A expectativa de aceleração da inflação para este ano foi o principal fator apontado por economistas
para a queda do Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) em
janeiro deste mês. O dado, divulgado nesta quinta-feira (31) pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), recuou 0,9% em relação ao
último mês. Os especialistas também destacaram que o maior endividamento
das famílias contribuiu para o pessimismo.
Apesar da pouca confiança
demonstrada pela pesquisa, o indicador de expectativa de desemprego
aumentou 2,1% em relação a dezembro, o que mostra que a população está
confiante no aquecimento do mercado de trabalho. O IBGE, por sua vez,
divulgou nesta quinta-feira que a taxa média de desemprego no Brasil
atingiu o menor patamar histórico, ficando em 5,5%.
Inflação e endividamento
Para Luciano Nakabashi, professor da Faculdade de Economia
e Administração de Ribeirão Preto da USP, a expectativa do aumento da
inflação foi o principal condutor para o resultado do INEC. Ele frisa,
porém, que a grande diferença neste balanço foi a expectativa do
desemprego.
"O
desemprego baixo pressiona muito a inflação. Qualquer coisa que
estimule a produção gera demanda por emprego, o que acarreta salários
mais altos. Além disso, há políticas estimulando a demanda do mercado,
mas é preciso aumentar a oferta também", adverte.
Segundo o
professor da USP, houve um aumento no setor de serviços de
empreendimentos com produtividade menor que a da indústria. "O que está
crescendo no setor de serviços? Principalmente o comércio, que tem baixa
produtividade para a economia e utiliza, em geral, mão de obra pouco qualificada", destacou.
Além
disso, o economista defende que a questão da produtividade do Brasil
está vinculada a antigas questões, como a debilitada infraestrutura, mão
de obra de baixa qualificação e alta carga tributária.
Para ele,
após as medidas recentemente adotadas pelo governo, como a desoneração
de alguns setores, a exemplo da redução da tarifa de energia elétrica e
da taxa básica de juros (Selic), investimentos em infraestrutura, entre
outros, a expectativa é de que o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) seja mais significativo do que no último ano. Justamente por isso,
analisa, existe uma pressão pelo aumento da inflação:
"A questão
de o aumento da inflação corroer o poder de compra é uma visão de curto
prazo, porque fica muito perceptível para as pessoas. A preocupação
sobre a elevação dos preços tem aumentado, e vários agentes já indicaram
que a inflação está saindo do centro da meta e o governo tem sido
tolerante com essa situação", afirmou.
Indústria afetada
Guilherme
Mercês, gerente de estudos econômicos da Federação de Indústrias do Rio
de Janeiro (Firjan), avalia ainda que o resultado do INEC é muito
negativo para o setor industrial nacional. "Enquanto o setor de
serviços, que vem aumentando, é fechado e não tem concorrência externa, a
indústria é um setor aberto com muita concorrência das importações e
com uma margem de lucro muito pequena devido aos altos custos de
produção no país", disse o especialista.
O economista da Firjan
colocou que, além da projeção de aumento da inflação, o maior
endividamento das famílias brasileiras também influencia a pesquisa da
CNI. "Houve uma expansão de crédito muito significativa nos últimos
anos, o que deixou a população com mais dívidas. Isso afeta na
expectativa de compra de bens de maior valor, porque as pessoas estão
com o orçamento mais apertado e sobra menos para esses produtos".
Para
Nakabashi, o endividamento é uma estratégia econômica do governo, mas
alerta que existe um limite: "A dívida dessas pessoas vai aumentando e,
em algum momento, comprometerá sua renda. Talvez seja um erro tentar
estimular a demanda quando o desemprego está muito baixo", ponderou.
Manutenção da Selic
Marcelo
Martinovich, do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e
vice-presidente do Sindicato dos Economistas de São Paulo, avaliou que a
inflação e o endividamento são indicadores que oscilam juntos. Alertou,
porém, para a tendência de manutenção ou ligeira alta da Selic como uma
forma de o governo conter o consumo, "o que encarece o crédito e reduz a
possível crise de inadimplência". Observou ainda que na comparação com
janeiro de 2012, a maioria dos indicadores do INEC foram mantidos.
Ele
projeta que o crescimento do PIB neste ano deve ser superior ao de
2012, e frisou que a crise na zona do euro impactou a economia
nacional:
"Como a expectativa de crescimento econômico não é tão
melhor, a saída pensada é a exportação. Mas para exportar, tem que ter
uma economia mundial positiva, senão os outros países também se
protegerão. Como a economia mundial está muito abalada, não vejo muito
espaço para um aumento inflacionário intenso", analisou Martinovich.
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