Esse título parece estranho pelo momento em que se encontram as
economias nacional e mundial. No entanto, o atual cenário explicita o
que foi dito por muitos analistas na era Lula: o país estava surfando na
onda do crescimento mundial, além de aproveitar os frutos de reformas
que tinham sido realizadas no governo anterior e no início do primeiro
mandato do governo Lula.
Aproveitar o crescimento da economia mundial foi positivo para o
país, pois foi um período em que presenciamos uma significativa redução
no desemprego, melhora nos níveis salariais e na distribuição da renda,
estímulo ao “espírito animal” dos empresários com elevação dos
investimentos, melhora na autoestima dos brasileiros, entre outros
fatores.
O problema é que reformas e investimentos importantes deixaram de ser
realizados para que o país pudesse manter uma razoável taxa de
crescimento. Os grandes méritos do governo Lula, na parte econômica,
foram: manter a política macroeconômica do governo anterior; unificar e
estimular os programas de transferência de renda que não são custosos e
atingem parte da população que realmente é mais vulnerável; e elevar o
crédito às famílias.
No entanto, a redução do crescimento mundial, a falta de reformas e
de investimentos relevantes na era Lula – como fortalecimento das
agências reguladoras, redução da burocracia e da carga tributária,
combate à corrupção, melhora na infraestrutura e na qualidade
educacional –, além de erros adicionais na política econômica do governo
Dilma redundam no período de baixo crescimento pelo qual estamos
passando.
O atual governo vem adotando políticas econômicas de médio e curto
prazos voltadas, sobretudo, ao estímulo da demanda agregada para
reverter o cenário de baixo crescimento. No entanto, a mudança de regime
cambial, a redução do superávit primário e dos juros, os estímulos
fiscais para determinados setores da economia, e a injeção de grandes
somas de recursos no BNDES, entre outras medidas, não foram suficientes
para recolocar a economia em uma trajetória de razoável crescimento.
Ao se observar a convivência de um baixo nível de desemprego com um
crescimento medíocre nos dois últimos anos, fica evidente que estímulos
adicionais à demanda irão se traduzir em pressões no mercado de
trabalho. Como consequência, iremos presenciar uma elevação da inflação e
das importações.
O problema atual do país vem da oferta, sobretudo do fraco desempenho
da produtividade. É preciso estimular os investimentos produtivos
através da garantia dos direitos de propriedade, com especial ênfase ao
retorno dos investimentos realizados e da garantia e estabilidade das
“regras do jogo”. O governo federal deve priorizar um ambiente que
incentive o bom funcionamento do mercado sem interferências que
prejudicam ainda mais as expectativas dos empresários. Os investimentos
públicos devem ser realizados em áreas que são complementares aos
investimentos privados e em parceria com estes, devido à restrição
orçamentária – como, por exemplo, em infraestrutura.
Como enfatizado recentemente por Gustavo Franco (ex-presidente do
Banco Central e professor da PUC-RJ) em um artigo publicado no jornal O
Estado de S. Paulo, “o governo orienta, cuida do estádio e do gramado e
não se mete a cobrar escanteios”.
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