terça-feira, 2 de julho de 2013

Manifestações e governo no Brasil

(Gazeta do Povo - 02/07/2013)

As recentes manifestações que ocorreram no país mostram certa insatisfação da população brasileira com nossos governantes. Pela primeira vez desde a eleição do governo Dilma, a oposição sente que tem chances de vencer o governo atual nas eleições de 2014, mesmo considerando que as manifestações vão muito além de uma disputa entre situação e oposição.

O povo brasileiro está cansado de tanta corrupção, desigualdade de renda, serviços públicos precários, sensação de insegurança nas ruas, elevada carga tributária, ineficiência nos gastos públicos e elevação da inflação, além do estilo autoritário e inflexível da presidente. O estranho é pensar sobre as razões que levaram a população às ruas no momento atual, em que a economia apresentou uma significativa evolução em relação aos anos 80 e 90, além de presenciar sensível melhora na renda média e na sua distribuição, nos anos 2000.

A minha impressão é de que, depois de sentir a possibilidade de que o país entraria em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econômico (semelhante à sensação que a população brasileira presenciou nos anos 70), o enfraquecimento econômico e os sinais cada vez mais claros de que ele é resultante de problemas internos deixaram a população transtornada. Mais uma vez, somos apenas o país do futuro.

A contradição nas manifestações é que sempre existe uma demanda que pressiona os gastos públicos como, por exemplo, redução das tarifas e melhora dos sistemas de educação e saúde, além da segurança. No entanto, quase todas as sugestões de especialistas para que se possa colocar a economia novamente em uma rota de crescimento passam por reduções dos gastos do governo.

O governo precisa reduzir os seus gastos como proporção do PIB para: conter a inflação e reverter o novo ciclo de elevação dos juros, o que é essencial para estimular os investimentos; reduzir a dívida pública, o que também favorece os investimentos ao fortalecer os fundamentos econômicos; reduzir a carga tributária, favorecendo a poupança e investimento privados; elevar a poupança do governo, reativando a capacidade de investimentos em infraestrutura, educação e saúde; fazer frente às demandas futuras de elevação dos gastos previdenciários.

Desse modo, é preciso entender que o governo no Brasil já é muito grande e maiores demandas irão redundar em instabilidade econômica e redução do crescimento devido à elevação da dívida pública e da carga tributária futura, além de estimular a inflação pelo aumento da demanda e da pressão em se emitir moeda para fechar as contas públicas. Uma carga tributária mais elevada, com o excesso de burocracia existente, irá sufocar ainda mais o setor privado, gerar novas oportunidades de corrupção e reduzir a capacidade de crescimento no futuro.

Os jovens que estão saindo às ruas precisam se perguntar o que eles podem fazer por essa nação e não somente o que o país pode fazer por eles. Um dos pontos mais importantes para se focar é na educação, trabalho com determinação, além da busca de informações sobre as medidas necessárias para que o país possa encontrar uma rota de crescimento sustentável, com distribuição de renda e respeito aos menos favorecidos e ao meio ambiente.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Automóveis e instituições

(Diário da Manhã - 12/06/2013)


Um dos fatores cruciais na determinação do desenvolvimento de uma economia é qualidade de suas instituições. O arcabouço institucional fornece os mecanismos de incentivos aos agentes econômicos como, por exemplo, a garantia do direito de propriedade que estimula os investimentos produtivos ao propiciar ao indivíduo o retorno de seus investimentos e trabalho.

Um bom exemplo do papel das instituições pode ser encontrado no setor automobilístico. Em uma recente reportagem da agência Associated Press, republicada por vários veículos de comunicação como o The New York Times e Washington Post, pode-se notar que o diferencial de segurança é extraordinário em modelos similares vendidos no Brasil, Estados Unidos e Europa. A menor segurança dos modelos similares vendidos no Brasil também pode ser verificada pelos testes realizados pela Latin NCAP e Euro NCAP, institutos independentes que realizam testes de segurança dos veículos vendidos na América Latina e Europa, respectivamente. Nos testes, por exemplo, a versão do Nissan March produzido no mesmo país, México, e vendido para o Brasil obteve duas estrelas, enquanto que aquela destinada à Europa obteve quatro estrelas, em um máximo de cinco.

Considerando que são as mesmas empresas que produzem e vendem os veículos nas diferentes regiões, é razoável supor que a tecnologia disponível para o processo produtivo é a mesma, ou seja, a qualidade do produto poderia ser a idêntica independentemente onde o veículo é produzido. Então porque a qualidade - em termos de segurança, pelo menos - não é a mesma? A resposta é clara: a qualidade institucional varia nas regiões, sendo que ela é pior no caso brasileiro.

Na reportagem, um engenheiro da indústria automotiva, que não quis se identificar, menciona que em uma versão existe um reforço na estrutura do veículo, enquanto que na outra não. De qualquer forma, os carros que são produzidos e vendidos em nosso mercado estão de acordo com as normas brasileiras de segurança. Desse modo, as empresas do setor do setor automobilístico só estão respondendo aos mecanismos de incentivos diferentes.

Se as leis fossem mais rígidas no quesito segurança, os carros vendidos no mercado brasileiro seriam mais seguros com pouco efeito sobre os custos e preço de venda. Essa é uma questão que o mercado não consegue resolver muito bem, pois as empresas usam os itens de segurança para discriminar preço, ou seja, cobrar mais caro das pessoas que estão dispostas a pagar por um produto com pequenas alterações. Um bom exemplo é que o custo do airbag duplo instalado fica em torno R$ 140,00 para o fabricante, enquanto que o preço cobrado ao consumidor ficava entre R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00, poucos anos atrás. Outro ponto importante é que as pessoas não avaliam muito bem os riscos de um acidente de carro, ou seja, acham que a probabilidade de ocorrência é menor do que realmente é.

Com carros menos seguros, os custos sociais e mesmo estritamente econômicos acabam sendo mais altos. Acidentes deixam pessoas incapacitadas, pressionando a previdência, aumentam os custos nos hospitais pelo maior número de feridos e com maior gravidade nos acidentes, além de retirar a vida de muitas pessoas, com um custo que é difícil de ser mensurado. Ponderando pelo preço que se paga por um automóvel no Brasil, o mínimo que se poderia esperar é um produto de qualidade. Como uma boa parcela do preço é decorrente dos impostos, o governo deveria dar um retorno mais adequado no sentido de fornecer uma legislação mais rígida.

O que esse exemplo ressalta é que a baixa qualidade das instituições faz com que todos percam, pois os custos adicionais para melhorar a segurança são consideravelmente menores do que os custos associados a veículos com reduzida segurança. Analisando que a qualidade das instituições afetam todos os setores produtivos da economia, dá para imaginar que seus efeitos sobre o nível de desenvolvimento de um país são consideráveis.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

“Pibinho” se repete e deixa governo às escuras


A economia brasileira fechou o primeiro trimestre de 2013 com apenas 0,6% de crescimento frente ao trimestre anterior, um resultado bem abaixo das expectativas do mercado, que apostava em algo entre 0,8% e 1%. Isso significa que a recuperação da atividade nacional está mais lenta que o esperado, mesmo com a série de medidas (desonerações, crédito barato para investimentos etc) que o Ministério da Fazenda adotou para estimular a economia.

Na comparação com o ano passado, o avanço foi de 1,9%, sendo que a indústria, em especial, recuou 1,4%. Nesse ritmo é impossível chegar aos 3,5% da meta do governo federal ou mesmo aos 3% antes previstos por boa parte dos analistas.
A faixa confortável daqui para frente, nem muito otimista nem pessimista, é a de 2,5%. No momento, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o país caminha a uma taxa anualizada de 2,2%.
Modelo

O ritmo menor que o esperado no crescimento reflete, segundo os analistas, o esgotamento do modelo de estímulo ao consumo. Pressionadas pela inflação e pelas dívidas, as famílias consumiram apenas 0,1% mais no primeiro trimestre de 2013 em relação ao trimestre imediatamente anterior. A volta da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos e eletrodomésticos e o crédito mais seletivo contribuíram para esse número.
Ainda assim,e na comparação com o 1.º trimestre de 2012, o consumo das famílias subiu 2,1%, a 38.ª alta consecutiva nesta base de comparação.

Erro de diagnóstico
Para o economista Lu­cia­no Nakabashi, professor da USP de Ribeirão Preto, a pressão inflacionária persistente é resultado também de um erro de diagnóstico da equipe econômica, que focou muito em proteger o país da crise externa e pouco – ou de forma atrasada – na resolução de entraves internos: infraestrutura precária; piora do cenário institucional pelo excesso de intervenção do governo no mercado; e carga tributária excessiva somada ao aumento de gastos públicos. “Todos esses efeitos tiveram como consequência uma estagnação ou queda da produtividade da economia e, com um baixo desemprego, medidas adicionais para estimular a demanda começaram a afetar, principalmente, os preços e, desse modo, a inflação”, resume.

Expectativa
O economista Silvio Sa­les, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que a expansão da economia no segundo trimestre de 2013 virá ainda menor que a do primeiro. “De maneira geral, as sondagens do comércio, de serviços e de construção [de abril] têm mostrado, a partir do segundo trimestre, uma tendência declinante na percepção das empresas”, argumentou Sales.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Governo e desenvolvimento no Brasil

(Gazeta do Povo 24/05/2013)

A economia brasileira passa por um momento delicado em que apresenta um baixo nível de crescimento e inflação sistematicamente acima da meta. O fraco desempenho econômico veio após a crise financeira internacional, mas fica cada vez mais evidente que os problemas internos são os principais responsáveis por isso.

O segundo mandato do governo Lula foi um período em que não ocorreram reformas necessárias para manter o crescimento da economia e as políticas econômicas estavam voltadas para problemas de curto prazo, como fazer frente ao turbulento cenário internacional e manter o partido a frente do poder executivo federal. O bom desempenho econômico do segundo mandato do governo Lula foi decorrente, sobretudo, de reformas feitas no governo tucano e no primeiro mandato petista.

A falta de reação da economia brasileira ficou explícita a partir de 2011, quando as demais economias latinoamericanas já apresentavam um processo de recuperação, enquanto a brasileira ainda mostrava um fraco dinamismo.

Mesmo com uma recuperação neste ano devido a uma série de medidas voltadas mais para o curto prazo, como redução dos juros, depreciação da taxa de câmbio, elevado volume de empréstimos ao setor produtivo via bancos públicos e redução de impostos de alguns setores, a previsão realizada pelo FMI é de que o crescimento da economia brasileira deve ficar acima apenas da Argentina e Venezuela no ano corrente, considerando todos os países da América do Sul.

O principal problema da economia brasileira atualmente é a falta de crescimento da produtividade. Esse fato aliado a um baixo desemprego faz com que estímulos econômicos tenham efeitos inflacionários, forçando o Banco Central a entrar novamente em um ciclo de elevação dos juros, o que pressiona a taxa de câmbio e prejudica o setor produtivo.

Por um lado, o governo federal vem adotando uma série de medidas para estimular a economia, elevando seus gastos e pressionando a inflação. Por outro, o efeito é forçar o Banco Central a elevar os juros para reduzir o nível de atividades e controlar a inflação. A elevação dos juros acaba tendo efeitos adicionais sobre as contas públicas.

Portanto, o atual governo deveria ter focado no que ele mesmo vinha enfatizando desde o início do mandato: austeridade fiscal, que além de permitir uma política de juros baixos de forma mais sólida, abriria espaço para maiores investimentos públicos em infraestrutura e também para redução da carga tributária de modo a estimular os investimentos privados.

O setor produtivo brasileiro, principalmente o setor de bens que são comercializados com outros países como, por exemplo, os produtos industrializados, vêm sofrendo duplamente com uma elevada carga tributária e uma infraestrutura deficiente. Cabe ao governo federal, através de reformas e políticas econômicas adequadas, solucionar essas duas restrições ao crescimento da produtividade e ao desenvolvimento da economia brasileira. No entanto, as medidas adotadas nos últimos anos estão indo em direção contrária.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

What is wrong (and right) in economics?

 Segue entrevista com Dany Rodrik. Vale a pena ler e ter uma noção da visão desse grande economista.

1. How would you briefly state your perspective on economics?
I would say I am pretty conventional and mainstream on methods, but generally much more heterodox on policy conclusions. I have never thought of neoclassical economics as a hindrance to an understanding of social and economic problems. To the contrary, I think there are certain habits of mind that come with thinking about the world in mainstream economic terms that are quite useful: you need to state your ideas clearly, you need to ensure they are internally consistent, with clear assumptions and causal links, and you need to be rigorous in your use of empirical evidence.
Now, this does not mean that neoclassical economics has all the answers or that it is all we need. Too often, people who work with mainstream economic tools lack the ambition to ask broad questions and the imagination to go outside the box they are used to working in. But that is true of all “normal science.” Truly great economists use neoclassical methods for leverage, to reach new heights of understanding, not to dumb down our understanding. Economists such as George Akerlof, Paul Krugman, and Joe Stiglitz are some of the names that come to mind who exemplify this tradition. Each of them has questioned conventional wisdom, but from within rather than from outside.
A typical complaint against mainstream economics is that it is too limiting in the conclusions it leads to. Mainstream economists are often seen as ideologues of the market economy. I would concede that most of my economist colleagues tend to view markets as inherently desirable and government intervention as inherently unwelcome. But in reality what we teach our students in the classroom – the advanced students if not the undergraduates –and what we talk about in the seminar room are typically much more about the myriad ways in which markets fail. I love an old quote from Carlos Diaz-Alejandro who once said something along the lines of “by now any graduate student can come up with any policy conclusion he desires by building appropriate assumptions into his model.” And that was some thirty years ago! We have plenty more models that generate unorthodox conclusions now.
One reaction I get when I say this is the following: “how can economics be useful if you have a model for every possible outcome?” Well, the world is complicated, and we understand it by simplifying it. A market behaves differently when there are many sellers than when there are a few. Even when there are a few sellers, the outcomes differ depending on the nature of strategic interactions among them. When we add imperfect information, we get even more possibilities. The best we can do is to understand the structure of behaviour in each one of these cases, and then have an empirical method that helps us apply the right model to the particular context we are interested in. So we have “one economics, many recipes,” as the sub-title of one of my books puts it. Unlike the natural sciences, I think economics advances not by newer models superseding old ones, but through a richer set of models that shed ever-brighter light at the variety of social experience.
However, contemporary economics in North America has one great weakness, and that is the excessive focus on methods at the expense of breadth in terms of social and historical perspective. PhD programs now train applied mathematicians and statisticians rather than real economists. To become a true economist, you need to do all sorts of reading – from history, sociology, and political science among other disciplines – that you are never required to do as a graduate student. The best economists today find a way of filling this gap in their education. I consider myself very lucky that I was a political science major and did a master’s in public affairs (as it is called at Princeton) before I turned to economics. I say lucky, because some of my best work – by my judgement, at least – was stimulated by questions or arguments I encountered outside of neoclassical economics. 

2. How does this compare to the mainstream?
As I said, where I tend to part company with many of my colleagues is with the policy conclusions I reach. Many of my colleagues think of me as excessively dirigiste, or perhaps anti-market. A colleague at Harvard’s Economics Department would greet me by saying “how is the revolution going?” every time he saw me. A peculiar deformation of mainstream economics is the tendency to pooh-pooh the real-world relevance of all the theoretical reasons market fail and government intervention is desirable.
This sometimes reaches comical proportions. You get trade theorists who have built their entire careers on “anomalous” results who are at the same time the greatest defenders of free trade. You get growth and development economists whose stock in trade are models with externalities of all kinds who are stern advocates of the Washington Consensus. When you question these policy conclusions, you typically get a lot of hand-waving. Well, the government is corrupt and in the pockets of rent-seekers. It does not have enough information to undertake the right kinds of interventions anyhow. Somehow, the minds of these analytically sophisticated thinkers turn into mush when they are forced to take seriously the policy implications of their own models.
So ironically, I think my heterodox approach has stronger foundations in mainstream economic methods than the views of many of the mainstream economists themselves. 

3. Do you think that a more pluralist approach might gain traction? What factors constrain and support such a development?
It depends on what you mean by pluralism. Pluralism on methods is much harder, and I will come back to it. Pluralism on policy is already a reality, even within the boundaries of the existing methods, as I indicated. There are healthy debates in the profession today on the minimum wage, fiscal policy, financial regulation, and many other areas too. I think many critics of the economics profession overlook these differences, or view them as the exception rather than the rule. And there are certainly some areas, for example international trade, where economists’ views are much less diverse than public opinion in general. But economics today is not a discipline that is characterized by a whole lot of unanimity.
Now that doesn’t mean that Economics is a pluralist paradise. There are powerful forces having to do with the sociology of the profession and the socialization process that tend to push economists to think alike. Most economists start graduate school not having spent much time thinking about social problems or having studied much else besides math and economics. The incentive and hierarchy systems tend to reward those with the technical skills rather than interesting questions or research agendas. An in-group versus out-group mentality develops rather early on that pits economists against other social scientists. All economists tend to imbue a set of values that tends to glorify the market and demonize public action.
What probably stands out with mainstream economists is their awe of the power of markets and their belief that the market logic will eventually vanquish whatever obstacle is placed on its path. As a result, economists tend to look down on other social scientists, as those distant, less competent cousins who may ask interesting questions sometimes but never get the answers right. Or, if their answers are right, they are so not for the methodologically correct reasons. Even economists who come from different intellectual traditions are typically treated as “not real economists” or “not serious economists.”
So the hurdles for the economists that want to depart from the conventional path are pretty high. Above all, they must play by the methodological rules of the profession. That means using the language of mathematics, the standard optimizing, general-quilibrium frameworks, and the established econometric tools. They must pay their dues and demonstrate they remain card-carrying members in good standing. For those who, like myself, find considerable value in these methodological predilections, these dues are worth paying. I find that these methods keep me intellectually honest; they are a way of convincing myself that I know what I am talking about. My attachment to these methods has not been for instrumental reasons – that is, for acceptance within the mainstream (although it has presumably helped – my intellectual opponents cannot so easily dismiss me by saying “he is not a real economist...”). But I also understand those who find mainstream methods too constraining or unhelpful. I think they offer something of value too, in providing a critique from outside. I often find myself in agreement with those critics on substantive grounds, but find a lot to criticize in their work on methodological grounds.
The criticism of methodological uniformity in Economics can also be taken too far. Surely, the use of mathematical and statistical techniques is not a problem per se. Such techniques simply ensure our arguments are conceptually and empirically coherent. Yes, excessive focus on these techniques, or the use of math just for its own sake, are a problem – but a problem against which there is already a counter-movement from within. In the top journals of the profession, I would say most math-heavy papers are driven by substantive questions rather than methods-driven concerns.
And things change. The two most exciting developments in Economics in the last two decades are the behavioural and experimental revolutions. The first of these has made a significant dent in the rationality postulate of neoclassical economics, while the latter has taken the profession in a profoundly empirical and policy-oriented direction. These are significant changes in how one does mainstream economics, and the fact that they have happened suggests there is room for methodological changes. Not plurality, perhaps, but some degree of evolution in methods. I am not necessarily a great fan of either of these methodological innovations, but they show the profession is able to adapt and change. Note also that both sets of new methods came from outside Economics -- psychology and medicine, respectively. Young economists made these methods their own, and changed the discipline from within.

4. What lessons, if any, have been learned from your experiences challenging the conventional wisdom?
If you want to be successful as a scholar, you have one of two paths. Either you come up with a new technique or piece of evidence to shore up conventional wisdom. Or you challenge the conventional wisdom. The latter is a high risk, high return strategy. It is high risk for all the reasons I have mentioned previously. But it is high return because anything that has turned into conventional wisdom is almost by definition wrong, or at least, overstated. So done right, challenging conventional wisdom is a successful research strategy that is bound to pay off.
In my own case, every piece of conventional wisdom I challenged had already become a caricature of what sounds economics teaches us. I wasn’t doing anything more than reminding my colleagues about standard economic theory and empirics. It was like pushing on an open door. I wasn’t challenging the economics, but the sociology of the profession. For example, when I first began to criticize the Washington Consensus, I thought I was doing the obvious. The simple rules-of-thumb around which the Consensus revolved had no counterpart in serious welfare economics. Neither were they empirically well supported, in view of East Asia’s experience with heterodox economic models. When you questioned supporters closely, you first got some very partial economic arguments as response, and then as a last resort some political hand-waving (e.g., “we need to get the government to stop doing such things, otherwise rent-seeking will be rife…”). My argument was that we should take economics (and political economy) more seriously than simply as rules of thumb. Economics teaches us to think in conditional terms: different remedies are required by different constraints. That way of thinking naturally leads us to a contextual type of policy-making, a diagnostic approach rather than a blueprint, kitchen-sink approach.
Similarly, when I questioned some of the excessive claims on the benefits of globalization I was simply reminding the profession what economics teaches. Take for example the relationship between the gains from trade and the distributive implications of trade. To this day, there is a tendency in the profession to overstate the first while minimizing the second. This makes globalization look a lot better: it’s all net gains and very little distributional costs. Yet look at the basic models of trade theory and comparative advantage we teach in the classroom and you can see that the net gains and the magnitudes of redistribution are directly linked in most of these models. The larger the net gains, the larger the redistribution. After all, the gains in productive efficiency derive from structural change, which is a process that inherently creates gainers (expanding sectors and the factors employed therein) and losers (contracting sectors and the factors employed therein). It is nonsensical to argue that the gains are large while the amount of redistribution is small – at least in the context of the standard models. Moreover, as trade becomes freer, the ratio of redistribution to net gains rises. Ultimately, trying to reap the last few dollars of efficiency gain comes at the “cost” of significant redistribution of income. Again, standard economics.
Saying all this doesn’t necessarily make you very popular right away. I remember well the reception I got when I presented my paper (with Francisco Rodriguez) on the empirics of trade policy and growth. The literature had filled up with extravagant claims about the effect of trade liberalization on economic growth. What we showed in our paper is that the research to date could not support those claims. Neither the theoretical nor empirical literature indicated there is a robust, predictable, and quantitatively large effect of trade liberalization on growth. We were simply stating what any well-trained economist should have known. Nevertheless, the paper was highly controversial. One of my Harvard colleagues asked me in the Q&A session: “why are you doing this?” It was a stunning question. It was as if knowledge of a certain kind was dangerous.
Years earlier, when I wrote my monograph Has Globalization Gone Too Far? I had been surprised at some of the reaction along similar lines. I expected of course that many policy advocates would be hostile. But my arguments were, or so I thought, based solidly on economic theory and reasoning. A distinguished economist wrote back saying “you are giving ammunition to the barbarians.” In other words, I had to exercise self-censorship lest my arguments were used by protectionists! The immediate qestion I had was why this economist thought barbarians were only on one side of the debate. Was he unaware of how, for example, multinational firms hijacked pro-free trade arguments to lobby for agreements – such as intellectual property – that had nothing to do with free trade? Why was it that the “barbarians” on one side of the issue were inherently more dangerous than the “barbarians” on the other side?
But ultimately, the reward of challenging conventional wisdom that has gone too far is that you are eventually proved right. The Washington Consensus is essentially dead, replaced by a much more humble approach that recognizes the importance of locally binding constraints. And many of the arguments I made about the contingent nature of the benefits from trade and financial globalization are much closer to the intellectual mainstream today than they were at the time. I do not think of this as a great achievement. These changes were bound to happen, and I essentially rode the wave.
I suppose there is a lesson here for younger researchers: Identify an intellectual consensus that has gone beyond what the theory and empirics can support and chip away at it. But do so without departing too much from the discipline’s accepted methods!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Déficit brasileiro nas contas externas tende a piorar

Déficit brasileiro nas contas externas tende a piorar

Especialista: crise de 2007/2008 deixa resquícios até hoje

Os números do balanço de pagamento do primeiro trimestre no Brasil deflagraram um déficit de US$ 24,9 bilhões nas contas externas. O principal motivo para essa situação foi o fraco desempenho da balança comercial brasileira, que registrou déficit de US$ 5,2 bilhões no mesmo período. Para especialista e para o próprio Banco Central (BC) a tendência é piorar.

Desde a crise da economia mundial entre 2007 e 2008, a balança comercial brasileira não conseguiu se recuperar. Um dos principais motivos foi a redução de crescimento das principais potências do mundo, que diminuíram seus níveis de importação. Com menos demanda, as vendas de produtos brasileiros para o exterior foram afetadas.

Outro fator que contribui para os números negativos é a sobra de produtos manufaturados. A alta da oferta desses produtos desvalorizou seus preços, piorando as exportações. Nas previsões do Banco Central, o déficit das contas externas deve ser de US$ 67 bilhões no ano, contudo, o BC avalia que a situação não preocupa e alega questões sazonais para os problemas na balança.

Já o professor da Faculdade de Economia da USP/Ribeirão Preto, Luciano Nakabashi, adverte que a questão não é tão confortável. Além dos problemas de remessa de lucros por empresas que tentam compensar os maus resultados e gastos de turistas brasileiros no exterior, há uma questão estrutural que ajuda a dificultar:

"Esse déficit 2,9% do PIB na conta corrente já é elevado. Está acontecendo um fluxo de capitais muito grande, os países procuram um local pra investir e isso aprecia o câmbio no Brasil. Analisando os números dos últimos anos, desde a crise, esse rombo nas contas externas deve se manter", explica.

Para Nakabashi, a alta dos juros é outro fator de risco que pode representar uma piora no futuro. Os juros reais brasileiros ainda são considerados baixos, mas não tanto quanto os da Europa ou dos EUA:

"O dinheiro procura algum lugar para render e hoje existe um excesso de capital e de bens no mercado. Com os juros na Europa e nos EUA em níveis extremamente baixos, é possível apontar que a alta dos juros brasileiros atraia a entrada de moeda estrangeira, pressionando o câmbio no Brasil. Assim, com a valorização do real, é provável que a balança comercial fique ainda mais afetada", pondera o economista. 

Por outro lado, Nakabashi não enxerga outra solução diferente para o governo tentar controlar os preços internos - "O Governo disse que iria controlar os gastos, mas não o fez. Agora precisa aumentar os juros. Não que a inflação esteja em níveis tão alarmantes, mas o BC precisava recuperar sua credibilidade", finaliza.

O mês de abril, que estava superavitário, registrou déficit de US$ 2,27 bilhões, em sua terceira semana. Com isso, o acumulado do ano registra um déficit de US$ 6,489 bilhões.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Mal necessário ou erro estratégico?


Entre a cruz e a espada, ou a inflação e o baixo crescimento. Foi nesse cenário que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, ontem à noite, elevar em 0,25 ponto porcentual a taxa básica de juros. A elevação foi definida por seis votos a dois e motivada, segundo analistas, pela resistência da alta dos preços, que acumulou 6,59% nos últimos 12 meses findos em março, segundo o indicador oficial, o IPCA. 

Outros sinais, como a que­da nas vendas do varejo, ainda em fevereiro, também colaboraram para uma mudança de postura da autoridade monetária.

Ainda em que pequena medida, a decisão pôs fim a um ciclo histórico de baixas. De agosto de 2011 a outubro de 2012, a Selic caiu 5,25 pontos porcentuais e era mantida desde então.
Para o economista e professor da USP de Ribeirão Pre­to, Luciano Nakabashi, a alta da Selic era mesmo o jeito mais eficiente de frear a inflação, visto que o governo não “faz a sua parte” cortando gastos. “Ao elevar os juros, aumenta a atratividade para os bancos comerciais comprarem títulos do governo ao invés de emprestar para o público (pessoas físicas e jurídicas), reduzindo a oferta de crédito e elevando os juros de outras linhas de financiamento”. Para ele, a pequena alta não traz impacto em si, mas inicia um processo de elevação que sim, com o tempo, terá efeito relevante.

Até mesmo um “militante dos juros baixos” como o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, concorda com a elevação da Selic, principalmente como forma de resgatar a credibilidade do Banco Central em relação ao comando da política monetária do país e também de dar o recado certo ao mercado de que, sim, o país vê o combate à inflação como algo prioritário. “No geral, nós temos juros ainda altos, com um cenário futuro de inadimplência em queda e de crescimento maior do país neste ano ante 2012. Mas, diante do IPCA acumulado em março, uma subida, desde que pequena, era um mal necessário”, opina. Segundo as simulações da Anefac, o impacto da elevação deve ser pequeno nas operações ao consumidor (veja no gráfico). 

Perspectivas
O economista e professor associado da Fucape Business School, Cristiano M. Costa, acredita que um novo ciclo de alta, ainda que ameno, agora permitirá juros ainda baixos para 2014. “Se este objetivo de trazer a inflação para o centro da meta for atingido até o fim do ano, o governo pode pensar em reverter o ciclo de alta já no início de 2014, sem comprometer em demasia o crescimento da economia.” No geral, o mercado vê 2013 e 2014 encerrando com taxa a 8,5%.

Poupança segue ganhando dos fundos
Mesmo com a Selic a 7,5%, os rendimentos das cadernetas de poupança continuarão mais interessantes que a maioria dos fundos de renda fixa. Os depósitos antigos – anteriores a maio de 2012, quando as novas regras da poupança entraram em vigor – renderão 6,17% ao ano + TR, e os novos, 5,25% + TR. Na maioria das simulações da Anefac, a poupança sai na frente por ter seu ganho garantido e não sofrer qualquer tributação enquanto os fundos têm o desconto do imposto de renda (quando menor o prazo de resgate, maior o valor do imposto), além da cobrança da taxa de administração cobrada pelos bancos.
A situação só se inverte para fundos com prazo de resgate mais longos (principalmente aqueles acima de 2 anos) e taxas de administração mais baixas (entre 0,5% e 1,5%).
As novas regras da poupança (70% da Selic + TR) serão válidas sempre que a taxa básica de juros for igual ou inferior a 8,5% ao ano.