sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Investimento em educação não é o bastante


Nas últimas décadas, presenciamos um ganho de importância do investimento em educação como uma estratégia para promoção do crescimento e desenvolvimento econômico. Esse fenômeno é decorrente da difusão de teorias que enfatizam o capital humano como peça central nesse processo, além do maior grau de mudanças tecnológicas que elevou o retorno do investimento nesse tipo de capital. No entanto, apesar dessa estratégia ser fundamental para acelerar o crescimento econômico, ela não é suficiente.

Um bom exemplo é a estratégia de investimento em educação adotada por Cuba, onde a sua população ficou à frente, em termos educacionais, de seus pares latino-americanos, com a erradicação do analfabetismo já na década de 1960, mas sem apresentar progresso econômico. A pergunta natural seria: quais as razões para o fracasso econômico do citado país, mesmo com o grande esforço realizado em investimento no setor educacional?

O principal fator para o insucesso econômico de Cuba foi a estrutura de incentivos existentes no país, ou seja, o seu arcabouço institucional. Sendo socialista, os indivíduos não recebem de acordo com seus esforços e produtividades. Desse modo, apesar do maior nível de educação elevar a produtividade de seus cidadãos, o mesmo não ocorre com o seu retorno, como o salário, por exemplo. Adicionalmente, não há incentivos para investimentos produtivos que também elevam o retorno do investimento em educação.

Uma das premissas básicas da economia é que os indivíduos respondem a incentivos. Sendo assim, quando os incentivos não são adequados, as pessoas não se esforçam e, como consequência, a produtividade é muito baixa. Por isso a ênfase existente, por parte de alguns economistas e analistas econômicos, na elaboração de regras claras e estáveis para estimular os investimentos, com intervenção governamental somente onde existem falhas de mercado. Quando o ambiente é propício, ou seja, quando os indivíduos recebem pelos seus esforços, as regras são claras e os agentes que não obedecem às regras são punidos, os empresários investem em capital produtivo, aumentando a demanda por trabalho qualificado, e os trabalhadores se tornam mais propensos a investir em educação.

Em outras palavras, não adianta educar toda a população, mesmo que o sistema educacional seja de qualidade e gratuito, se não há estímulos para que os trabalhadores se esforcem e para que ocorram investimentos produtivos de modo a gerar demanda por trabalhadores qualificados. Nesse caso, o trabalho qualificado se tornaria ocioso em um mundo onde recursos produtivos são escassos e muito demandados em economias de mercado. Cuba, novamente, serve como um bom exemplo. Parte de seus médicos veio para o Brasil devido a certa ociosidade de uma mão de obra muito qualificada e com alta demanda em qualquer país onde o mercado funcione razoavelmente. Para o Brasil, esse é um fenômeno positivo ao atrair um investimento já realizado que é caro e leva tempo para se concluir, além de trazer imigrantes, o que costuma ser positivo no processo de evolução cultural, mas para Cuba...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Eleições, Copa e mais do mesmo na economia


Estimativas e declarações de economistas e membros do governo levam a crer que: 1) o crescimento econômico deve continuar abaixo de 3%; 2) a inflação tende a ficar novamente mais perto do teto que do centro da meta; 3) o desemprego pode até subir um pouco, mas sem assustar; 4) a retirada gradual de estímulos à economia norte-americana deve elevar a cotação do dólar, ajudando as exportações mas afetando os preços no Brasil; e 5) embora prometa mais cuidado com suas contas, o governo de Dilma Rousseff não vai mudar a rota da política fiscal justamente no ano em que busca a reeleição.
Se essas hipóteses se confirmarem, não haverá um desastre econômico ou social, mas tampouco será interrompida a lenta – porém contínua – deterioração dos fundamentos da economia, observada de 2010 para cá. Em algum momento o rumo terá de ser corrigido, independentemente de quem se eleger em 2014. E, quanto mais tardia, mais traumática tende a ser essa correção.

“A dívida pública está crescendo, o país depende cada vez mais de poupança externa, a inflação está sempre próxima do teto da meta, e tudo isso em meio a um fraco desempenho econômico. Uma vez que os fundamentos estão ruins mas não catastróficos, dá para segurar mais um tempo. É o que o governo provavelmente fará neste ano”, diz Luciano Nakabashi, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da USP de Ribeirão Preto.

Para muitos economistas, inclusive antigos aliados do Planalto, essa conjunção de fatores negativos decorre principalmente de erros do governo – que, entusiasmado com o sucesso das medidas de combate à crise internacional, se habituou a promover o consumo, com desonerações e quedas nas taxas de juros. “Deveria ter parado com essa política lá atrás e se concentrado no estímulo à oferta, ao investimento, ao aumento da produtividade, sem o que não há crescimento sustentável”, diz Nakabashi.

O suposto descontrole da política fiscal é o principal alvo dos críticos do governo, mas há quem veja exagero na avaliação. “É desejável que o governo cumpra sua meta de superávit primário [economia para pagar os juros da dívida]”, diz. “Mas é preciso lembrar que, se não fossem os pouco mais de R$ 70 bilhões em desonerações de impostos para estimular a economia, o superávit de 2013 teria sido bem maior”, diz João Ildebrando Bocchi, professor da PUC-SP e coautor do livro Economia Brasileira.

Embora descarte a hipótese de um forte crescimento do PIB, Bocchi vê razões para otimismo. “Teremos em 2014 o início dos investimentos nas concessões leiloadas em 2013. Poderemos ter um crescimento econômico um pouco melhor, a inflação um pouco mais baixa e um resultado fiscal não surpreendente, mas ao menos mais confiável que o de 2013.”

Temor
“Tempestade perfeita” faria o dólar disparar
Alguns investidores e economistas temem em 2014 o que apelidaram de “tempestade perfeita” – a combinação de um rebaixamento da classificação de risco do país, provocada pela piora nas contas públicas, com o fim do programa de estímulos do banco central norte-americano, o Fed. Isoladamente, cada um desses eventos já seria capaz de empurrar o dólar para cima, pressionando a inflação e forçando o Banco Central brasileiro a elevar a taxa de juros; juntos, fariam estrago maior.
Mas, para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a hipótese de uma tormenta dessas é frágil. “A política fiscal ficou mais frouxa porque o governo estava buscando incentivar a economia. Acho que ele estará mais atento, o que deve evitar um rebaixamento”, diz. “E o Fed deve retirar seus estímulos de forma gradual, evitando uma disparada do dólar.”

A ação do Fed parece mesmo caminhar nessa direção. Por outro lado, uma das agências de risco (a S&P) avisou recentemente que pode cortar a nota do Brasil antes mesmo das eleições.

Farol desregulado
Previsões econômicas (tanto as do ministro da Fazenda quanto as feitas por gente do mercado, da academia ou do setor produtivo) não são conhecidas por sua precisão. Não é raro que a comparação entre projeções e resultados efetivos renda algum constrangimento – o mercado financeiro, por exemplo, superestimou o resultado do PIB nos últimos três anos. Ainda assim, as expectativas acabam servindo de farol para as decisões dos “agentes econômicos” (trabalhadores, empresários, investidores, governantes).

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Perspectivas para 2014


No ano que terminou, os resultados econômicos não foram positivos: presenciamos uma elevação na dívida pública; considerável aumento nos déficits das contas externas; inflação próxima do teto da meta; retomada do ciclo de alta da taxa de juros; e, o pior, baixo crescimento econômico.

Este ano é eleitoral e, desse modo, é muito provável que o governo conserve a estratégia de estímulo aos gastos para, ao menos, manter baixa a taxa de desemprego. Esse é o último trunfo econômico que resta e seria um risco muito elevado para a estratégia de manutenção do Poder Executivo federal caso essa taxa começasse a subir.

Mesmo com os prováveis estímulos à demanda, a economia não apresentará um bom desempenho, pois os problemas que ela enfrenta são de oferta, como baixas taxas de produtividade e de investimento. Assim, teremos mais um ano de fraco desempenho econômico e com reduzido desemprego.

O problema é que estímulos à demanda irão se traduzir em maior dívida pública e manutenção dos juros elevados para manter a inflação dentro da meta, o que pressiona ainda mais as contas do governo, gerando instabilidade e reduzindo os investimentos. Cabe lembrar que, historicamente, a Previdência é um elemento adicional que vem pressionando o déficit orçamentário. Por outro lado, apesar da recente depreciação da taxa de câmbio, não há sinais de redução nos déficits nas contas externas brasileiras, o que também eleva a fragilidade macroeconômica pela dependência crescente de poupança externa.

Na ausência de reformas relevantes para controlar a dívida interna e aumentar a competitividade das empresas brasileiras, o que iremos presenciar é a piora nos fundamentos da economia ao longo de 2014, como já vem ocorrendo nos últimos anos, com impactos negativos nos próximos anos.

Já estamos pagando a conta da falta de uma agenda consistente e relevante de reformas desde o segundo mandato Lula até os dias atuais, sendo que o sinal mais claro é o baixo crescimento econômico dos últimos anos, que tem raízes muito mais em problemas internos que externos. Mesmo com uma possível melhora no cenário externo, a tendência de deterioração dos já fracos fundamentos da economia brasileira não permitirá uma retomada do crescimento nos próximos anos.

Seja quem for o presidente eleito em 2014 e qual a sua equipe econômica, em 2015 sentiremos com mais intensidade os efeitos dos erros cometidos. Adicionalmente, a necessidade de ajustes para colocar a economia novamente no rumo aumentará a tendência de desaceleração econômica. Assim, passaremos por momentos econômicos mais difíceis antes de uma possível melhora.

De qualquer forma, somos uma nação jovem que tem capacidade e talento para superar os obstáculos que estão surgindo. O principal fator para que isso ocorra é mudar o pensamento da sociedade para questões de longo prazo, como demanda por investimentos em educação de qualidade, por reformas não populares como a previdenciária e reforma tributária, além da redução do setor público para fomentar o investimento privado. Assim como no caso individual, a bonança vem após um período de grande esforço e frugalidade.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Melhorando a qualidade do sistema educacional

(Diário da Manhã - 25/12/13)

Temos presenciado, recentemente, um debate sobre a quantidade de recursos destinados ao sistema educacional brasileiro. A meta traçada foi a de alcançar um nível de gastos equivalentes a 10% do PIB na educação. Os resultados do PISA, exame promovido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para avaliar o desempenho dos alunos de 15 anos em matemática, ciências e leitura, mostram que aperfeiçoar o nosso sistema educacional é, de fato, essencial, visto o nosso fraco desempenho: dos 65 países avaliados, ficamos na 58a posição, abaixo de países latino-americanos como Chile, México, Uruguai e Costa Rica.

A melhora do nível educacional é fundamental para que o país acelere sua taxa de crescimento, pois pessoas mais capacitadas exercem suas atividades laborais de maneira mais eficiente, promovem a adoção e inovação de produtos e processos de produção, permitem o surgimento de segmentos industriais e do setor de serviços mais dinâmicos tecnologicamente, além de serem mais conscientes politicamente, o que é decisivo para colocar governantes mais preparados no poder e, desse modo, aprimorar as políticas econômicas e sociais. Adicionalmente, avançar na qualidade dos diferentes níveis educacionais é o principal fator para gerar novas oportunidades de trabalho da população menos favorecida e, assim, reduzir a má distribuição de renda.

No entanto, o debate sobre a proporção dos gastos no PIB destinados ao setor educacional ocorreu de forma muito superficial, pois a quantidade de gastos não reflete, necessariamente, melhoras no mesmo. Adicionalmente, é preciso pensar na origem dos recursos, pois dependendo de onde eles serão retirados, o saldo de tais políticas pode ser o oposto do esperado.

Antes de qualquer coisa, o debate deveria ter focado nas medidas necessárias para aperfeiçoar o sistema educacional. Para atingir esse objetivo, é preciso pensar em como atrair bons professores para os níveis de ensino público pré-escolar, fundamental e médio, ou seja, focalizar na melhora das condições de trabalho e de salário em relação às atividades que exigem o mesmo nível de titulação, ou seja, é crucial valorizar o profissional da educação. Não é possível formar bons alunos sem a presença de um corpo docente com boa qualificação e motivado. Adicionalmente, é preciso elaborar mecanismos de incentivo que estimulem o esforço dos profissionais da educação, sejam os professores ou os responsáveis pela administração das escolas, como um plano de cargos e salários compatíveis com a formação e desempenho de cada profissional, prêmios por desempenho para os profissionais da educação e escola, entre outros. A associação entre total isonomia salarial e estabilidade no emprego é o principal motivo que reduz a eficiência dos servidores desse sistema.

Também é preciso dar todo o suporte para que os alunos sejam estimulados a estudar sem criar pressões para aumentar a taxa de evasão. Aulas de reforço e acompanhamento psicológico para alunos com dificuldade e provenientes de famílias desestruturadas, além da elevação da carga horária são elementos importantes nessa discussão. Em suma, é preciso adotar medidas que atraiam bons profissionais e que estimulem o bom desempenho daqueles que já estão e estarão empregados no sistema educacional, sem esquecer que tais incentivos precisam ser adotados por um longo período de tempo antes que avaliações decisivas dos seus resultados possam ser realizadas.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Cavando a própria cova

(Folha Online - 11/12/13)

Atualmente, é difícil negar que os problemas econômicos enfrentados pelo país são, em grande medida, consequências das decisões tomadas pela sua equipe econômica. Nos anos do governo Dilma, o crescimento da economia brasileira tem ficado sistematicamente abaixo dos demais países da América Latina. Para 2013, de acordo com as estimativas da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e Caribe (CEPAL), o Paraguai apresentaria a maior taxa de crescimento com um aumento do PIB em 12,5%, seguido por Panamá (7,5%), Peru (5,9%), Bolívia (5,5%), Nicarágua (5,0%) e o Chile (4,6%). A Argentina cresceria 3,5%, o México 2,8% e o Brasil 2,5%. A média para os países da América do Sul seria de 3,1%.

A estratégia de estimular a demanda, mesmo após certa estabilização do cenário internacional, mostrou-se ser um grande erro de diagnóstico. Apesar do baixo crescimento da economia brasileira nos anos Dilma, o desemprego tem permanecido em patamares muito baixos. Desse modo, estímulos à demanda têm pressionado os preços e as importações, deteriorando tanto as contas públicas quanto as contas externas brasileiras. Para controlar as pressões inflacionárias, o Banco Central se viu obrigado a entrar, novamente, em um ciclo de elevação das taxas de juros, o que provoca pressões adicionais nas contas públicas.

Em outras palavras, o erro de diagnóstico gerou mais problemas que vêm aumentando a fragilidade macroeconômica do país, além da elevação dos juros, tendo como consequência a redução do nível de investimentos, o que ajuda a manter a taxa de crescimento do PIB em níveis módicos. Adicionalmente, os estímulos à demanda provocaram uma elevação dos salários e dos preços no setor de serviços, de uma forma geral, provocando pressões salariais na indústria e, portanto, perda de competitividade, o que prejudica o desempenho da economia visto a importância desse setor em termos de dinamismo e produtividade.

Para controlar a inflação, além dos juros, a equipe econômica tem adotado várias medidas não convencionais, como controle dos preços administrados, redução da tarifa de energia, controle do preço dos combustíveis, entre outros, o que gera incerteza do ponto de vista institucional, piora o balanço de empresas e, desse modo, restringe a quantidade de investimento e a capacidade de oferta no médio prazo. 

O baixo crescimento da economia brasileira é decorrente de fatores de oferta e não de demanda. Os problemas de infraestrutura, baixos investimentos, escolaridade deficiente dos trabalhadores e produtividade estagnada explicam o fraco desempenho econômico brasileiro, além da piora nas contas públicas que decorrem também do aumento automático dos gastos como proporção do PIB devido às pressões do sistema previdenciário. 

Os gestores de política econômica precisam focar nos problemas de oferta apontados acima para que o país possa entrar em uma trajetória de crescimento sustentável. No entanto, pela teimosia na manutenção das mesmas políticas econômicas e pelo fato de estarmos entrando em um ano eleitoral, a tendência é que os fundamentos do país piorem ainda mais, e que, a partir de 2015, o crescimento econômico que já é pífio se torne ainda pior.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O governo Dilma e a privatização

(Gazeta do Povo - 04/12/13)

Presenciamos, há poucas semanas, a terceira rodada de concessões de aeroportos brasileiros. Ela garantiu uma arrecadação total de R$ 20,8 bilhões para o governo federal. Enquanto o aeroporto do Galeão (Rio de Janeiro) foi arrematado por R$ 19 bilhões, o de Confins (Belo Horizonte) foi arrematado por R$ 1,82 bilhão. Esses recursos não significam entrada líquida para o governo federal, pois, como enfatizado por Mansueto Almeida, economista e técnico do Ipea, o valor total arrecadado ingressará nos cofres públicos ao longo de mais de duas décadas (25 para o Galeão e 30 anos para Confins). Em segundo lugar, como a Infraero será sócia do consórcio vencedor com 49% de participação, ela precisará arcar com parcela dos investimentos com aporte de recursos do governo federal. Em terceiro lugar, a receita adquirida com as concessões será anulada com programas novos do governo de custo elevado que não existiam antes.

De qualquer forma, podemos considerar que essa terceira rodada foi um sucesso pela atração de grupos concorrentes e consequente ágio de quase 300% em relação ao preço mínimo do leilão. Mais ainda, reflete o pragmatismo tardio do governo federal em reconhecer a importância do setor privado na realização de investimentos em infraestrutura e na elaboração de regras de concessão que também sejam favoráveis ao investidor. Não há como querer atrair o capital privado quando existem alternativas mais atraentes que os leilões realizados pelo governo federal.

A participação do capital privado na realização de investimentos em infraestrutura é crucial, dada a reduzida capacidade de investimentos nas diferentes esferas de governo, além da já elevada carga tributária. Elevações adicionais da carga tributária para incrementar o investimento público em infraestrutura devem ser mais que compensadas pela redução do investimento privado total, pois mais impostos sufocam a já difícil situação do empresariado brasileiro.

Para amenizar e transpor os gargalos existentes na infraestrutura de energia e transportes, o governo federal terá de aprofundar essa trajetória de privatizações e criar as condições necessárias para a atração de capital privado nacional e estrangeiro. Já passou o momento de deixar ideologias ultrapassadas para trás e de reconhecer a importância dos investidores privados na manutenção e elevação dos investimentos necessários para o crescimento da economia brasileira.

No entanto, o governo ainda precisa perceber a importância da estabilidade das regras, da transparência e do funcionamento dos mercados para a atração do capital privado em maior escala para alavancar os investimentos, sobretudo do capital externo, pela falta de poupança pública. Não adianta apenas perceber o papel crucial do investimento privado no processo de crescimento se há interferências constantes do governo no mercado para controlar a inflação de forma heterodoxa, se há falta de transparência nas regras e na disponibilidade de informações básicas como, por exemplo, o superávit primário, além de quebras de contrato. O governo federal precisa ser um bom juiz e confiar nos jogadores para que eles possam exercer seus respectivos papéis.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Investimento em capital humano

(Gazeta do Povo - 14/11/13)

A história brasileira destaca que, no século passado, a grande estratégia de crescimento foi baseada no crescimento do estoque de capital físico via industrialização por substituição de importações. Em alguns períodos, tal estratégia se mostrou bem-sucedida, sobretudo no fim dos anos 60 e durante os 70, quando a economia alcançou taxas de crescimento semelhantes às atuais chinesas.

No entanto, ocorreu uma grande negligência no investimento em capital humano devido, parcialmente, a uma falta de conhecimento da importância desse fator no crescimento e desenvolvimento econômico por parte dos principais gestores de política econômica e dos políticos naquele período. As teorias do capital humano começaram a ser desenvolvidas no fim dos anos 50 e início dos 60 em universidades norte-americanas proeminentes como, por exemplo, a Universidade de Chicago. No entanto, grandes pensadores econômicos já tinham mencionado a importância desse fator em períodos anteriores, como Adam Smith.

A noção de que uma estratégia de industrialização via substituição de importações seria o suficiente para levar o Brasil ao nível dos países desenvolvidos se mostrou incorreta. Em estágios anteriores, quando ocorreu a industrialização de países que já eram desenvolvidos em 1950, como Estados Unidos e Inglaterra, o papel do capital humano não era tão relevante porque a maior parte das atividades laborais e gerenciais não exigia grande nível de escolaridade formal. No entanto, quando o país adotou sua estratégia de crescimento, o capital humano tinha um papel mais relevante pela maior complexidade dos processos produtivos do período, pelo maior grau de fluxos de informação existente e pelas mudanças econômicas e tecnológicas que aconteciam de forma mais acelerada.

O capital humano já era um fator mais importante e complementar ao capital físico. Se tivessem ocorrido maiores investimentos no primeiro, a consequência seria um maior retorno do investimento no segundo, levando a um crescimento relevante no estoque de capital físico. Em outras palavras, mesmo para elevar esse fator de produção, o mais importante teria sido realizar investimentos em capital humano.

Atualmente, existe no Brasil uma maior consciência da importância desse fator de produção no processo de crescimento e desenvolvimento econômico por parte dos gestores de políticas econômicas, dos políticos e da população em geral. No entanto, uma das falhas está em obter um diagnóstico bem elaborado sobre os principais determinantes da qualidade do sistema educacional. Existem vários analistas e pesquisadores nacionais e estrangeiros que estão analisando esse tema e estudos financiados por parte do governo ajudariam a entender melhor essa questão em nossa realidade.

Isso vem sendo feito a passos muito lentos quando comparado a medidas e discussões de elevação dos gastos do governo em educação como proporção do PIB sem ter uma boa noção de onde e como esses recursos podem ser aplicados. O que parece é que estamos colocando novamente o carro na frente dos bois por um pensamento de curto prazo, característico da sociedade brasileira, que se reflete em uma falta de planejamento estratégico. Não adianta apenas elevar os gastos em educação; é preciso, sobretudo, de planejamento e estratégias de longo prazo para alavancar o crescimento econômico e gerar um maior grau de desenvolvimento.