sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Projeção de aumento da inflação e maior endividamento afetaram o INEC


A expectativa de aceleração da inflação para este ano foi o principal fator apontado por economistas para a queda do Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) em janeiro deste mês. O dado, divulgado nesta quinta-feira (31) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), recuou 0,9% em relação ao último mês. Os especialistas também destacaram que o maior endividamento das famílias contribuiu para o pessimismo. 

Apesar da pouca confiança demonstrada pela pesquisa, o indicador de expectativa de desemprego aumentou 2,1% em relação a dezembro, o que mostra que a população está confiante no aquecimento do mercado de trabalho. O IBGE, por sua vez, divulgou nesta quinta-feira que a taxa média de desemprego no Brasil atingiu o menor patamar histórico, ficando em 5,5%.
Inflação e endividamento

Para Luciano Nakabashi, professor da Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto da USP, a expectativa do aumento da inflação foi o principal condutor para o resultado do INEC. Ele frisa, porém, que a grande diferença neste balanço foi a expectativa do desemprego. 
Confiança do consumidor caiu 0,9% neste mês em relação a dezembro
Confiança do consumidor caiu 0,9% neste mês em relação a dezembro
"O desemprego baixo pressiona muito a inflação. Qualquer coisa que estimule a produção gera demanda por emprego, o que acarreta salários mais altos. Além disso, há políticas estimulando a demanda do mercado, mas é preciso aumentar a oferta também", adverte.

Segundo o professor da USP, houve um aumento no setor de serviços de empreendimentos com produtividade menor que a da indústria. "O que está crescendo no setor de serviços? Principalmente o comércio, que tem baixa produtividade para a economia e utiliza, em geral, mão de obra pouco qualificada", destacou.

Além disso, o economista defende que a questão da produtividade do Brasil está vinculada a antigas questões, como a debilitada infraestrutura, mão de obra de baixa qualificação e alta carga tributária. 

Para ele, após as medidas recentemente adotadas pelo governo, como a desoneração de alguns setores, a exemplo da redução da tarifa de energia elétrica e da taxa básica de juros (Selic), investimentos em infraestrutura, entre outros, a expectativa é de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja mais significativo do que no último ano. Justamente por isso, analisa, existe uma pressão pelo aumento da inflação: 

"A questão de o aumento da inflação corroer o poder de compra é uma visão de curto prazo, porque fica muito perceptível para as pessoas. A preocupação sobre a elevação dos preços tem aumentado, e vários agentes já indicaram que a inflação está saindo do centro da meta e o governo tem sido tolerante com essa situação", afirmou.
Indústria afetada

Guilherme Mercês, gerente de estudos econômicos da Federação de Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), avalia ainda que o resultado do INEC é muito negativo para o setor industrial nacional. "Enquanto o setor de serviços, que vem aumentando, é fechado e não tem concorrência externa, a indústria é um setor aberto com muita concorrência das importações e com uma margem de lucro muito pequena devido aos altos custos de produção no país", disse o especialista. 

O economista da Firjan colocou que, além da projeção de aumento da inflação, o maior endividamento das famílias brasileiras também influencia a pesquisa da CNI. "Houve uma expansão de crédito muito significativa nos últimos anos, o que deixou a população com mais dívidas. Isso afeta na expectativa de compra de bens de maior valor, porque as pessoas estão com o orçamento mais apertado e sobra menos para esses produtos".

Para Nakabashi, o endividamento é uma estratégia econômica do governo, mas alerta que existe um limite: "A dívida dessas pessoas vai aumentando e, em algum momento, comprometerá sua renda. Talvez seja um erro tentar estimular a demanda quando o desemprego está muito baixo", ponderou. 

Manutenção da Selic 
Marcelo Martinovich, do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e vice-presidente do Sindicato dos Economistas de São Paulo, avaliou que a inflação e o endividamento são indicadores que oscilam juntos. Alertou, porém, para a tendência de manutenção ou ligeira alta da Selic como uma forma de o governo conter o consumo, "o que encarece o crédito e reduz a possível crise de inadimplência". Observou ainda que na comparação com janeiro de 2012, a maioria dos indicadores do INEC foram mantidos. 

Ele projeta que o crescimento do PIB neste ano deve ser superior ao de 2012, e frisou que a crise na zona do euro impactou a economia nacional: 

"Como a expectativa de crescimento econômico não é tão melhor, a saída pensada é a exportação. Mas para exportar, tem que ter uma economia mundial positiva, senão os outros países também se protegerão. Como a economia mundial está muito abalada, não vejo muito espaço para um aumento inflacionário intenso", analisou Martinovich.

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