do minério de ferro. A conta também vale
para reduções na cotação do alumínio (1%), cobre (1,6%), chumbo (1,8%),
níquel (1,8%) e zinco (2,2%).
Dependência
Atualmente, os preços do minério de ferro na China estão em cerca de US$ 150 a tonelada, cotação que representa forte recuperação frente aos US$ 128 a tonelada registrados no fim de 2012. Também sinaliza que a demanda do país asiático vem se recuperando. Para 2013, o Itaú BBA, setor internacional de pesquisas do banco, projeta uma cotação média de US$ 120 a tonelada. A Vale, maior produtora mundial de minério de ferro, é mais otimista e acredita em uma cotação de até US$ 180 a tonelada. Segundo o diretor de Relações com Investidores da companhia, Roberto Castello Branco, a Vale espera que a produção industrial – um indicativo de demanda por aço e seu principal ingrediente, o minério de ferro – cresça cerca de 7% nos mercados emergentes em 2013, mas permaneça estável nos países desenvolvidos.
Em 2012, o preço foi o que mais influenciou a queda no faturamento
com as exportações brasileiras do produto. Embora o volume tenha caído
apenas 1,3% em relação a 2011, o valor total ficou em US$ 30,9 bilhões,
25,9% menor que no ano anterior, com influência de preços 24,9% menores,
ou seja, da menor demanda chinesa.
O mesmo ocorreu com o açúcar, outra commoditie que o Brasil manda a
rodo para a China. O volume das exportações totais do produto caiu 3,4%
em relação a 2011, mas a queda no valor foi ainda maior, de 13,15%, para
US$ 10,3 bilhões, por causa de preços 10,11% menores.
Perspectivas
Para 2013, o Banco Mundial prevê um crescimento de 8,4% para China –
melhor que a estimativa de 7,9% para 2012. “Na verdade, mesmo que o
ritmo chinês caia para algo como 7,5% ou 7%, a demanda pelos produtos
brasileiros continuará aquecida”, observa o professor de Economia da
UFPR Marcelo Curado.
O economista e professor da USP de Ribeirão Preto Luciano Nakabashi
lembra que, apesar do elevado crescimento na última década, a China
ainda é um pais relativamente pobre. O PIB per capita é bem menor que o
do Brasil: US$ 5,445 ante US$ 12,594, segundo dados de 2011 do Banco
Mundial. “Desse modo, ainda existe todo um país a ser construído, o que
exige muitos minérios, sobretudo ferro”, observa.
Para analistas, país precisa diversificar a pauta exportadora
No ano passado, a China absorveu grande parte de dois dos principais
produtos da pauta de exportação brasileira: 48% dos embarques de minério
de ferro e 46% dos de soja. Desde 2010, quando as transações entre
Brasil e China se intensificaram, alguns economistas e instituições,
como o Banco Nomura, de Nova York, vêm interpretando essa relação como
um sinal de dependência crescente pelo Brasil do país asiático. Para o
bem ou para o mal, o destino tupiniquim parece cada vez mais atrelado às
decisões tomadas em Pequim.
Para boa parte dos analistas isso traz maior fragilidade para a
economia brasileira frente aos percalços do cenário externo – grande
parte do superávit brasileiro vem das commodities. Com uma redução de
demanda, o preço cai e, consequentemente, o real se desvaloriza, entre
outros efeitos negativos. “Quanto mais básica a pauta de exportações,
maior a suscetibilidade à oferta e à demanda internacional”, observa o
professor de Economia da UFPR Marcelo Curado.
Uma das principais armas do governo federal diante do desaquecimento
global tem sido o incentivo ao consumo interno, mas essa estratégia, com
os índices de inadimplência lá em cima, já se mostrou um tanto
esgotada. O que fazer então?
A parte mais otimista dos analistas – a que não acredita que a
relação entre Brasil e China seja de dependência, mas de oportunidade de
desenvolvimento – diz que uma estratégia, de curto prazo, é a
diversificação da pauta de exportações para o país asiático. Se a China
tem demanda – e não só por minérios e commodities –, porque não
aproveitar? Daí, por exemplo, o momento oportuno das prospecções dos
avicultores paranaenses por lá. Com a maior parte da população chinesa
ainda no campo, mas cada vez mais atraída para a cidade, a demanda por
alimentos em geral deve crescer. Seria o futuro da China mais urbana,
caminho normal para qualquer país em desenvolvimento.
A principal solução, no entanto, não é nada simples ou de curto
prazo: investimento em educação e fortalecimento da indústria nacional
para o crescimento da exportação de manufaturados. Curado lembra que é o
que a China tem feito nos últimos anos. “E quando falamos de
investimento em educação por lá é algo realmente massivo”.
Para o professor da USP de Ribeirão Preto Luciano Nakabashi, o
fortalecimento da China implica em maior concorrência de produtos
industriais e menos espaço para os concorrentes. Os elementos-chave para
isso – acumulação de capital humano, melhora nas instituições e forte
elevação da produtividade – apontam que a China continuará crescendo e
passará o Brasil em termos de PIB per capita em alguns anos. “Assim, é
possível que a concorrência de produtos industriais seja cada vez mais
forte com os países desenvolvidos, como EUA, Japão e Europa. Portanto,
em alguns anos (ou décadas), a concorrência com os produtos brasileiros
industrializados tende a diminuir também.”
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