Muito interessante e relevante este estudo do Naércio (Insper) e Andréa Curi (FGV) que mostra uma associação entre notas na escola e salários (salário no início de carreira). Deve ser o primeiro estudo que quantifica essa relação no Brasil. É claro que deve estar pegando características não observáveis dos indivíduos como, por exemplo, disciplina e proatividade. De qualquer forma, é um estudo super importante e também ajuda a acabar com aquela ideia de que os alunos que estudam mais não se dão bem na vida profissional porque a escola "não ensina as lições de vida"...
terça-feira, 18 de março de 2014
segunda-feira, 17 de março de 2014
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
10% do PIB para educação é uma boa estratégia?
A melhora do nível de escolaridade dos cidadãos está fortemente
associada ao nível de desenvolvimento de um país ou região. É claro que
países mais ricos possuem mais recursos para montar um bom sistema de
ensino fundamental, médio e superior, mas existem argumentos e
evidências suficientes que sugerem que investimentos em educação em uma
parcela ampla da população é um aspecto importante em uma estratégia de
crescimento sustentável, além de ser fundamental para melhorar a
distribuição de renda.
No entanto, elevar esses gastos para 10 % do PIB significa estar
acima da proporção de todos os países desenvolvidos, de acordo com dados
da OCDE para o ano de 2009. Nossos vizinhos mais desenvolvidos como
Chile (6,8%) e Argentina (6,9%) também não chegam perto dessa marca.
Mesmo os Estados Unidos, que possuem uma das populações mais
escolarizadas do mundo, gasta entre 7,0% e 7,5% do PIB em educação. A
Coréia do Sul, exemplo de rápido crescimento baseado em melhora do
sistema educacional, gasta em torno de 8% do PIB. O Brasil não está mal
classificado nesse quesito, gastando cerca de 5,5 % do PIB, próximo à
media dos países da OCDE: 6,2%.
O grande problema em aumentar os gastos no sistema educacional para
10% do PIB é que já somos um país com elevada carga tributária e essa
medida de política econômica e social pressionaria ainda mais no sentido
de elevá-la. Uma das fontes desses recursos seriam os royalties do
petróleo, conforme lei sancionada em Setembro de 2013 onde 75% destes
seria destinado à educação e 25% ao sistema de saúde. No entanto, boa
parte dessas receitas está prevista apenas para o médio e longo prazo e
sempre há incertezas em relação ao verdadeiro estoque de petróleo na
camada pré-sal e em outros lugares de mundo, o que pode afetar o preço
dependendo da oferta futura, além de outras fontes alternativas de
energia que podem afetar a viabilidade da sua retirada pela redução da
demanda, ou seja, não conte com os ovos antes da galinha botar!
Desse modo, os recursos para o aumento dos gastos em educação seriam
provenientes, sobretudo, de uma elevação da carga tributária. A
consequência seria um desestimulo aos investimentos produtivos e, dessa
forma, na demanda por trabalho qualificado, com um efeito potencialmente
contrário ao esperado sobre o desenvolvimento brasileiro. Em outras
palavras, não adianta olhar apenas para um segmento da economia quando
se formula políticas econômicas e sociais. É preciso olhar seus efeitos
em outros segmentos e setores, além das fontes dos recursos necessários à
sua implementação. Para melhorar a qualidade do nosso sistema
educacional, a questão principal parece ser muito mais de como alocar os
recursos de forma mais eficiente do que de como elevá-los.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Cafezinho do Senado
Dá para entender porque o salário de um garçom no Senado é o mesmo de um professor universitário?
Sim, esse tipo de distorção explica muita coisa da atual situação brasileira...
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Investimento em educação não é o bastante
Nas últimas décadas, presenciamos um ganho de importância do
investimento em educação como uma estratégia para promoção do
crescimento e desenvolvimento econômico. Esse fenômeno é decorrente da
difusão de teorias que enfatizam o capital humano como peça central
nesse processo, além do maior grau de mudanças tecnológicas que elevou o
retorno do investimento nesse tipo de capital. No entanto, apesar dessa
estratégia ser fundamental para acelerar o crescimento econômico, ela
não é suficiente.
Um bom exemplo é a estratégia de investimento em educação adotada por
Cuba, onde a sua população ficou à frente, em termos educacionais, de
seus pares latino-americanos, com a erradicação do analfabetismo já na
década de 1960, mas sem apresentar progresso econômico. A pergunta
natural seria: quais as razões para o fracasso econômico do citado país,
mesmo com o grande esforço realizado em investimento no setor
educacional?
O principal fator para o insucesso econômico de Cuba foi a estrutura
de incentivos existentes no país, ou seja, o seu arcabouço
institucional. Sendo socialista, os indivíduos não recebem de acordo com
seus esforços e produtividades. Desse modo, apesar do maior nível de
educação elevar a produtividade de seus cidadãos, o mesmo não ocorre com
o seu retorno, como o salário, por exemplo. Adicionalmente, não há
incentivos para investimentos produtivos que também elevam o retorno do
investimento em educação.
Uma das premissas básicas da economia é que os indivíduos respondem a
incentivos. Sendo assim, quando os incentivos não são adequados, as
pessoas não se esforçam e, como consequência, a produtividade é muito
baixa. Por isso a ênfase existente, por parte de alguns economistas e
analistas econômicos, na elaboração de regras claras e estáveis para
estimular os investimentos, com intervenção governamental somente onde
existem falhas de mercado. Quando o ambiente é propício, ou seja, quando
os indivíduos recebem pelos seus esforços, as regras são claras e os
agentes que não obedecem às regras são punidos, os empresários investem
em capital produtivo, aumentando a demanda por trabalho qualificado, e
os trabalhadores se tornam mais propensos a investir em educação.
Em outras palavras, não adianta educar toda a população, mesmo que o
sistema educacional seja de qualidade e gratuito, se não há estímulos
para que os trabalhadores se esforcem e para que ocorram investimentos
produtivos de modo a gerar demanda por trabalhadores qualificados. Nesse
caso, o trabalho qualificado se tornaria ocioso em um mundo onde
recursos produtivos são escassos e muito demandados em economias de
mercado. Cuba, novamente, serve como um bom exemplo. Parte de seus
médicos veio para o Brasil devido a certa ociosidade de uma mão de obra
muito qualificada e com alta demanda em qualquer país onde o mercado
funcione razoavelmente. Para o Brasil, esse é um fenômeno positivo ao
atrair um investimento já realizado que é caro e leva tempo para se concluir, além de trazer imigrantes, o que costuma ser positivo no
processo de evolução cultural, mas para Cuba...
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Eleições, Copa e mais do mesmo na economia
Estimativas e declarações de economistas e membros do governo levam a
crer que: 1) o crescimento econômico deve continuar abaixo de 3%; 2) a
inflação tende a ficar novamente mais perto do teto que do centro da
meta; 3) o desemprego pode até subir um pouco, mas sem assustar; 4) a
retirada gradual de estímulos à economia norte-americana deve elevar a
cotação do dólar, ajudando as exportações mas afetando os preços no
Brasil; e 5) embora prometa mais cuidado com suas contas, o governo de
Dilma Rousseff não vai mudar a rota da política fiscal justamente no ano
em que busca a reeleição.
Se essas hipóteses se confirmarem, não haverá um desastre econômico
ou social, mas tampouco será interrompida a lenta – porém contínua –
deterioração dos fundamentos da economia, observada de 2010 para cá. Em
algum momento o rumo terá de ser corrigido, independentemente de quem se
eleger em 2014. E, quanto mais tardia, mais traumática tende a ser essa
correção.
“A dívida pública está crescendo, o país depende cada vez mais de
poupança externa, a inflação está sempre próxima do teto da meta, e tudo
isso em meio a um fraco desempenho econômico. Uma vez que os
fundamentos estão ruins mas não catastróficos, dá para segurar mais um
tempo. É o que o governo provavelmente fará neste ano”, diz Luciano
Nakabashi, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada
da USP de Ribeirão Preto.
Para muitos economistas, inclusive antigos aliados do Planalto, essa
conjunção de fatores negativos decorre principalmente de erros do
governo – que, entusiasmado com o sucesso das medidas de combate à crise
internacional, se habituou a promover o consumo, com desonerações e
quedas nas taxas de juros. “Deveria ter parado com essa política lá
atrás e se concentrado no estímulo à oferta, ao investimento, ao aumento
da produtividade, sem o que não há crescimento sustentável”, diz
Nakabashi.
O suposto descontrole da política fiscal é o principal alvo dos
críticos do governo, mas há quem veja exagero na avaliação. “É desejável
que o governo cumpra sua meta de superávit primário [economia para
pagar os juros da dívida]”, diz. “Mas é preciso lembrar que, se não
fossem os pouco mais de R$ 70 bilhões em desonerações de impostos para
estimular a economia, o superávit de 2013 teria sido bem maior”, diz
João Ildebrando Bocchi, professor da PUC-SP e coautor do livro Economia
Brasileira.
Embora descarte a hipótese de um forte crescimento do PIB, Bocchi vê
razões para otimismo. “Teremos em 2014 o início dos investimentos nas
concessões leiloadas em 2013. Poderemos ter um crescimento econômico um
pouco melhor, a inflação um pouco mais baixa e um resultado fiscal não
surpreendente, mas ao menos mais confiável que o de 2013.”
Temor
“Tempestade perfeita” faria o dólar disparar
Alguns investidores e economistas temem em 2014 o que apelidaram de
“tempestade perfeita” – a combinação de um rebaixamento da classificação
de risco do país, provocada pela piora nas contas públicas, com o fim
do programa de estímulos do banco central norte-americano, o Fed.
Isoladamente, cada um desses eventos já seria capaz de empurrar o dólar
para cima, pressionando a inflação e forçando o Banco Central brasileiro
a elevar a taxa de juros; juntos, fariam estrago maior.
Mas, para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a
hipótese de uma tormenta dessas é frágil. “A política fiscal ficou mais
frouxa porque o governo estava buscando incentivar a economia. Acho que
ele estará mais atento, o que deve evitar um rebaixamento”, diz. “E o
Fed deve retirar seus estímulos de forma gradual, evitando uma disparada
do dólar.”
A ação do Fed parece mesmo caminhar nessa direção. Por outro lado,
uma das agências de risco (a S&P) avisou recentemente que pode
cortar a nota do Brasil antes mesmo das eleições.
Farol desregulado
Previsões econômicas (tanto as do ministro da Fazenda quanto as
feitas por gente do mercado, da academia ou do setor produtivo) não são
conhecidas por sua precisão. Não é raro que a comparação entre projeções
e resultados efetivos renda algum constrangimento – o mercado
financeiro, por exemplo, superestimou o resultado do PIB nos últimos
três anos. Ainda assim, as expectativas acabam servindo de farol para as
decisões dos “agentes econômicos” (trabalhadores, empresários,
investidores, governantes).
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Perspectivas para 2014
No ano que terminou, os resultados econômicos não foram positivos:
presenciamos uma elevação na dívida pública; considerável aumento nos
déficits das contas externas; inflação próxima do teto da meta; retomada
do ciclo de alta da taxa de juros; e, o pior, baixo crescimento
econômico.
Este ano é eleitoral e, desse modo, é muito provável que o governo
conserve a estratégia de estímulo aos gastos para, ao menos, manter baixa a
taxa de desemprego. Esse é o último trunfo econômico que resta e seria
um risco muito elevado para a estratégia de manutenção do Poder
Executivo federal caso essa taxa começasse a subir.
Mesmo com os prováveis estímulos à demanda, a economia não
apresentará um bom desempenho, pois os problemas que ela enfrenta são de
oferta, como baixas taxas de produtividade e de investimento. Assim,
teremos mais um ano de fraco desempenho econômico e com reduzido
desemprego.
O problema é que estímulos à demanda irão se traduzir em maior dívida
pública e manutenção dos juros elevados para manter a inflação dentro
da meta, o que pressiona ainda mais as contas do governo, gerando
instabilidade e reduzindo os investimentos. Cabe lembrar que,
historicamente, a Previdência é um elemento adicional que vem
pressionando o déficit orçamentário. Por outro lado, apesar da recente
depreciação da taxa de câmbio, não há sinais de redução nos déficits nas
contas externas brasileiras, o que também eleva a fragilidade
macroeconômica pela dependência crescente de poupança externa.
Na ausência de reformas relevantes para controlar a dívida interna e
aumentar a competitividade das empresas brasileiras, o que iremos
presenciar é a piora nos fundamentos da economia ao longo de 2014, como
já vem ocorrendo nos últimos anos, com impactos negativos nos próximos
anos.
Já estamos pagando a conta da falta de uma agenda consistente e
relevante de reformas desde o segundo mandato Lula até os dias atuais,
sendo que o sinal mais claro é o baixo crescimento econômico dos últimos
anos, que tem raízes muito mais em problemas internos que externos.
Mesmo com uma possível melhora no cenário externo, a tendência de
deterioração dos já fracos fundamentos da economia brasileira não
permitirá uma retomada do crescimento nos próximos anos.
Seja quem for o presidente eleito em 2014 e qual a sua equipe
econômica, em 2015 sentiremos com mais intensidade os efeitos dos erros
cometidos. Adicionalmente, a necessidade de ajustes para colocar a
economia novamente no rumo aumentará a tendência de desaceleração
econômica. Assim, passaremos por momentos econômicos mais difíceis antes
de uma possível melhora.
De qualquer forma, somos uma nação jovem que tem capacidade e talento
para superar os obstáculos que estão surgindo. O principal fator para
que isso ocorra é mudar o pensamento da sociedade para questões de longo
prazo, como demanda por investimentos em educação de qualidade, por
reformas não populares como a previdenciária e reforma tributária, além
da redução do setor público para fomentar o investimento privado. Assim
como no caso individual, a bonança vem após um período de grande esforço
e frugalidade.
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