Medidas
para acelerar o crescimento
(saiu na Gazeta do Povo - http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1296375&tit=Medidas-para-acelerar-o-crescimento)
Desde
o início dos anos 1980 não existe uma estratégia clara de crescimento para a
economia brasileira. Nos anos 1980, os distintos governos sofreram com a
estratégia de crescimento anterior que resultou em acúmulo de dívida externa,
piora na distribuição de renda, fechamento dos mercados e aceleração
inflacionária, enquanto que nos anos 1990 ocorreu uma grande preocupação em
acabar com o problema da inflação alta, aplicar medidas sociais que resultasse
em uma melhora na distribuição de renda, em elevar a competitividade e reduzir
a fragilidade externa. Já nos anos 2000, com a “casa em ordem”, a economia
brasileira pôde aproveitar melhor as oportunidades que surgiram. No entanto,
não foi arquitetada uma estratégia clara de crescimento sustentável. Isso ajuda
a explicar, em parte, a forte desaceleração recente do crescimento brasileiro
em decorrência da piora no cenário internacional.
No
período 1960-80, a economia cresceu a taxas elevadas e as estratégias para
estimular o crescimento eram evidentes, com o crescimento médio do PIB
brasileiro na ordem de 7,45% a.a. e o do PIB per capita em 4,66% a.a.. Deve-se
destacar as maiores taxas de crescimento alcançadas no período 1968/80 que pode
ser decomposto entre a fase do Milagre Econômico Brasileiro (1968/73) e a fase
de implantação do II Plano Nacional de Desenvolvimento (IIPND – 1974/79). Nesse
período, verificaram-se alguns fatos marcantes: 1) forte ampliação da
participação da indústria de transformação; 2) elevação significativa das taxas
de investimento com grande importância do investimento público, em especial nos
setores de infraestrutura (transportes, energia, telecomunicações, saneamento
básico, entre outros); 3) ganhos de competitividade da indústria nacional com
aumento da participação de manufaturados na pauta exportadora e diversificação
das exportações; 4) crescimento do sistema financeiro e do processo de
intermediação de recursos após a consolidação do sistema financeiro, criação do
Sistema Financeiro da Habitação, bancos de investimento, crédito ao consumidor
e fortalecimento do BNDES; 5) criação e fortalecimento de instituições voltadas
para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico: Embrapa, FINEP, sistema de
pós-graduação, Centro Tecnológico Aeroespacial, entre outros; 6) forte
ampliação do emprego e aumento da PEA em função do processo de urbanização.
Essas
medidas resultaram em uma forte aceleração do investimento produtivo e
significativa elevação da produtividade. Para que a economia volte a apresentar
desempenho semelhante, uma condição necessária é que o governo retome uma
estratégia de crescimento que seja clara e objetiva. Essa estratégia precisa
ter como base: 1) reformas no sistema previdenciário, redução na taxa de juros
e controle dos gastos públicos de forma que eles cresçam menos do que o PIB
para elevar a capacidade de investimento público, sobretudo em infraestrutura;
2) reformas no sistema tributário, reduções da dívida pública e da carga
tributária para estimular o investimento privado – inclusive em infraestrutura
– e transferência de tecnologia; 3) melhora na qualidade do sistema
educacional, principalmente nos níveis fundamental e médio, investimento em
cursos técnicos e nos cursos superiores voltados à parte de exatas e biológicas,
com um foco para elevar a produção e absorção de tecnologia.
Em
suma, o país precisa adotar medidas que estimulem o investimento ao invés do
consumo e focar no aumento da produtividade, sem esquecer o investimento em
capital humano que serve para estimular a própria produtividade e melhorar a
distribuição de renda.
Rudinei
Toneto Júnior é doutor em economia, professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP
e pesquisador do CNPQ.
Guilherme
Byrro Lopes é economista e mestrando em Economia Aplicada pelo Departamento de
Economia da FEA-RP/USP.
Luciano
Nakabashi é doutor em economia, professor do Departamento de Economia da FEA-RP/USP
e pesquisador do CNPQ.
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