15/09/2012
REVISTA EXAME PME |
Para
Paul Romer, professor da Universidade de Nova York que revolucionou os
estudos sobre crescimento econômico, o governo brasileiro deveria imitar o da
China na área da educação
EDUARDO
SALGADO
ANTES
DE FINALMENTE RECEBER o prêmio Nobel de Economia, os candidatos agraciados
com a honraria costumam aparecer na lista dos possíveis vencedores por vários
anos. Há mais de uma década, esse tem sido o caso de Paul Romer, que
trabalhou 15 anos na Universidade Stanford antes de se transferir para a
Universidade de Nova York em 2011. Sua maior contribuição foi na área do
crescimento econômico. Com modelos matemáticos, Romer conseguiu comprovar o
importante papel dos avanços da tecnologia na expansão sustentada do PIB.
Antes dele, vários economistas reconheciam que as inovações tecnológicas
tinham uma participação no crescimento, mas não conseguiam incorporar esse
dado à teoria econômica. Foi Romer, um dos palestrantes do Fórum EXAME, em 14
de setembro, em São Paulo, quem acrescentou a variável "ideias" à
receita composta de capital e trabalho. Da Suécia, onde foi participar de um
simpósio da Fundação Nobel sobre crescimento, Romer concedeu a seguinte
entrevista a EXAME.
Quais são os
fatores mais importantes para o crescimento econômico?
Essa
é uma área em que é difícil tirar muitas conclusões que valem para todos os
tipos de países. Ainda assim, a análise dos dados nos dá algumas lições
valiosas. Quando olhamos para trás e comparamos o desempenho econômico de 50
países e um grande número de variáveis, o que salta aos olhos é o poder da
educação. Países com jovens que tiram boas notas nos testes internacionais,
como os da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, têm bom
desempenho econômico. É quase uma garantia. Essa correlação entre bons
resultados nos testes internacionais e crescimento é, na verdade, uma ótima
notícia para as pessoas que estão em cargos importantes dos governos.
Por quê?
Porque
dão um objetivo bastante claro e executável. A meta é organizar as escolas
para que os alunos saibam o que será exigido deles. Montar um plano desses e
colocá-lo em prática é um bom teste para o país como um todo. De certa forma,
isso funciona como um termômetro da capacidade de um governo mobilizar a
população, montar um cronograma, se organizar e atingir objetivos. Quando
funciona, setores de toda a sociedade são beneficiados. Não estou falando de
coisas mais óbvias, como a melhora da mão de obra. Um sistema educacional
caótico, sem ordem e respeito a regras não leva ninguém a lugar nenhum.
Quando esse sistema é reformado para a conquista de um objetivo, acaba tendo
efeitos nas famílias e em lugares além dos muros das escolas. A sociedade
como um todo fica mais organizada e previsível.
Qual é o desempenho
do Brasil nesse ponto?
O
Brasil, como a maior parte dos países latino-americanos, tem falhado em temas
relacionados à educação. Mas o país se destaca num segundo aspecto que é
crucial para o crescimento econômico. Falo do percentual da população
economicamente ativa que está empregada - principalmente no setor formal.
Isso é importante porque o local de trabalho é uma grande fonte de
conhecimento para os trabalhadores. E lá que muitos aprendem novas
habilidades e se desenvolvem. Nesse sentido, o trabalho funciona como a
continuação da escola.
No Brasil, a
educação já foi diagnosticada como crucial para o crescimento. A pergunta é:
como melhorá-la?
Um
dos problemas mais comuns dos governos é olhar para o indicador errado. Suas
taxas de matriculas podem ser altas, os anos de escolaridade dos jovens podem
ser elevados, o percentual de pessoas nas universidades também. Mas não é
isso o que mais importa. O foco deve estar no que é medido nos testes
internacionais. É esse ponto, segundo as pesquisas, que garante o crescimento
econômico. Fora isso, as decisões governamentais para a área da educação
precisam ser todas embasadas em dados objetivos. E preciso parar de medir o
esforço e passar a medir apenas os resultados das políticas públicas. Não
importa tanto a energia e o dinheiro que estão sendo aplicados, mas se os
objetivos estão sendo ou não atingidos. Pelo menos é isso o que apontam as
análises que buscam desvendar os fatores detonadores do crescimento.
Quais os países que
poderiam servir de modelo ao Brasil?
Os
avanços de Singapura na área da educação nas últimas décadas foram
fantásticos. Também impressionaram os resultados dos jovens da cidade chinesa
de Xangai nos últimos testes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico. E verdade que se trata de apenas uma cidade. Sempre alguém irá
argumentar que os resultados de Xangai não retratam a situação da educação na
China como um todo. Mas é fato que os chineses conseguiram colocar Xangai no
topo do ranking das melhores notas. E a educação no restante do país também
tem melhorado. Por tudo isso, a China deveria servir de modelo para o Brasil.
E uma prova de que um país pobre pode se organizar para oferecer uma boa
educação. Por que o Brasil não consegue dar uma educação como a de Xangai para
os jovens de nenhuma grande capital? Por que os estudantes de todo o país não
obtém bons resultados nos testes internacionais? Os jovens brasileiros são
tão espertos quanto os chineses. Se o governo focasse nesse objetivo. tenho
certeza de que o resultado seria muito melhor. Está na hora de o Brasil
aumentar sua ambição. Muitos países não avançam por acreditar que é
impossível mudar. São vítimas da complacência. Nesse sentido, a China tem
sido importante, tem acordado vários lideres no mundo em desenvolvimento.
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"Os jovens
brasileiros são tão espertos quanto os chineses. Por que não vão bem na
escola? Falta o governo brasileiro fazer sua parte"
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sábado, 15 de setembro de 2012
Entrevista Paul Romer para a Exame - Qualidade do Capital Humano
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