quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Medidas para acelerar o crescimento (com Rudinei Toneto Júnior e Guilherme Byrro Lopes)



Medidas para acelerar o crescimento
 (saiu na Gazeta do Povo - http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1296375&tit=Medidas-para-acelerar-o-crescimento)

Desde o início dos anos 1980 não existe uma estratégia clara de crescimento para a economia brasileira. Nos anos 1980, os distintos governos sofreram com a estratégia de crescimento anterior que resultou em acúmulo de dívida externa, piora na distribuição de renda, fechamento dos mercados e aceleração inflacionária, enquanto que nos anos 1990 ocorreu uma grande preocupação em acabar com o problema da inflação alta, aplicar medidas sociais que resultasse em uma melhora na distribuição de renda, em elevar a competitividade e reduzir a fragilidade externa. Já nos anos 2000, com a “casa em ordem”, a economia brasileira pôde aproveitar melhor as oportunidades que surgiram. No entanto, não foi arquitetada uma estratégia clara de crescimento sustentável. Isso ajuda a explicar, em parte, a forte desaceleração recente do crescimento brasileiro em decorrência da piora no cenário internacional.
No período 1960-80, a economia cresceu a taxas elevadas e as estratégias para estimular o crescimento eram evidentes, com o crescimento médio do PIB brasileiro na ordem de 7,45% a.a. e o do PIB per capita em 4,66% a.a.. Deve-se destacar as maiores taxas de crescimento alcançadas no período 1968/80 que pode ser decomposto entre a fase do Milagre Econômico Brasileiro (1968/73) e a fase de implantação do II Plano Nacional de Desenvolvimento (IIPND – 1974/79). Nesse período, verificaram-se alguns fatos marcantes: 1) forte ampliação da participação da indústria de transformação; 2) elevação significativa das taxas de investimento com grande importância do investimento público, em especial nos setores de infraestrutura (transportes, energia, telecomunicações, saneamento básico, entre outros); 3) ganhos de competitividade da indústria nacional com aumento da participação de manufaturados na pauta exportadora e diversificação das exportações; 4) crescimento do sistema financeiro e do processo de intermediação de recursos após a consolidação do sistema financeiro, criação do Sistema Financeiro da Habitação, bancos de investimento, crédito ao consumidor e fortalecimento do BNDES; 5) criação e fortalecimento de instituições voltadas para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico: Embrapa, FINEP, sistema de pós-graduação, Centro Tecnológico Aeroespacial, entre outros; 6) forte ampliação do emprego e aumento da PEA em função do processo de urbanização.
Essas medidas resultaram em uma forte aceleração do investimento produtivo e significativa elevação da produtividade. Para que a economia volte a apresentar desempenho semelhante, uma condição necessária é que o governo retome uma estratégia de crescimento que seja clara e objetiva. Essa estratégia precisa ter como base: 1) reformas no sistema previdenciário, redução na taxa de juros e controle dos gastos públicos de forma que eles cresçam menos do que o PIB para elevar a capacidade de investimento público, sobretudo em infraestrutura; 2) reformas no sistema tributário, reduções da dívida pública e da carga tributária para estimular o investimento privado – inclusive em infraestrutura – e transferência de tecnologia; 3) melhora na qualidade do sistema educacional, principalmente nos níveis fundamental e médio, investimento em cursos técnicos e nos cursos superiores voltados à parte de exatas e biológicas, com um foco para elevar a produção e absorção de tecnologia.
Em suma, o país precisa adotar medidas que estimulem o investimento ao invés do consumo e focar no aumento da produtividade, sem esquecer o investimento em capital humano que serve para estimular a própria produtividade e melhorar a distribuição de renda.
Rudinei Toneto Júnior é doutor em economia, professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP e pesquisador do CNPQ.
Guilherme Byrro Lopes é economista e mestrando em Economia Aplicada pelo Departamento de Economia da FEA-RP/USP.
Luciano Nakabashi é doutor em economia, professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP e pesquisador do CNPQ.

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