quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Eleições, Copa e mais do mesmo na economia


Estimativas e declarações de economistas e membros do governo levam a crer que: 1) o crescimento econômico deve continuar abaixo de 3%; 2) a inflação tende a ficar novamente mais perto do teto que do centro da meta; 3) o desemprego pode até subir um pouco, mas sem assustar; 4) a retirada gradual de estímulos à economia norte-americana deve elevar a cotação do dólar, ajudando as exportações mas afetando os preços no Brasil; e 5) embora prometa mais cuidado com suas contas, o governo de Dilma Rousseff não vai mudar a rota da política fiscal justamente no ano em que busca a reeleição.
Se essas hipóteses se confirmarem, não haverá um desastre econômico ou social, mas tampouco será interrompida a lenta – porém contínua – deterioração dos fundamentos da economia, observada de 2010 para cá. Em algum momento o rumo terá de ser corrigido, independentemente de quem se eleger em 2014. E, quanto mais tardia, mais traumática tende a ser essa correção.

“A dívida pública está crescendo, o país depende cada vez mais de poupança externa, a inflação está sempre próxima do teto da meta, e tudo isso em meio a um fraco desempenho econômico. Uma vez que os fundamentos estão ruins mas não catastróficos, dá para segurar mais um tempo. É o que o governo provavelmente fará neste ano”, diz Luciano Nakabashi, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da USP de Ribeirão Preto.

Para muitos economistas, inclusive antigos aliados do Planalto, essa conjunção de fatores negativos decorre principalmente de erros do governo – que, entusiasmado com o sucesso das medidas de combate à crise internacional, se habituou a promover o consumo, com desonerações e quedas nas taxas de juros. “Deveria ter parado com essa política lá atrás e se concentrado no estímulo à oferta, ao investimento, ao aumento da produtividade, sem o que não há crescimento sustentável”, diz Nakabashi.

O suposto descontrole da política fiscal é o principal alvo dos críticos do governo, mas há quem veja exagero na avaliação. “É desejável que o governo cumpra sua meta de superávit primário [economia para pagar os juros da dívida]”, diz. “Mas é preciso lembrar que, se não fossem os pouco mais de R$ 70 bilhões em desonerações de impostos para estimular a economia, o superávit de 2013 teria sido bem maior”, diz João Ildebrando Bocchi, professor da PUC-SP e coautor do livro Economia Brasileira.

Embora descarte a hipótese de um forte crescimento do PIB, Bocchi vê razões para otimismo. “Teremos em 2014 o início dos investimentos nas concessões leiloadas em 2013. Poderemos ter um crescimento econômico um pouco melhor, a inflação um pouco mais baixa e um resultado fiscal não surpreendente, mas ao menos mais confiável que o de 2013.”

Temor
“Tempestade perfeita” faria o dólar disparar
Alguns investidores e economistas temem em 2014 o que apelidaram de “tempestade perfeita” – a combinação de um rebaixamento da classificação de risco do país, provocada pela piora nas contas públicas, com o fim do programa de estímulos do banco central norte-americano, o Fed. Isoladamente, cada um desses eventos já seria capaz de empurrar o dólar para cima, pressionando a inflação e forçando o Banco Central brasileiro a elevar a taxa de juros; juntos, fariam estrago maior.
Mas, para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a hipótese de uma tormenta dessas é frágil. “A política fiscal ficou mais frouxa porque o governo estava buscando incentivar a economia. Acho que ele estará mais atento, o que deve evitar um rebaixamento”, diz. “E o Fed deve retirar seus estímulos de forma gradual, evitando uma disparada do dólar.”

A ação do Fed parece mesmo caminhar nessa direção. Por outro lado, uma das agências de risco (a S&P) avisou recentemente que pode cortar a nota do Brasil antes mesmo das eleições.

Farol desregulado
Previsões econômicas (tanto as do ministro da Fazenda quanto as feitas por gente do mercado, da academia ou do setor produtivo) não são conhecidas por sua precisão. Não é raro que a comparação entre projeções e resultados efetivos renda algum constrangimento – o mercado financeiro, por exemplo, superestimou o resultado do PIB nos últimos três anos. Ainda assim, as expectativas acabam servindo de farol para as decisões dos “agentes econômicos” (trabalhadores, empresários, investidores, governantes).

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