domingo, 3 de fevereiro de 2013

Surfando no crescimento mundial


Esse título parece estranho pelo momento em que se encontram as economias nacional e mundial. No entanto, o atual cenário explicita o que foi dito por muitos analistas na era Lula: o país estava surfando na onda do crescimento mundial, além de aproveitar os frutos de reformas que tinham sido realizadas no governo anterior e no início do primeiro mandato do governo Lula.

Aproveitar o crescimento da economia mundial foi positivo para o país, pois foi um período em que presenciamos uma significativa redução no desemprego, melhora nos níveis salariais e na distribuição da renda, estímulo ao “espírito animal” dos empresários com elevação dos investimentos, melhora na autoestima dos brasileiros, entre outros fatores.

O problema é que reformas e investimentos importantes deixaram de ser realizados para que o país pudesse manter uma razoável taxa de crescimento. Os grandes méritos do governo Lula, na parte econômica, foram: manter a política macroeconômica do governo anterior; unificar e estimular os programas de transferência de renda que não são custosos e atingem parte da população que realmente é mais vulnerável; e elevar o crédito às famílias.

No entanto, a redução do crescimento mundial, a falta de reformas e de investimentos relevantes na era Lula – como fortalecimento das agências reguladoras, redução da burocracia e da carga tributária, combate à corrupção, melhora na infraestrutura e na qualidade educacional –, além de erros adicionais na política econômica do governo Dilma redundam no período de baixo crescimento pelo qual estamos passando.

O atual governo vem adotando políticas econômicas de médio e curto prazos voltadas, sobretudo, ao estímulo da demanda agregada para reverter o cenário de baixo crescimento. No entanto, a mudança de regime cambial, a redução do superávit primário e dos juros, os estímulos fiscais para determinados setores da economia, e a injeção de grandes somas de recursos no BNDES, entre outras medidas, não foram suficientes para recolocar a economia em uma trajetória de razoável crescimento.

Ao se observar a convivência de um baixo nível de desemprego com um crescimento medíocre nos dois últimos anos, fica evidente que estímulos adicionais à demanda irão se traduzir em pressões no mercado de trabalho. Como consequência, iremos presenciar uma elevação da inflação e das importações. 

O problema atual do país vem da oferta, sobretudo do fraco desempenho da produtividade. É preciso estimular os investimentos produtivos através da garantia dos direitos de propriedade, com especial ênfase ao retorno dos investimentos realizados e da garantia e estabilidade das “regras do jogo”. O governo federal deve priorizar um ambiente que incentive o bom funcionamento do mercado sem interferências que prejudicam ainda mais as expectativas dos empresários. Os investimentos públicos devem ser realizados em áreas que são complementares aos investimentos privados e em parceria com estes, devido à restrição orçamentária – como, por exemplo, em infraestrutura.

Como enfatizado recentemente por Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central e professor da PUC-RJ) em um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, “o governo orienta, cuida do estádio e do gramado e não se mete a cobrar escanteios”.

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